São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009

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Amorim faz visita inesperada a líder do Irã

Chanceler brasileiro solicitou audiência com Ahmadinejad para discutir o programa nuclear iraniano

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Numa viagem solicitada pelo Itamaraty e acertada de última hora com as autoridades iranianas, o chanceler Celso Amorim foi recebido anteontem pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad. Fontes diplomáticas ouvidas pela Folha disseram que o objetivo da visita foi transmitir a preocupação do governo brasileiro com o aparente endurecimento de Teerã acerca do seu programa nuclear.
A visita de Amorim não constava da sua agenda quando ele embarcou rumo a Genebra (Suíça) no último fim de semana, para a conferência ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Na quarta, Amorim deixou a conferência antes de seu encerramento, dizendo a jornalistas que precisava viajar. Nem ele nem seus assessores quiseram revelar o destino.
Anteontem o Itamaraty divulgou que o ministro viajara até Isfahan, no centro do Irã, onde teve reunião com o chanceler Manoucher Mottaki e um encontro com Ahmadinejad.
Segundo a Folha apurou, a viagem foi pedida no último fim de semana e acertada entre a Embaixada do Brasil em Teerã e a Chancelaria iraniana, que informou que Ahmadinejad poderia receber o chanceler na quinta em Isfahan.
O Itamaraty não detalhou as conversas, limitando-se a informar que a visita "deu continuidade aos temas tratados pelos dois presidentes em Brasília", no dia 23 de novembro.

Radicalização
Na semana passada Ahmadinejad anunciou a construção de mais dez centrais nucleares em resposta a uma resolução da agência de energia atômica da ONU que condena Teerã por falta de transparência sobre seu programa atômico e abre caminho para novas sanções econômicas.
O Irã rejeita acusações de que quer produzir a bomba atômica e alega que o Tratado de Não Proliferação Nuclear, do qual é signatário, lhe garante o direito de usar tecnologia nuclear para produzir energia e fazer pesquisas médicas.
Os últimos desdobramentos aumentaram a pressão sobre Teerã e levaram ao aparente distanciamento de dois de seus maiores aliados, China e Rússia, que sinalizaram impaciência com o Irã.
A visita faz parte das tentativas do governo brasileiro de se qualificar como mediador entre Teerã e as potências ocidentais. Por ter boas relações com o Irã, o Brasil estima estar mais capacitado que outros países para transmitir mensagens apaziguadoras.
Nas entrelinhas está também o temor de que uma radicalização do Irã comprometa a imagem do Brasil, que, sob críticas, insiste na via diplomática para lidar com dossiê iraniano.
Anteontem, em Berlim, o presidente Lula pediu "paciência" com Teerã, divergindo de sua anfitriã, a chanceler Angela Merkel, que dizia que a sua estava se esgotando ante as arrastadas negociações com o país.


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