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Argentina derruba indulto de ministros da ditadura
Martínez de Hoz e Albano Harguindeguy poderão ser julgados por seqüestro
Juiz que anulou o perdão dado sob Alfonsín aos ex-ministros é o mesmo que decidirá sobre indulto ao ex-presidente Rafael Videla
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
A Justiça argentina declarou
inconstitucionais os indultos
concedidos em 1989 e em 1990
pelo então presidente Carlos
Menem a dois ex-ministros de
Estado da última ditadura militar. Com a decisão, o ex-ministro da economia José Alfredo
Martínez de Hoz, 81, e o ex-general Albano Harguindeguy,
79, acusados de cumplicidade
em atos de repressão e desaparecimentos, podem ser julgados pelo seqüestro de dois empresários em 1976 e 1977.
Federico Gutheim e seu filho
Miguel Ernesto ficaram cinco
meses em poder do governo. O
objetivo era pressioná-los a
aceitar um contrato de exportação para sua empresa, uma
produtora de algodão, beneficiando o Ministério da Economia, então comandado por
Martínez de Hoz. Os empresários processaram o Estado argentino, e a Justiça lhes concedeu indenização de cerca de
US$ 16 mil em 1990.
O mesmo juiz que anulou o
perdão para os ex-ministros
também decidirá se foi constitucional o indulto ao ex-presidente Jorge Rafael Videla, 81,
que comandou o país de 1976 a
1981, dando início à última ditadura militar (1976-1983).
A revisão da constitucionalidade dos indultos foi solicitada
formalmente em uma petição
do governo de Néstor Kirchner.
Em 24 de março, em ato de repúdio pelo aniversário de 30
anos do golpe militar, o presidente anunciou o pedido à Justiça para anular os indultos que
beneficiaram os responsáveis
pela última ditadura militar,
abrindo caminho para sua punição. Há duas megaações em
curso, uma delas sobre a Esma
(Escola de Mecânica da Armada), a maior prisão da ditadura.
A revogação das "leis do perdão", criadas durante o governo
do presidente Raúl Alfonsín
(1983-1989), também faz parte
da "revisão" promovida por
Kirchner. As duas normas
-"ponto final" e "obediência
devida"- livraram de processos cerca de 2.000 pessoas e definiram que militares e policiais abaixo do cargo de coronel
apenas cumpriam ordens ao
violar direitos humanos durante a última ditadura militar .
"Operação Condor"
Videla, que encabeçou o golpe militar que tirou Isabelita
Perón da Presidência em 1976,
está sob prisão domiciliar. É
processado em várias ações por
ser o maior responsável pela
"Operação Condor" na Argentina, acusado de crimes de privação ilegal de liberdade e de
associação ilícita grave.
Em processo contra ele, juízes descrevem a "Operação
Condor" como a "cooperação
ilegal estabelecida entre os governos e serviços de inteligência" de Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai
para "compartilhar informações e cooperar para perseguir
ilegalmente seus opositores".
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