São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2008

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EUA amenizam o tom contra Paquistão

Apoio diplomático busca frear escalada retórica da Índia, que culpa Islamabad por atentado em Mumbai, e evitar desfalque na fronteira afegã

Polícia indiana alimenta guerra de informação sobre ataques; Nova Déli não diz onde está o "único terrorista preso", cidadão paquistanês

MK Chaudry/Efe
Paquistaneses pisam em bandeiras da Índia e dos EUA em protesto contra Nova Déli, que culpou país por terror em Mumbai

DA REDAÇÃO

Sob uma saraivada de acusações e insinuações da vizinha Índia e dos próprios EUA sobre seus supostos vínculos com os atentados da semana passada em Mumbai, o Paquistão ouviu ontem da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, que está "comprometido como a luta contra o terrorismo".
A declaração, feita após encontro de Rice com membros do governo no Paquistão, demonstra o esforço dos EUA para arrefecer a crise entre seus dois aliados. Ocorre também após Islamabad ameaçar desguarnecer sua fronteira com o Afeganistão -um dos principais fronts da guerra ao terrorismo empreendida pelo Pentágono- para aumentar o contingente na divisa com a Índia.
"Acho que os líderes paquistaneses estão muito focados e comprometidos em combater terrorismo -por suas próprias razões, pois o Paquistão tem sido uma vítima [dos terroristas]", disse Rice. O país é governado pelo PPP (Partido do Povo Paquistanês), da ex-premiê Benazir Bhutto, morta há um ano em atentado. Seu viúvo, Asif Ali Zardari, é o presidente.
A Índia atribui os ataques de Mumbai, que mataram 172 na semana passada, ao Lashkar-e-Taiba (exército dos devotos), grupo de origem paquistanesa que luta contra o domínio indiano na Caxemira, disputada pelos dois países. Segundo autoridades, o único terrorista capturado com vida é paquistanês e confessou que o grupo recebeu treinamento no país.
O suspeito está preso em local desconhecido, e há dúvidas sobre os métodos pelos quais o depoimento foi obtido. "Um terrorista assim nunca é cooperativo. Nós temos de extrair informação", disse ontem Deven Bharti, diretor de investigação de Mumbai, sem detalhar.
Nova Déli não acusou Islamabad de envolvimento direto nos ataques da semana passada, mas autoridades indianas vazam incessantemente informações sobre a suposta relação do serviço secreto paquistanês com os terroristas, que abastecem uma mídia indiana abertamente antipaquistanesa.
O acirramento das tensões entre seus dois aliados -que são rivais e têm a bomba atômica- preocupa Washington.
Anteontem, em visita à Índia, Rice pediu que Nova Déli evite "uma reação que possa provocar efeitos indesejados".
Os EUA não são os únicos a acompanharem o xadrez político-militar no subcontinente indiano. Em visita a Nova Déli, o presidente russo, Dmitri Medvedev, afirmou ontem que vai cooperar com o país "em todas as frentes". A China, com quem a Índia realizará exercícios militares na próxima semana, também promete apoio.
O Paquistão, por sua vez, também promete cooperar com as investigações. Mas efeitos práticos dessa retórica são incertos. O país ainda não se pronunciou sobre o pedido indiano para que extradite suspeitos de terrorismo. Pressões internas levaram o presidente Zardari a recuar na oferta de enviar o chefe do ISI, seu poderoso serviço secreto, a Mumbai.

Alerta nos aeroportos
Nova ameaça terrorista forçou ontem a Índia a decretar ontem estado de alerta em três dos seus principais aeroportos: na capital, Nova Déli, em Bangalore e em Chennai. Houve tiros no aeroportos de Nova Déli, mas a polícia os classificou como "incidente menor".
"Não foi um incidente terrorista. Ninguém foi morto", disse o porta-voz Rajan Bhagat, negando relatos de que homens armados tivessem sido mortos por policiais no aeroporto, divulgados pela imprensa.

Com agências internacionais



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