|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Presidente do Quênia faz oferta de coalizão
Sugestão, feita sob pressão do Ocidente, é rechaçada pela oposição, que exige renúncia de Kibaki e novas eleições
País enfrenta violenta crise desde pleito do último dia 27, que reconduziu atual líder ao cargo apesar das várias acusações de fraude
ANA FLOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM
NAIRÓBI
Em meio à pressão de líderes
ocidentais, o presidente do
Quênia, Mwai Kibaki, 76, disse
ontem estar disposto a negociar a formação de um governo
de unidade nacional que encerre a crise desencadeada pelas
eleições do último dia 27, nas
quais sua vitória, supostamente sob fraudes, foi contestada
pela oposição. O governo não
deixou claro como se organizaria essa nova coalizão.
Violentas contestações ao resultado oficial, que manteve
Kibaki no cargo por uma pequena margem, resultaram em
pelo menos 350 mortes desde o
anúncio da vitória, em 30 de janeiro. A acusação de fraudes foi
corroborada por observadores
internacionais da ONU e da
União Européia.
O anúncio de que o governo
aceitaria negociar uma coalizão
com a oposição foi feito logo
após o encontro entre Kibaki e
a principal diplomata dos EUA
na África, Jendayi Frazer. Horas antes, Frazer havia se reunido com o líder da oposição e
candidato derrotado, Raila
Odinga, 62, do Movimento Democrático Laranja (ODM).
Odinga exige novas eleições e
pede que Kibaki deixe o cargo.
Após o anúncio, o partido da
oposição voltou a dizer que não
aceitaria a proposta.
À negociadora dos EUA,
Odinga teria insistido na necessidade de novas eleições, organizadas por um governo de
transição e com mediação internacional. Jendayi Frazer
afirmou que promoverá nos
próximos dias uma nova rodada de encontros com os dois.
O Quênia tem 42 grupos étnicos. O maior são os kikuyus,
do qual Kibaki faz parte. Com
22% da população, eles têm sido as maiores vítimas da violência iniciada desde o anúncio
do resultado das eleições.
Odinga, um luo, tem o apoio de
quase todos os outros grupos
étnicos, que acusam o governo
atual de privilegiar kikuyus.
Mesmo se Kibaki permanecer na presidência, sua situação
será crítica, pois as eleições do
dia 27 deram ao ODM 95 dos
122 assentos legislativos, enquanto metade do gabinete de
Kibaki perdeu suas vagas.
Violência
Enquanto a crise segue sem
solução, a violência voltou a
afligir o país ontem. Mais de
180 mil pessoas estão desabrigadas devido aos confrontos,
que assumiram caráter de embate étnico. A ONU diz que pelo
menos 500 mil pessoas precisam de ajuda emergencial. Organizações humanitárias têm
realizado campanhas de distribuição de alimentos.
Na favela de Mathare, em
Nairóbi, novos enfrentamentos
entre moradores e a polícia fizeram pelo menos um morto.
Várias casas foram incendiadas
e moradores se atacaram com
facões. Sem controle da situação, os policiais foram cercados
pela multidão e fugiram. Os
moradores da favela, uma das
principais da cidade, estabeleceram uma divisão informal, e
as pessoas que entram em cada
área são obrigadas a comprovar
a que etnia pertencem.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Crise no Quênia contamina vizinhos Índice
|