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EUA estudam ampliar monopólio de mídia
Agência federal de comunicações discute nesta semana regra que proíbe empresas de terem TV, rádio e jornal na mesma cidade
Lei de 1974 tem brechas ante avanços tecnológicos, dizem defensores; críticos temem concentração maior entre poucos proprietários
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
A agência federal de comunicações norte-americana (FCC)
enfrenta nesta semana nova
etapa em seu périplo para reformar a lei que regula o monopólio em empresas de comunicação nos EUA. O alvo principal é uma regra, aprovada há 33
anos, que proíbe uma única
companhia de ser dona de um
jornal e de uma emissora de TV
ou rádio na mesma cidade.
A iniciativa é do atual diretor-executivo da agência, Kevin
Martin, que defende que a atual
lei caducou diante dos avanços
tecnológicos dos últimos anos,
especialmente os decorrentes
da popularização da Internet.
Os que apóiam a decisão citam como argumento adicional
o fato de a própria medida de
1974 já trazer brechas, ao não
valer retroativamente, e ter sido esvaziada ao longo dos anos
por dezenas de exceções abertas para algumas empresas.
Já os críticos da revisão contra-atacam dizendo que a nova
lei permitirá ainda mais concentração da mídia nas mãos de
poucas empresas. Para esses, a
mudança beneficiará nomes
como Rupert Murdoch, o megaempresário de origem australiana que finaliza a compra
da companhia que edita o "Wall
Street Journal" por US$ 5 bilhões, e o empreendedor imobiliário Samuel Zell, que faz o
mesmo com a Tribune Company, que edita o "Los Angeles
Times", por US$ 8,2 bilhões.
Descaso
"O fato é que não há interesse
de nenhum lado em mudar
agora", a poucos meses do fim
do mandato de George W.
Bush, disse à Folha Drew
Clark, expert em temas relacionados à FCC e ex-diretor do
centro de mídia e telecomunicações do Centro pela Integridade Pública (CPI), em Washington. "Assim, mesmo mudanças pequenas podem não
sair do papel."
Ainda assim, uma mostra da
temperatura da questão pôde
ser sentida na semana que passou. Na quarta, cerca de cem
militantes anti-reforma se concentraram em frente à sede da
FCC, em Washington, para
protestar enquanto o conselho
da agência se reunia para ouvir
testemunhas contra e a favor
da medida. Um dos que tomou
o púlpito do lado de fora foi o
reverendo, ativista e ex-senador democrata Jesse Jackson.
Ele citou o chamado "Caso
Jena Seis" -em que seis adolescentes negros foram acusados de surrar um adolescente
branco em dezembro do ano
passado, no auge de uma série
de conflitos raciais na cidade
de Jena, em Louisiana-, inicialmente ignorado pela mídia
nacional, para pedir que a nova
lei fortalecesse jornais locais.
"Não há chances de conseguirmos satisfazer nossos críticos", respondeu Marcellus Alexander, vice-presidente da Associação Nacional de Emissoras, ao "Washington Post". "Na
verdade, a transcrição desses
encontros mostram que já fomos acusados de ser culpados
por quase tudo, do aquecimento global à crise imobiliária."
As audiências vêm acontecendo há 18 meses, desde que
Martin assumiu o comando da
agência. A próxima arena será
o comitê de Comércio, Ciência
e Transportes do Senado, que
convocou uma audiência para
essa quinta-feira com o tema
"mídia local, diversidade e propriedade".
A Federal Communications
Commission (FCC), criada pelo Congresso quando da aprovação da Lei das Comunicações
de 1934, é uma das agências
mais sobrecarregadas da atual
estrutura de governo dos EUA.
Além da mídia, regula o mercado de telefonia fixa e móvel, e o
conteúdo do que as emissoras
de TV aberta e pagas e as de rádio colocam no ar, aplicando
multas quando julga que algo
exibido é obsceno.
Para tanto, conta com cinco
diretores, indicados pelo presidente para mandados de cinco
anos, que devem ser aprovados
pelo Congresso. Até três membros podem ser do mesmo partido -hoje, a maioria é republicana, como o diretor-executivo
Martin. Advogado, ex-assistente de política econômica de
Bush, da equipe de transição
Bush-Cheney e ex-conselheiro
de campanha do republicano,
sucedeu Michael Powell, filho
do então secretário de Estado,
Colin Powell.
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