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Referendo revela novo centro na Venezuela
Oposição que se distancia do golpismo e racha no chavismo reduzem polarização
Mensagem contrária à reforma da Carta proposta por Chávez se espalhou por diferentes setores políticos e sociais venezuelanos
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Embora a diferença apertada
no referendo da reforma constitucional reforce o estereótipo
de uma Venezuela politicamente polarizada, a grande novidade do processo eleitoral é o
surgimento de um comportamento politicamente mais ao
centro, na opinião de analistas.
São vários os sinais: a participação de partidos de oposição
nas eleições, meios de comunicação mais equilibrados, a divisão dentro do chavismo, a alta
abstenção entre os simpatizantes do presidente Hugo Chávez
e mesmo a calma que predominou no dia da votação e após a
confirmação da primeira derrota de Chávez em nove anos.
Os principais canais de televisão do país, Venevisión e Televen, que detêm mais de 50%
da audiência, alcançaram um
inédito equilíbrio na cobertura,
mostra o monitoramento feito
pelas universidades de Gotemburgo (Suécia) e Ucab, de Caracas. Esse comportamento é diferente tanto de abril de 2002,
quando participaram do golpe
contra Chávez, quanto do ano
passado, quando se engajaram
em cobertura favorável à reeleição do presidente.
"Durante a campanha, houve
dois pólos importantes [o canal
oposicionista Globovisión e o
estatal VTV], mas pela primeira vez se consolidou um centro", diz Andrés Cañizález,
coordenador da pesquisa.
No caso dos partidos políticos da oposição, a corrente moderada em favor do voto arrastou na última semana até o radical Comando Nacional da Resistência (CNR). Essa posição
menos confrontacionista deu o
tom ontem a uma entrevista
coletiva de Leopoldo López,
um dos dirigentes do partido
oposicionista Um Novo Tempo. Ele convidou Chávez e os
deputados chavistas, que controlam a Assembléia Nacional
desde que a oposição boicotou
a eleição legislativa de 2005, a
discutir uma agenda social.
O surgimento do movimento
estudantil também contribuiu
para esse novo centro político.
Segundo analistas, a mensagem
contrária à reforma teve impacto em todos os setores da
sociedade e fugiu da polarização tradicional, apesar de Chávez chamá-los de "filhinhos de
papai" e "peões do império".
Já o governismo viu aparecer
um centro por meio do partido
Podemos e do ex-ministro da
Defesa Raúl Isaías Baduel, aliados históricos que romperam
com o presidente. As posições
contrárias à reforma, que incluía a reeleição indefinida,
provocaram o surgimento de
uma espécie de "chavismo sem
Chávez", mais moderado.
Outro sinal de que a polarização perdeu fôlego foi a ausência
de chavistas nos locais de votação, apesar do discurso plebiscitário de Chávez. Para o sociólogo Edgardo Lander, a lição
mais importante do referendo
é que, mesmo sendo o presidente popular, não há um eleitorado dócil.
"Para setores numericamente muito significativos do chamado chavismo, foi possível
manter o apoio ao governo, mas
tomar distância de uma proposta particular", avalia Lander, professor da Universidade
Central da Venezuela (UCV)
que neste ano se distanciou da
nova agenda de Chávez.
"É uma lição de maturidade
política muito importante e
rompe com o imaginário de um
povo que simplesmente segue
um messias. Na democracia,
não se pode apenas falar em nome do povo, ele tem de estar aí
também."
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