São Paulo, quinta-feira, 05 de novembro de 2009

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Opositores voltam a protestar no Irã

Manifestantes aproveitam celebração pelos 30 anos da tomada da Embaixada dos EUA em Teerã para retornar às ruas

Distúrbios deixam feridos e resultam em 20 pessoas presas; grupos governistas lembram que americanos ainda são maiores inimigos


DA ASSOCIATED PRESS

Contrariando ordens do governo, milhares de iranianos aproveitaram as manifestações para celebrar o 30º aniversário da tomada da Embaixada dos EUA em Teerã -fato que levou à ruptura das relações com Washington e abriu a era de hostilidade com o Ocidente- para protestar contra o presidente Mahmoud Ahmadinejad.
As manifestações antigoverno foram reprimidas a cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo, deixando vários feridos. Ao menos 20 pessoas acabaram detidas, segundo testemunhas.
Os oposicionistas usaram tática igual à da última vez em que se manifestaram, há dois meses: ir às ruas em meio a uma celebração nacional para dar mais visibilidade à sua rejeição do governo. Em setembro, houve protestos anti-Ahmadinejad no Dia contra Israel.
A oposição vinha anunciando há semanas sua intenção de usar o aniversário da tomada da embaixada americana para retomar os protestos contra a reeleição supostamente fraudulenta do conservador Ahmadinejad, no pleito de junho.
Os adversários do presidente dizem que o verdadeiro vencedor foi o reformista Mir Hossein Mousavi (que teve 33,8% dos votos contra 62.46% de Ahmadinejad, segundo resultados oficiais) e exigem maiores liberdades individuais.
O governo prometera uma repressão implacável contra novas manifestações e instalara barreiras de isolamento e bases policiais por toda a cidade.
Mesmo assim, opositores -em número muito menor do que no início da crise- se espalharam pela capital.
A multidão retomou os cantos de protesto usados logo após o pleito presidencial e incluíram um novo grito no seu coro, para pressionar a Casa Branca a ser mais firme contra Ahmadinejad.
"Obama, escolha de que lado você esta", gritava a multidão. A maior parte dos manifestantes usava roupas verde, cor-símbolo dos reformistas.
Segundo relatos, Mousavi foi impedido pela polícia de sair de casa para se juntar aos manifestantes. Mas o líder reformista Mehdi Karoubi, quarto colocado na eleição presidencial, apareceu nos protestos e acabou agredido por membros da milícia pró-governo Basij. Ele não ficou ferido, mas um de seus seguranças teria sido levado ao hospital.
Aos protestos antigoverno se opuseram marchas de apoio a Ahmadinejad e à Revolução Islâmica, que instaurou em 1979 o regime teocrático em vigor no Irã. Em frente ao complexo que servira de Embaixada dos EUA, militantes ergueram um palanque onde governistas lembraram que os EUA são o principal inimigo do Irã e que os 30 anos de resistência da República Islâmica demonstram que a democracia islâmica é um exemplo para o mundo.
Aliados entre os anos 50 e 70, Irã e EUA romperam depois que militantes, em represália ao asilo dado pelo então presidente Jimmy Carter ao xá deposto, tomaram 52 reféns na embaixada americana em Teerã. O sequestro durou 444 dias.
A tensão se acirrou no início dos anos 80, com o apoio da Casa Branca ao ataque lançado pelo vizinho Iraque de Saddam Hussein contra o Irã.
Sob Bill Clinton (1993-2001), os EUA estiveram próximos da retomada do diálogo com o Irã, então presidido pelo reformista Mohammed Khatami.
Mas George W. Bush, sucessor de Clinton, incluiu o país no "eixo do mal", com Iraque e Coreia do Norte, e acusou Teerã de fomentar o terrorismo e de desenvolver um programa nuclear secreto. O Irã nega as alegações e vem respondendo de forma dúbia aos acenos apaziguadores de Obama.


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