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SOLIDÁRIOS DEMAIS
Maridos foram prestar auxílio e acabaram ficando com a outra família
Bombeiros trocam família por
viúvas de colegas mortos no WTC
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
Mary Koenig, 39, se considera
uma vítima dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
Seu marido, o bombeiro Gerry
Koenig, 43, não morreu na ocasião, mas, após os atentados,
abandonou-a para viver com
Madeleine Bergin -viúva do
bombeiro John Bergin, morto
no World Trade Center.
"Meu marido sobreviveu ao 11
de Setembro, mas não foi mais o
mesmo", relatou Mary Koenig à
Folha. "Após os ataques, ele foi
contar para Madeleine sobre o
desaparecimento de John e prometeu a ela que jamais a deixaria. Ele esqueceu de mim, dos filhos e não saiu mais do lado dela.
Ele passou a ir às compras com
ela e com os filhos. Uma vez, pela
CNN, eu os vi numa loja de brinquedos. Ele ia às consultas médicas da família dela e até a acompanhava nas reuniões para viúvas dos bombeiros."
Koenig disse ainda que ela e a
viúva de John Bergin se conheciam havia oito anos, mas que,
depois dos atentados, elas se distanciaram. "Ela não se importava se os meus filhos [dois meninos de 13 e 16 anos] queriam ver
o pai. Ela só se preocupava consigo mesma", afirmou.
O relato, que à primeira vista
pode ser interpretado como um
episódio meramente doméstico,
pode estar ligado a outras situações semelhantes. Reportagem
publicada pelo jornal "New York
Post" nesta semana diz que há
pelo menos uma dúzia de mulheres com histórias parecidas.
Os maridos foram prestar ajuda
à família dos mortos e trocaram
as suas mulheres pelas viúvas.
Segundo um código de honra
extra-oficial dos bombeiros de
Nova York, os membros da corporação auxiliam na preparação
do funeral de companheiros
mortos em serviço e prestam solidariedade a suas famílias. Mas,
na avaliação de Koenig, o relacionamento entre o seu marido e
Bergin ultrapassou esses limites.
Ela acusa a cúpula do Corpo de
Bombeiros de Nova York de negligência.
"Eu entrei em contato com
eles, falei sobre a mudança de
comportamento do meu marido, mas eles fecharam os olhos
para esse problema. Eu comecei
uma campanha para contar a
minha história e não vou parar
até ser ouvida", afirmou Koenig.
Assim como o "New York
Post", Koenig afirma que há pelo
menos uma dezena de mulheres
com os mesmos problemas. Nenhuma das estimativas é oficial.
O porta-voz do Departamento
de Bombeiros de Nova York,
David Billig, afirma que a corporação só tem conhecimento do
caso de Koenig e de Susan Zazulka, que também foi citada pelo
jornal. Billig rebateu ainda as
acusações de Koenig sobre o
descaso do Corpo de Bombeiros
em relação ao seu drama.
"Logo depois dos ataques, aumentamos o número de psicólogos disponíveis para qualquer
membro da corporação e para
suas famílias. No total, passou de
12 para 300. Mas, obviamente, o
aconselhamento psicológico
não era obrigatório", afirmou o
porta-voz.
Procurados pela Folha, Madeleine Bergin e John Koenig não
foram localizados. Em entrevista
ao jornal nova-iorquino, John
disse: "Minha vida é um assunto
privado. Não deixei a minha família, deixei a minha mulher".
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