São Paulo, domingo, 06 de janeiro de 2008

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Presidente do Quênia faz oferta de coalizão

Sugestão, feita sob pressão do Ocidente, é rechaçada pela oposição, que exige renúncia de Kibaki e novas eleições

País enfrenta violenta crise desde pleito do último dia 27, que reconduziu atual líder ao cargo apesar das várias acusações de fraude

ANA FLOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NAIRÓBI

Em meio à pressão de líderes ocidentais, o presidente do Quênia, Mwai Kibaki, 76, disse ontem estar disposto a negociar a formação de um governo de unidade nacional que encerre a crise desencadeada pelas eleições do último dia 27, nas quais sua vitória, supostamente sob fraudes, foi contestada pela oposição. O governo não deixou claro como se organizaria essa nova coalizão.
Violentas contestações ao resultado oficial, que manteve Kibaki no cargo por uma pequena margem, resultaram em pelo menos 350 mortes desde o anúncio da vitória, em 30 de janeiro. A acusação de fraudes foi corroborada por observadores internacionais da ONU e da União Européia.
O anúncio de que o governo aceitaria negociar uma coalizão com a oposição foi feito logo após o encontro entre Kibaki e a principal diplomata dos EUA na África, Jendayi Frazer. Horas antes, Frazer havia se reunido com o líder da oposição e candidato derrotado, Raila Odinga, 62, do Movimento Democrático Laranja (ODM). Odinga exige novas eleições e pede que Kibaki deixe o cargo.
Após o anúncio, o partido da oposição voltou a dizer que não aceitaria a proposta.
À negociadora dos EUA, Odinga teria insistido na necessidade de novas eleições, organizadas por um governo de transição e com mediação internacional. Jendayi Frazer afirmou que promoverá nos próximos dias uma nova rodada de encontros com os dois.
O Quênia tem 42 grupos étnicos. O maior são os kikuyus, do qual Kibaki faz parte. Com 22% da população, eles têm sido as maiores vítimas da violência iniciada desde o anúncio do resultado das eleições. Odinga, um luo, tem o apoio de quase todos os outros grupos étnicos, que acusam o governo atual de privilegiar kikuyus.
Mesmo se Kibaki permanecer na presidência, sua situação será crítica, pois as eleições do dia 27 deram ao ODM 95 dos 122 assentos legislativos, enquanto metade do gabinete de Kibaki perdeu suas vagas.

Violência
Enquanto a crise segue sem solução, a violência voltou a afligir o país ontem. Mais de 180 mil pessoas estão desabrigadas devido aos confrontos, que assumiram caráter de embate étnico. A ONU diz que pelo menos 500 mil pessoas precisam de ajuda emergencial. Organizações humanitárias têm realizado campanhas de distribuição de alimentos.
Na favela de Mathare, em Nairóbi, novos enfrentamentos entre moradores e a polícia fizeram pelo menos um morto. Várias casas foram incendiadas e moradores se atacaram com facões. Sem controle da situação, os policiais foram cercados pela multidão e fugiram. Os moradores da favela, uma das principais da cidade, estabeleceram uma divisão informal, e as pessoas que entram em cada área são obrigadas a comprovar a que etnia pertencem.


Com agências internacionais


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