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Migração entre países emergentes é maior
Relatório da ONU aponta que 50% dos emigrantes do mundo trocaram um país em desenvolvimento por outro em igual situação
Estudo aponta barreiras à mobilidade; proporção de imigrantes na população mundial hoje é a mesma que há 50 anos -cerca de 3%
Karim Sahib -17.jul.07/France Presse
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Trabalhadores estrangeiros em construção em Dubai (Emirados Árabes), cuja população é majoritariamente de imigrantes
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
Metade das pessoas que emigram no mundo se movimenta
entre países em desenvolvimento, mais do que os 37% que
vão de nações em desenvolvimento para países desenvolvidos. Dez por cento mudam-se
de um país desenvolvido para
outro.
Essas são algumas das informações com que o Pnud (Programa da ONU para o Desenvolvimento) pretende "desafiar
estereótipos" ao divulgar hoje o
relatório "Ultrapassar barreiras: mobilidade e desenvolvimento humano".
O relatório faz veemente defesa da mobilidade como uma
das liberdades fundamentais e
do movimento humano como
"exercício dessa liberdade". Ele
é o 19º inspirado no conceito de
desenvolvimento como expansão da capacidade de exercer a
liberdade, criado pelos economistas Amartya Sen, indiano, e
Mahbub ul Haq (1934-1998),
paquistanês.
O Pnud chama atenção para
as barreiras políticas, econômicas e burocráticas que mantêm
em cerca de 3% a proporção de
emigrantes no total da população mundial, nível semelhante
ao de 50 anos atrás, antes da
mundialização financeira, da
última onda de liberalização
comercial e do fim do bloco soviético.
O relatório reconhece que
cerca da metade dos estimados
214 milhões de imigrantes
-dos quais cerca de 50 milhões
em situação irregular- vive hoje no mundo desenvolvido.
Esse universo compreende
os 38 países e regiões classificados como de "desenvolvimento
humano muito alto", que incluem EUA, Canadá e Europa
Ocidental, mas também Coreia
do Sul, Hong Kong, nações do
golfo Pérsico, da Oceania e dois
países do Leste Europeu.
Nos EUA, por exemplo, a fatia de imigrantes no total da população aumentou 112% desde
1960, para 14,2%, enquanto na
Europa ela cresceu 177%, para
9,7%. Mas o Pnud chama atenção para o peso da reunificação
familiar nesse crescimento
-corresponde a 70% do fluxo
para os EUA- e para as diferenças entre os dois destinos.
Enquanto os EUA passaram
a receber, a partir da crise da dívida, nos anos 80, enorme contingente da América Latina e
do Caribe, na Europa a maior
fatia de imigrantes vem do próprio continente. Esse movimento se acelerou a partir de
2004 com a adesão à União Europeia -que passou de 15 para
27 membros- dos países do
antigo bloco soviético. O contingente de imigrantes das ex-colônias na África equivale a
23% dos imigrantes de origem
europeia. O de latino-americanos, a menos de 10%.
Como notou Francisco Rodríguez, chefe da equipe de pesquisas do relatório, em entrevista à Folha, a maior parte do
movimento emigratório ocorre
dentro das regiões -63% dos
africanos que emigram vão para a própria África, proporção
que é de 65% na Ásia e de 69%
na Europa. América Latina e
Caribe são exceções -apenas
13% dos emigrantes mudam-se
para outro país da região.
Isso não significa, ressaltou o
pesquisador, que imigrantes
dentro da África ou da Ásia
(que inclui o Oriente Médio)
sejam mais bem tratados do
que se fossem para um país do
Norte geopolítico.
Alguns dos casos mais graves
de desrespeito aos direitos de
residentes estrangeiros foram
relatados em países como Malásia, África do Sul e os Estados
petrolíferos do Conselho de
Cooperação do Golfo, crescentes importadores de mão de
obra. O Mercosul, em contraste, é citado como bom exemplo
de liberdade de movimento.
O relatório do Pnud também
calculou, pela primeira vez, o
contingente de migrantes internos: 740 milhões de pessoas.
E chama atenção para que um
terço dos países ainda impõe algum tipo de restrição a esse
movimento, incluindo Belarus,
China, Mongólia e Vietnã. O
documento defende as migrações internas como fator primordial de equalização de renda e acesso a serviços de saúde e
educação.
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