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Ameaça de oposição a Evo preocupa Brasil
Chanceler brasileiro diz que vai tratar "de maneira séria" risco de bloqueio do fornecimento de gás por opositores de La Paz
Governadores da meia-lua querem restituição de parte de imposto e cancelamento de referendo; instalações de gás têm vigília de militares
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem que vai tratar "de
maneira séria" as ameaças da
oposição boliviana de bloquear
o envio de gás para Brasil e Argentina. O chanceler brasileiro
disse que levantaria informações com a embaixada brasileira em La Paz sobre a situação e
não descartou dialogar com os
oposicionistas bolivianos.
"Vamos tratar isso tudo de
maneira séria e temos que ter
contato inclusive, se for o caso,
com os governos regionais", assinalou Amorim.
Segundo o ministro, o Brasil
vai verificar primeiro "como o
governo nacional [boliviano]
pode assegurar a integridade
[do gasoduto]". "Já houve questões parecidas no passado que
foram resolvidas", disse.
Ontem, oposicionistas de Tarija, departamento que concentra 85% da produção de gás na
Bolívia, confirmaram a ameaça
feita na véspera. "Não descartamos prejudicar o envio de gás a
Brasil e Argentina. Quando não
sair uma molécula de gás, este
governo bobo se dará conta do
que está fazendo", disse à Folha Reynaldo Bayard, presidente do comitê cívico, que
reúne empresários e moboliza
a população contra o governo,
com apoio dos governadores.
Reunidos no Conalde (Conselho Nacional Democrático),
em Santa Cruz, os governadores oposicionistas dos departamentos de Tarija, Santa Cruz,
Beni, Pando e Chuquisaca exigiram que Morales cancele o
referendo para a ratificação da
nova Constituição, convocado
para dezembro, e restitua parte
de um imposto sobre o gás recionado a um programa de renda para idosos.
A Folha apurou que representantes de Pando e Tarija defenderam uma ação radical para chamar atenção para as demandas oposicionistas. Santa
Cruz se opôs, e o comunicado
conjunto afirmou que os governadores "não se responsabilizavam" por eventuais problemas no abastecimento de gás.
O objetivo da ameaça é atrair
atenção dos países vizinhos para o conflito e fustigar os governos de Brasil e Argentina, que
os oposicionistas mais radicais
vêem como aliados de Morales
incapazes de mediar a crise.
A Embaixada do Brasil em La
Paz afirmou que militares protegem as instalações e vigiam
válvulas de bombeamento e
compressão de gás ao Brasil.
Questionada, a Petrobras não
quis comentar. Informou que
as operações estão normais.
Há dias, a oposição bloqueia
estradas na região do Chaco, no
sul, e há desabastecimento de
comida e combustível. No lado
argentino da fronteira, 1.200
caminhões estão retidos; no
paraguaio, 200, diz Bayard. Indagado sobre a proteção às instalações, respondeu: "As pessoas estão dispostas a tudo".
Se as válvulas estão protegidas, o percurso do gasoduto ao
Brasil é considerado vulnerável. A oficial Superintendência
dos Hidrocarbonetos também
fala de riscos. "A cada dia, a situação se agrava", disse à rádio
Erbol o assessor jurídico da entidade, Leonardo Chiquie.
Também ontem, sindicatos
camponeses e operários pró-Morales decidiram cercar o
Congresso para pressionar pela
aprovação do projeto de convocação do referendo sobre a nova Carta. Em Santa Cruz, as casas de um líder sindical e de um
deputado pró-Morales e foram
incendiadas.
(IURI DANTAS E FLÁVIA MARREIRO)
Com agências internacionais
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