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Argentina oferece diploma a detentos
Universidade em prisão de Buenos Aires faz reincidência dos que se formam cair a 5%, afirma coordenador
Segundo professora, rendimento é igual ao de outros estudantes; estudo vira "tábua de salvação" para presos
GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES
Cinco portões de ferro
trancados e vigiados isolam o
Centro Universitário de Devoto das ruas de Buenos Aires. Instalado no subsolo do
único presídio da capital argentina, o espaço atende 180
presos matriculados em seis
faculdades.
Com salas de aula, biblioteca e diretório acadêmico, o
centro é administrado pelos
próprios detentos, que passam até oito horas diárias
sem vigilância dos agentes.
Criado pela UBA (Universidade de Buenos Aires), em
1985, a pedido da mãe de um
preso, a unidade já teve mais
de 2.500 alunos.
O programa de ensino superior oferecido pelo SPF
(Serviço Penitenciário Federal) da Argentina em parceria
com a UBA funciona em outras quatro penitenciárias da
Grande Buenos Aires e atende a 300 homens e mulheres.
BAIXA REINCIDÊNCIA
Segundo o coordenador
do programa e professor da
UBA, Leandro Alperim, apenas 5% dos presos que se formaram na prisão voltaram a
cometer delitos, enquanto o
índice geral de reincidência
do SPF foi de 26% no primeiro semestre de 2010.
"Isso mostra que o Estado
pode agir para interromper o
circuito do eterno retorno à
prisão. É um equívoco escancarado pensar que a solução
é unicamente reprimir e trancar as pessoas", afirma.
Para o diretor penitenciário, o único inconveniente é a
possibilidade de o programa
beneficiar mais os presos ricos do que os pobres.
Como os detentos de classe média e alta geralmente
chegam ao presídio com o
ensino médio completo, eles
rapidamente podem se inscrever na faculdade e obter
os direitos garantidos pelo
programa.
Na opinião de Pedro, 52,
condenado por assalto, a
principal vantagem é manter
contato com professores e
pessoas que vêm de fora para
interagir com os presos que
estudam.
"É como uma embaixada
da universidade, os [guardas] uniformizados não têm
o que fazer aqui. Dá para renovar o espírito, porque temos contato com o que existe
depois do muro" afirma o detento, que estuda sociologia
e psicologia.
A professora do curso de
economia da UBA Estela
Cammarota diz que os presos
têm um rendimento acadêmico igual aos demais estudantes. "A diferença é que alguns [presos] tomam o estudo como tábua de salvação.
Se apegam a isso para manter o equilíbrio."
FOLHA.com
Veja galeria de fotos do
centro de Devoto
folha.com.br/1024613
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