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São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2003

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"TOTAL RECALL"

Nesta terça, eleitor decidirá se quer derrubar governador e escolher um entre os mais de 130 candidatos ao cargo

Votação histórica mobiliza a Califórnia

CÍNTIA CARDOSO
ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES

O "recall" para governador da Califórnia, marcado para esta terça-feira, é um fato inédito da história política do Estado. Pela primeira vez, os eleitores californianos vão decidir se um governador deve terminar o seu mandato e eventualmente escolher quem deverá substituí-lo.
A campanha para remover o governador democrata, Gray Davis, começou de modo discreto entre os conservadores do Partido Republicano no final de 2002. Mas, à medida que os problemas do Estado- crise do setor energético e déficit monstro de US$ 38 bilhões- tornaram-se mais evidentes, o movimento começou a ganhar terreno.
Nos últimos cem anos, já se tentou derrubar um governador da Califórnia 31 vezes, mas só agora essa possibilidade, prevista na legislação do Estado, conseguiu ir adiante. Em julho, um comitê em defesa da saída de Davis coletou 1,7 milhões de assinaturas- pela lei seriam necessárias 900 mil- para promover o "recall".
A partir daí, iniciou-se uma corrida sem precedentes pelo posto de governador. No dia 7 de outubro, mais de 130 candidatos constarão nas cédulas eleitorais, entre eles uma atriz pornô, um ex-ator infantil, donas-de-casa, desempregados, ex-veteranos do Vietnã e uma celebridade de Hollywwod. Até o vice-governador Cruz Bustamante tornou-se candidato.
Esse número impressionante de concorrentes foi estimulado pela própria legislação eleitoral da Califórnia. Num "recall", não há eleições primárias. Com isso, os partidos podem ter diversos candidatos concorrendo entre si. Outra facilidade é que, para quem já tem o direito de votar, bastava recolher 65 assinaturas e pagar uma taxa de US$ 3.500.
"Essa é uma eleição excepcional na história política dos EUA, que é bastante linear. Por isso há um interesse tão grande e ela se tornou tão importante", disse Thomas Patterson, especialista em estudos de mídia e governo da Universidade Harvard. "Na eleição para governador da Califórnia [quando Gray Davis foi reeleito], em 2002 , só 29% dos eleitores votaram, um nível bastante baixo. Para esse "recall", a expectativa é que 50% dos eleitores votem."
Patterson também explica o número recorde de candidatos: "Numa eleição normal, as oportunidades de aparecer são muito restritas. Por isso, há tantos candidatos agora. Essa aura circense pode até servir para atrair mais eleitores", diz.
A eleição tem duas perguntas. Na primeira, o eleitor escolhe se Davis, que enfrenta séria crise de impopularidade, deve ser destituído do cargo. Caso opte pela saída do democrata, o eleitor vota no candidato de sua escolha.
Apesar do caráter inusitado da eleição, às vésperas do dia decisivo, o "recall" ganhou contornos mais tradicionais: o governador Gray Davis, que luta para manter o cargo, e o ator Arnold Schwarzenegger (republicano), que lideras as pesquisas de opinião, se tornaram os protagonistas.

O peso dos imigrantes
Disputado a peso de ouro pelos candidatos, o eleitorado de imigrantes da Califórnia pode ser decisivo no "recall".
Na Califórnia, de cada quatro habitantes, um é de origem estrangeira. A média nacional é de 1 para cada 10 habitantes.
Hoje, 11 milhões de latinos vivem na Califórnia - cerca de 30% da população do Estado.
Às vésperas da eleição, o vice-governador Bustamante, que é de origem latina, se esforça para recolher votos entre a comunidade. Em segundo lugar nas pesquisas (entre os que desejam a saída de Davis), o democrata declarou que conta com o apoio dos latinos para ultrapassar seu concorrente.
Schwarzenegger, porém, também tem apelo entre os imigrantes. Nos seus discursos, ele gosta de lembrar que chegou aos EUA com apenas US$ 50 no bolso.


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