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Amorim faz visita inesperada a líder do Irã
Chanceler brasileiro solicitou audiência com Ahmadinejad para discutir o programa nuclear iraniano
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Numa viagem solicitada pelo
Itamaraty e acertada de última
hora com as autoridades iranianas, o chanceler Celso Amorim
foi recebido anteontem pelo
presidente Mahmoud Ahmadinejad. Fontes diplomáticas ouvidas pela Folha disseram que
o objetivo da visita foi transmitir a preocupação do governo
brasileiro com o aparente endurecimento de Teerã acerca
do seu programa nuclear.
A visita de Amorim não constava da sua agenda quando ele
embarcou rumo a Genebra
(Suíça) no último fim de semana, para a conferência ministerial da OMC (Organização
Mundial do Comércio).
Na quarta, Amorim deixou a
conferência antes de seu encerramento, dizendo a jornalistas que precisava viajar. Nem
ele nem seus assessores quiseram revelar o destino.
Anteontem o Itamaraty divulgou que o ministro viajara
até Isfahan, no centro do Irã,
onde teve reunião com o chanceler Manoucher Mottaki e um
encontro com Ahmadinejad.
Segundo a Folha apurou, a
viagem foi pedida no último
fim de semana e acertada entre
a Embaixada do Brasil em Teerã e a Chancelaria iraniana, que
informou que Ahmadinejad
poderia receber o chanceler na
quinta em Isfahan.
O Itamaraty não detalhou as
conversas, limitando-se a informar que a visita "deu continuidade aos temas tratados pelos dois presidentes em Brasília", no dia 23 de novembro.
Radicalização
Na semana passada Ahmadinejad anunciou a construção de
mais dez centrais nucleares em
resposta a uma resolução da
agência de energia atômica da
ONU que condena Teerã por
falta de transparência sobre
seu programa atômico e abre
caminho para novas sanções
econômicas.
O Irã rejeita acusações de
que quer produzir a bomba atômica e alega que o Tratado de
Não Proliferação Nuclear, do
qual é signatário, lhe garante o
direito de usar tecnologia nuclear para produzir energia e
fazer pesquisas médicas.
Os últimos desdobramentos
aumentaram a pressão sobre
Teerã e levaram ao aparente
distanciamento de dois de seus
maiores aliados, China e Rússia, que sinalizaram impaciência com o Irã.
A visita faz parte das tentativas do governo brasileiro de se
qualificar como mediador entre Teerã e as potências ocidentais. Por ter boas relações com o
Irã, o Brasil estima estar mais
capacitado que outros países
para transmitir mensagens
apaziguadoras.
Nas entrelinhas está também
o temor de que uma radicalização do Irã comprometa a imagem do Brasil, que, sob críticas,
insiste na via diplomática para
lidar com dossiê iraniano.
Anteontem, em Berlim, o
presidente Lula pediu "paciência" com Teerã, divergindo de
sua anfitriã, a chanceler Angela
Merkel, que dizia que a sua estava se esgotando ante as arrastadas negociações com o país.
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