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ÁSIA
Num país que nunca teve eleição presidencial, instrutores explicam os princípios do sistema eleitoral para a inédita votação do dia 9
Afegãos vão à escola para aprender a votar
Emilio Morenatti/Associated Press
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Em Ghumaipayan Mahnow, meninas afegãs observam funcionários da ONU carregarem urnas para a eleição presidencial do dia 9 |
DAVID ROHDE
CARLOTTA GALL
DO "NEW YORK TIMES"
A democracia parecia estar deitando raízes no Afeganistão diante dos próprios olhos de Ed Morgan. Especialista americano no
processo eleitoral, Morgan, 64, estava numa sala de aula na cidadezinha de Hulam Ali, ao norte de
Cabul, observando um funcionário afegão ensinar a 50 homens
como votar na primeira eleição
presidencial da história do país,
marcada para 9 de outubro.
O instrutor afegão perguntou
aos homens, que pareciam fascinados com a idéia de poderem escolher seu líder eles mesmos, se é
legal votar em dois candidatos.
"Não", responderam os homens.
"E votar em todos?" "Também
não", foi a resposta.
Mas, quando o instrutor pediu
que fizessem perguntas, ficou clara a complexidade do ambicioso
experimento americano de difundir a democracia no Afeganistão e
em outros países muçulmanos.
Um homem perguntou o que
impediria os funcionários eleitorais de usar as cédulas que sobrarem para votar no candidato de
sua escolha. Outros disseram ter
ouvido no rádio que, independentemente de quem vencer a
eleição, o presidente dos EUA,
George W. Bush, forçará a implementação da lei americana, não a
islâmica. Outro homem disse ter
ouvido que os americanos ""arranjaram" a eleição antecipadamente em favor do presidente interino, Hamid Karzai.
Da natureza rudimentar da aula
de democracia à astúcia das perguntas dos afegãos, a cena é típica
do esforço americano para introduzir a democracia no Afeganistão, segundo especialistas eleitorais ocidentais. Depois de 23 anos
de conflito, muitos afegãos parecem estar entusiasmados com o
conceito simples de resolver as diferenças políticas por meio de
eleições democráticas pacíficas.
Mas o analfabetismo, a ignorância e o fato de muitas comunidades serem isoladas significam que
muitos afegãos não compreendem o processo e vão votar segundo critérios étnicos e tribais.
E, embora os EUA venham se esforçando para que a eleição pareça um sucesso, especialistas ocidentais dizem que não foi dedicada atenção suficiente à formação
dos partidos políticos e das instituições governamentais não partidárias que estão na base dos sistemas democráticos estáveis.
Além disso, o processo de registro de eleitores foi falho, com um
número potencialmente grande
de registros de eleitores menores
de idade ou registros duplos.
Na teoria e na prática, é provável que a eleição de 9 de outubro
nesta sociedade tribal e tradicionalmente islâmica resulte numa
mistura democrática singularmente afegã. Líderes tribais, senhores de guerra e clérigos provavelmente vão instruir seus seguidores sobre como votar. É provável que os chefes de família instruam suas mulheres e seus filhos.
Consta que alguns candidatos estariam comprando votos.
Mas o fator decisivo no sucesso
da eleição provavelmente será o
voto secreto. Muito vai depender
de até que ponto as pessoas comuns conseguirem compreender
e acreditar no segredo do voto,
um conceito totalmente novo
num país onde, há gerações, homens importantes fecham acordos em segredo, enquanto outros
acordos são alcançados em reuniões comunitárias públicas.
Após uma aula anterior de educação para o voto, Ed Morgan ficou visivelmente satisfeito quando um grupo de professoras e alunas afegãs se negou a dizer a um
jornalista em que candidato ia votar. "Havia alguns homens do povoado presentes", disse ele mais
tarde. "Não sei quais teriam sido
as repercussões."
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