São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / MUDANÇA DE RUMO

McCain investe em retórica anti-Washington

Em oficialização de candidatura, republicano, que é senador na capital há 21 anos, diz que "a mudança está chegando" à cidade

Candidato governista à sucessão de Bush destaca sua atuação bipartidária e diz que, no poder, estenderá a mão a quem quiser ajudar

Scott Olson/Getty Images/France Presse
McCain (à esq.), ao lado do senador Joe Lieberman, que já foi membro do Partido Democrata e candidato a vice de Al Gore em 2000

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A ST. PAUL

Oficializado candidato do Partido Republicano a presidente dos EUA, John McCain discursou ontem à noite para aceitar sua nomeação e pregou um governo acima dos partidos e contra as práticas políticas da "velha turma de Washington". Para tal, prometeu "mudança" -palavra-chave do discurso de campanha de seu adversário, o democrata Barack Obama.
Depois de se dizer feliz por ter apresentado ao país a jovem e desconhecida governadora do Alasca, Sarah Palin, para ser vice em sua chapa, ele fez, sorrindo, uma advertência:
"Deixem-me oferecer um aviso à velha turma de Washington, os que gastam muito, não fazem nada, a turma do eu primeiro, o país em segundo lugar: a mudança está chegando."
Sem o poder retórico de sua vice, McCain, 72, senador pelo Arizona desde 1987, fez o possível para se diferenciar do rival Obama, 47, senador novato por Illinois.
Mencionou a experiência adquirida como piloto da Marinha e apelou para o aspecto do qual mais se orgulha em sua biografia: os cinco anos e meio como prisioneiro de guerra no Vietnã. "Eu tenho um passado e as cicatrizes para provar [meus compromissos com o país]. O senador Obama não tem."
Esse tipo de crítica foi o máximo a que McCain se permitiu fazer contra o democrata. Foi uma estratégia. Seus colegas de partido e candidata a vice se ocuparam dos ataques mais pesados ao longo da convenção.

Patriotismo
Com forte apelo patriótico, ele relatou como se sentiu na prisão no Vietnã. Resvalou na pieguice ao gosto do eleitor médio quando contou ter passado a amar o "país não só porque era um lugar, mas uma idéia, uma causa pela qual valia a pena lutar". E mais: "Eu não era mais dono de mim mesmo. Eu era um homem do meu país".
Em outro trecho, McCain falou sobre sua experiência de colaboração bipartidária: "Repetidamente trabalhei com congressistas de ambos os partidos para consertar os problemas que precisam ser consertados. É dessa forma que governarei como presidente".
Sua intenção, afirmou, é administrar acima dos partidos. "Eu não trabalho para um partido. Eu não trabalho para interesses particulares", disse. Prometeu "estender a mão para qualquer um" que o ajudar a "conseguir colocar este país em ação novamente".
McCain disse pretender convidar democratas e independentes para seu governo. "Minha administração vai estabelecer um novo padrão de transparência e cobrança de responsabilidade".
O republicano gastou 49 minutos para ler seu longo discurso de 3.976 palavras. Logo no início, foi interrompido quando os convencionais começaram a vaiar uma manifestante que gritava na platéia.
Candidato quase inviável há um ano, McCain fez uma campanha solitária dentro da máquina partidária. Ontem, quando a legenda já estava unida ao seu lado, ele fez um lamento por causa do "constante rancor partidário". E completou: "É o que acontece quando as pessoas vão para Washington para trabalhar para si próprios e não para vocês".
O discurso do republicano marcou o encerramento da Convenção Republicana, realizada nos últimos quatro dias em St. Paul, no Estado de Minnesota. Sua fala sobre independência partidária e com críticas a Washington representou mais um passo no seu afastamento do presidente atual, o também republicano George W. Bush com quem McCain tem várias diferenças, mas que discursou na reunião do partido na última terça-feira.
Os republicanos remontaram ontem o palco do Xcel Energy Center. Em vez do tablado no fundo do ginásio, foi construída uma passarela para que McCain falasse no meio dos convencionais. Ele prefere interagir com os eleitores de maneira mais intimista, como nos seus minicomícios em cidades pequenas, quando vai a salões cedidos por prefeituras ou centros comunitários.

Processo de nomeação
O discurso de aceitação da candidatura é uma formalidade da política norte-americana. É necessário aceitar oficialmente a indicação da legenda para concorrer à Casa Branca. A escolha se dá, na prática, durante o processo das eleições primárias e assembléias de eleitores nos Estados (os chamados "caucuses"). McCain chegou à convenção como nome único e já havia sido referendado pelo convencionais anteontem.
McCain pode ser o primeiro veterano da Guerra do Vietnã eleito presidente dos EUA. Nos cinco anos e meio em que passou detido em Hanói, foi torturado e esteve longos períodos em confinamento solitário. Sem atendimento médico adequado, ficou com seqüelas tem dificuldade para levantar os braços acima do ombro.
É considerado um herói pelos norte-americanos. Se vencer, será o mais idoso a ocupar a Casa Branca num primeiro mandato. Teve câncer de pele no início desta década na região do pescoço. Foi operado três vezes e médicos atestaram sua cura.
A missão de McCain a partir de agora é recuperar popularidade nas pesquisas de opinião. Os últimos levantamentos indicam que, após a Convenção Democrata, Obama rompeu o empate técnico entre os dois e abriu uma leve vantagem na disputa pela Casa Branca.


NA FOLHA ONLINE - www.folha.com.br/082481
leia a íntegra dos discursos de McCain e Palin



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