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São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Para Paris e Berlim, projeto americano está longe do desejado; Pequim e Moscou admitem discutir resolução

França e Alemanha atacam proposta dos EUA

Michael Urban/France Presse
O chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, e o presidente da França, Jacques Chirac, brindam em Dresden, leste da Alemanha


ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

A nova proposta americana para o Iraque foi bombardeada pelos governos da França e da Alemanha já no segundo dia de negociações sobre a resolução no Conselho de Segurança da ONU.
As críticas foram feitas pelo presidente francês, Jacques Chirac, e pelo chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder.
"Estamos prontos para examinar as propostas, mas elas parecem estar longe do que nos parece ser o primeiro objetivo, a transferência da responsabilidade política para um governo iraquiano o mais rápido possível", disse Chirac, em Dresden. A seu lado, Schröder disse concordar com o francês. "Não é suficiente."
O plano americano foi levado anteontem à ONU. Ele abre caminho para a formação de uma força militar multinacional, para que outros países possam contribuir com tropas, mas mantém o comando nas mãos dos EUA. O texto repete que a ONU deve ter "papel vital" no país e propõe a elaboração de um calendário para estabelecer uma Constituição e realizar eleições no Iraque.
Além disso, a proposta que os americanos querem ver aprovada diria que o Conselho de Segurança "urge Estados-membros e organizações internacionais e regionais a acelerar a provisão de contribuições financeiras substanciais para ajudar no esforço de reconstrução do Iraque". Os EUA têm gastado US$ 3,9 bilhões mensais só para manter suas tropas no território iraquiano.
França e Alemanha estão entre os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU, mas apenas os franceses têm poder de veto.
Outros dois integrantes do órgão também demonstraram reservas à proposta -representantes do Chile e do México pediram definição mais clara sobre o papel que a ONU teria no Iraque. A Síria, o único país árabe no Conselho de Segurança, foi um pouco mais longe: disse que a força multinacional deveria ser comandada pela ONU, não pelos EUA.
O secretário de Estado, Colin Powell, reagiu às críticas francesas e alemãs. "Não vejo na declaração deles que eles tenham dito exatamente o que estão procurando ou para quem entregariam [o poder no Iraque] caso o estivessem entregando agora."
Os EUA correm para aprovar a resolução antes do discurso do presidente George W. Bush na Assembléia Geral da ONU, no próximo dia 23. O desacordo remete à divisão que houve antes da Guerra do Iraque. À época, os EUA não conseguiram fazer a ONU aprovar o ataque e decidiram agir sem sua autorização.
Só que, desta vez, outros dois membros permanentes do Conselho de Segurança que foram contra a guerra, a Rússia e a China, deram declarações mais simpáticas à posição americana. Enquanto os russos falaram que podem até mandar tropas, os chineses disseram que a proposta está dentro do que gostariam de ver.
A nova iniciativa dos EUA na ONU foi obra de Powell, segundo relatou o jornal "The Washington Post". Ele teria dito a Bush que tinha o apoio dos militares, embora o comando civil do Pentágono não gostasse da idéia. A assessora de segurança nacional, Condoleezza Rice, teria apoiado Powell, e o presidente deu o sinal verde. Powell negou a informação.
Ontem, em Bagdá, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, deu declarações sustentando a nova estratégia americana. Disse que é preciso enviar mais soldados ao Iraque, mas que elas não devem ser americanas. "Já temos bastante", afirmou -estima-se que haja 146 mil americanos no país.
Em Londres, o premiê Tony Blair disse que estuda aumentar o número de militares do Reino Unido no Iraque, que está em cerca de 11 mil. "Mas não foi tomada nenhuma decisão", afirmou.


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