São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Argentina oferece diploma a detentos

Universidade em prisão de Buenos Aires faz reincidência dos que se formam cair a 5%, afirma coordenador

Segundo professora, rendimento é igual ao de outros estudantes; estudo vira "tábua de salvação" para presos

GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES

Cinco portões de ferro trancados e vigiados isolam o Centro Universitário de Devoto das ruas de Buenos Aires. Instalado no subsolo do único presídio da capital argentina, o espaço atende 180 presos matriculados em seis faculdades.
Com salas de aula, biblioteca e diretório acadêmico, o centro é administrado pelos próprios detentos, que passam até oito horas diárias sem vigilância dos agentes.
Criado pela UBA (Universidade de Buenos Aires), em 1985, a pedido da mãe de um preso, a unidade já teve mais de 2.500 alunos.
O programa de ensino superior oferecido pelo SPF (Serviço Penitenciário Federal) da Argentina em parceria com a UBA funciona em outras quatro penitenciárias da Grande Buenos Aires e atende a 300 homens e mulheres.

BAIXA REINCIDÊNCIA
Segundo o coordenador do programa e professor da UBA, Leandro Alperim, apenas 5% dos presos que se formaram na prisão voltaram a cometer delitos, enquanto o índice geral de reincidência do SPF foi de 26% no primeiro semestre de 2010.
"Isso mostra que o Estado pode agir para interromper o circuito do eterno retorno à prisão. É um equívoco escancarado pensar que a solução é unicamente reprimir e trancar as pessoas", afirma.
Para o diretor penitenciário, o único inconveniente é a possibilidade de o programa beneficiar mais os presos ricos do que os pobres.
Como os detentos de classe média e alta geralmente chegam ao presídio com o ensino médio completo, eles rapidamente podem se inscrever na faculdade e obter os direitos garantidos pelo programa.
Na opinião de Pedro, 52, condenado por assalto, a principal vantagem é manter contato com professores e pessoas que vêm de fora para interagir com os presos que estudam.
"É como uma embaixada da universidade, os [guardas] uniformizados não têm o que fazer aqui. Dá para renovar o espírito, porque temos contato com o que existe depois do muro" afirma o detento, que estuda sociologia e psicologia.
A professora do curso de economia da UBA Estela Cammarota diz que os presos têm um rendimento acadêmico igual aos demais estudantes. "A diferença é que alguns [presos] tomam o estudo como tábua de salvação. Se apegam a isso para manter o equilíbrio."

FOLHA.com
Veja galeria de fotos do centro de Devoto
folha.com.br/1024613


Texto Anterior: Opinião/Mineiros do Chile: "Confinamento nos leva a expressar as emoções verdadeiras"
Próximo Texto: Escolaridade reduz violência no presídio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.