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Brasileiros se decepcionam com "sonho português"
Paranaenses foram levados para Vila de Rei há um ano em programa de repovoamento
Famílias se queixam do alto custo de vida, da instalação precária e da falta de apoio da prefeita Irene Barata,
que suspendeu o projeto
VITORINO CORAGEM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM VILA DE REI (PORTUGAL)
Desilusão. É essa a sensação
dos brasileiros que chegaram,
em maio, a Vila de Rei, região
central de Portugal, sob um
protocolo de repovoamento
entre a autarquia portuguesa e
a Prefeitura de Maringá. Duas
das quatro famílias já deixaram
a cidade, há um mês, e o projeto
foi suspenso por tempo indeterminado.
A família Padilha fugiu para
Cascais, perto de Lisboa. Confessando que chegou a passar
fome, Daiane, 20, seu irmão
Daniel, 25, e sua cunhada Regiane, 19, tentam agora juntar
dinheiro para voltar a Maringá.
No Brasil, o casal vendeu os
móveis e eletrodomésticos para dar entrada na compra das
passagens. Quando chegaram,
afirmam, perceberam logo que
a situação não era a esperada.
O abrigo destinado aos 15
imigrantes não tinha geladeira
nem fogão. Além disso, alimentação e emprego não eram garantidos. "Fomos enganados. A
única coisa que a prefeita Irene
Barata conseguiu foi nos trazer,
deixando-nos depois completamente desamparados. Não
compreendo como ela quer fixar assim as pessoas, sem
apoio", afirma Daiane.
Tal como as outras três famílias brasileiras, os Padilha trabalharam na Albergaria D. Diniz, uma unidade hoteleira com
17 quartos e um restaurante.
Recebiam o salário mínimo
português, de 400 (cerca de
R$ 1.040).
O que pode parecer uma boa
quantia tendo em conta a realidade brasileira revelou-se um
pesadelo. O expediente ia das
8h às 2h, incluindo fins de semana. "O ritmo de trabalho é
muito diferente daquele a que
estávamos habituados. Além
disso, o dinheiro era muito
pouco, principalmente para
quem quer refazer a vida", conta Daniel.
Anúncio de jornal
Adélia e Pedro Oliveira também não se habituaram. Em
outubro de 2005, o casal soube,
por jornais do Paraná, que Vila
de Rei enfrentava o envelhecimento de sua população e buscava brasileiros para repovoá-la. Em dois dias, 800 pessoas
concorreram ao Programa do
Voluntariado Paranaense.
Segundo o anúncio publicado no "Diário do Maringá", a
prefeita Irene Barata garantia o
salário mínimo, moradia, creche e escola gratuitos. Entre as
15 famílias selecionadas, Adélia
e Pedro foram a uma reunião de
apresentação de Vila de Rei.
Pelo programa, quatro famílias foram efetivamente para lá.
De modo provisório, foram morar todos juntos numa casa particular, em São João de Peso,
uma localidade com 50 habitantes. Adélia é cabeleireira e
não conseguiu montar um salão na pequena cidade. Mas teve uma proposta para trabalhar
na sua área, em Sertã, uma cidade vizinha. Prefere não falar
muito do assunto.
As famílias que ainda permanecem têm filhos e, por causa
disso, mais dificuldade para
partir. Mas Cecília Fraga, jornalista, 42, confessa que é esse
seu maior desejo no momento.
Divorciada e com dois filhos,
ela trabalha como relações públicas em uma empresa de
construção e escreve para um
jornal de uma associação que
ajuda crianças deficientes.
Cansada do que considera
um clima de intimidação e
guerras políticas, conta com a
ajuda dos vizinhos, que lhe levam produtos das suas hortas.
"Não tínhamos a noção real do
que estava à nossa espera, ao
contrário do que diz a prefeita.
O custo de vida é muito alto. O
salário mínimo só dá quase para pagar o aluguel de uma casa.
Além disso, não se traz mão-de-obra qualificada para viver nestas condições, sem nenhuma
dignidade", queixa-se.
Já a psicóloga Letícia Duarte,
34, diz estar resignada. Grávida
do terceiro filho, ela e o marido,
que trabalha com informática,
tentam melhorar a nova vida.
Letícia passa os dias cuidando
dos idosos do Lar de Acolhimento de São João de Peso, à
espera de poder exercer a sua
profissão em Portugal, apesar
da burocracia.
No fim do mês passado, Irene
Barata anunciou que o projeto
de "importação" de moradores
estava suspenso por tempo indeterminado, embora a prefeita mantenha a intenção de retomar o plano.
"Por enquanto está parado e
vai continuar assim por alguns
meses. Vamos arrumar as
idéias, analisar o que não esteve
muito bem. Continuará quando for oportuno", afirmou à
agência Lusa.
Adiantou, no entanto, ser sua
intenção envolver no projeto
cidadãos portugueses que pretendam trabalhar em Vila de
Rei ou, na falta destes, brasileiros que já residam em Portugal.
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