São Paulo, domingo, 05 de dezembro de 2010

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ANÁLISE WIKILEAKS

"Anarquista" para uns, site tem atuação de órgão jornalístico

WikiLeaks procura evitar documentos com nomes de pessoas que possam sofrer represálias após publicação


CRIADOR DO SITE, ASSANGE ALERTA ESFORÇO PARA DESQUALIFICAR O TRABALHO DE APURAÇÃO E DIVULGAÇÃO DE DOCUMENTOS

NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

Um mês antes de iniciar a divulgação do Cablegate, Julian Assange declarou para a revista "Forbes" que, desde que criou o provedor australiano Suburbia, duas décadas atrás, atua como publisher e, de vez em quando, como repórter.
Alertou contra o esforço "deliberado" de desqualificar o WikiLeaks como publicação ou jornalismo, para tirar do site a proteção legal em países como os EUA. E disse que até o "New York Times" incorria na desqualificação, mas por "medo de ser regulado ou investigado se incluir nossas atividades como publicação".
O "Times" não linka as páginas do WikiLeaks. Do material do Cablegate, seleciona o que quer noticiar e submete os originais que vai reproduzir a uma edição ou "redaction", no jargão do jornalismo americano. Também ouve o Departamento de Estado, que solicita "redaction", que o jornal aceita ou não.
No caso, o "Times" repassou os pedidos de edição feitos pelo Departamento de Estado ao próprio WikiLeaks. Mas o WikiLeaks não é um "parceiro de mídia" do "Times", diz o editor-chefe, Bill Keller. "É uma fonte de material bruto. Como toda fonte, tem suas motivações."
Um colunista do "Times" foi além. David Brooks descreveu Assange como "anarquista da velha guarda", contrário "às instituições de poder". Criticou a publicação supostamente sem "filtro" do WikiLeaks como contrária ao jornalismo. Outros colunistas americanos ecoaram que o WikiLeaks "não é uma organização noticiosa".
E a expressão "anarquista" foi parar na boca do porta-voz do Departamento de Estado, ao justificar que o WikiLeaks "não é uma organização de mídia" -e Assange "não é um jornalista".
Mas o fato é que o WikiLeaks vem atuando como organização jornalística. Já na publicação dos documentos do Afeganistão, em julho, procurou evitar os que continham nomes de pessoas que pudessem sofrer represália. Nos documentos do Iraque, em outubro, passou a fazer edição de todos os textos.
Agora, para o Cablegate, enviou carta ao Departamento de Estado pedindo sugestões de edição, dois dias antes. O pedido foi recusado, mas o Departamento de Estado solicitou ao "Times" que repassasse ao WikiLeaks suas solicitações de corte.
E assim vem sendo feito, daí os textos surgirem no site do WikiLeaks com "XXXXX" no lugar de nomes, em "redaction" realizada tanto pelas cinco publicações envolvidas, "Times", "Guardian", "Der Spiegel", "Le Monde" e "El País", como pela própria redação do WikiLeaks.
Julian Assange fechou a primeira semana respondendo aos leitores do "Guardian": "embora ainda escreva, pesquise e investigue, meu papel é o de publisher e editor-chefe, que organiza e dirige outros jornalistas".


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