São Paulo, domingo, 05 de dezembro de 2004

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INFORMÁTICA

Lenovo, que pode comprar a linha de computadores pessoais da empresa americana, busca ascensão global

Chinesa quer a IBM para ganhar o mundo

DO "NEW YORK TIMES

Ainda que virtualmente desconhecida nos EUA, a Lenovo -que supostamente estaria negociando para adquirir a divisão de computadores pessoais da IBM- é a maior fabricante de computadores pessoais da China e a empresa de mais rápido crescimento do setor no mundo. E sua posição serve como símbolo das ambições dos gigantes industriais emergentes da China, que anseiam por criar marcas mundiais e por se tornar líderes no mercado global sem ajuda de terceiros.
O Lenovo Group, parcialmente controlado pelo governo chinês, faturou mais de US$ 3 bilhões em 2003 e no momento está em oitavo lugar entre os maiores fabricantes mundiais de computadores pessoais. É o líder geral do mercado asiático, excluído o Japão, onde a NEC e outras empresas dominam.
Sediada em Pequim e com ações cotadas na Bolsa de Hong Kong, a Lenovo deixou sua marca no mercado com a produção de uma linha de computadores pessoais de baixo custo. Com vendas imensas a agências do governo chinês e escolas e imune às tarifas impostas contra marcas estrangeiras como Dell, Hewlett-Packard e -até agora- IBM, a Lenovo hoje controla cerca de 27% do mercado chinês de computadores pessoais, que em breve ultrapassará o do Japão para se tornar o segundo maior do mundo, depois do norte-americano.
Mas a empresa vem enfrentando dificuldades no crescimento, à medida que tenta manter sua participação de mercado em casa e se aventurar no Ocidente.
O preço das ações do grupo caiu depois que a Lenovo reportou receita inferior à esperada, mencionando uma guerra de preços contra Dell, Hewlett-Packard e IBM no mercado chinês.
A Lenovo talvez não compre a divisão de computadores pessoais da IBM porque há pelo menos mais um potencial comprador envolvido nas negociações. Mas, se a Lenovo obtiver sucesso, adquirir a divisão da IBM aliviaria parte da pressão competitiva que a aflige no mercado interno.
A Lenovo sabe também que precisa expandir sua participação no mercado mundial para além dos 2,6% atuais. Adquirir a divisão da IBM, que hoje ocupa a terceira posição entre os fabricantes de computadores mundiais, elevaria sua participação a 8,6% -ainda o terceiro posto, mas um pouco mais perto da Dell (18%) e da Hewlett-Packard (16,1%).
Como parte de sua campanha mundial, a empresa, no início do ano, abandonou o antigo nome, Legend, em favor do atual e entrou na disputa das grandes marcas mundiais ao assinar como patrocinadora da Olimpíada de Inverno de 2006 e dos Jogos de Pequim, em 2008.
Determinar por quanto tempo e em que medida a Lenovo ou outro comprador da divisão de computadores pessoais da IBM poderia continuar usando a marca IBM talvez venha a se tornar uma das questões cruciais da negociação. Mas a empresa deixou claro que está aberta a negociar. Fundada em 1984 por um grupo de cientistas chineses, com financiamento do governo, a então Legend começou como distribuidora de computadores e impressoras, vendendo modelos IBM, AST e Hewlett-Packard na China.
No final dos anos 80, porém, como exemplo de uma tendência que se reproduziria em muitos setores da economia chinesa, a empresa passou a trabalhar em atividade mais sofisticada, projetando computadores próprios. Por volta de 1997, já havia ultrapassado a IBM para conquistar a liderança nas vendas de computadores pessoais na China.
Mas concorrer no mercado global por conta própria, especialmente contra a eficiência industrial que é motivo de tantos elogios à Dell, pode ser complicado para a Lenovo. Um especialista norte-americano em capital para empreendimentos que visitou recentemente a fábrica da Lenovo em Xangai disse estar surpreso por não haver a urgência e o movimento frenético que havia observado em visita a uma fábrica da Dell em Round Rock (Texas).
Disse que na Lenovo a linha de produção funciona muito devagar se comparada à da Dell.
Além disso, com o rápido crescimento da China, os consumidores, cada vez mais prósperos e interessados em marcas, estão se voltando a computadores IBM, Dell e Hewlett-Packard. Os executivos da Lenovo estão determinados a competir com essas marcas mais conhecidas, dizendo que a empresa não quer ser conhecida apenas como fornecedor de baixo custo. A linha de produtos da IBM automaticamente daria mais prestígio ao nome Lenovo.
De outra forma, disse, a Lenovo enfrentará os mesmos problemas de reconhecimento de marca que prejudicam a sul-coreana Acer, quinta no mercado mundial, mas pouco conhecida nos EUA.


Tradução de Paulo Migliacci

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