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Cúpula de sul-americanos e árabes muda
Marrocos desiste de organizar segundo encontro e tarefa é assumida pelo Qatar; 1ª reunião foi em Brasília, em 2005
Decisão marroquina foi provocada por divergências com diplomacia brasileira; reunião deve acontecer no 2º trimestre deste ano
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Após desistência do Marrocos, o Qatar vai organizar e sediar a 2ª CASPA (Cúpula América do Sul-Países Árabes) no
último trimestre deste ano, segundo a Folha apurou. Uma
das grandes apostas diplomáticas do primeiro mandato do
presidente Lula, a 1ª CASPA
reuniu em Brasília representantes de 34 países, em maio de
2005. O evento ficou marcado
pela assinatura de uma declaração final com críticas a Estados Unidos e Israel.
Na cúpula de Brasília, o Marrocos havia anunciado oficialmente a intenção de receber a
segunda edição do encontro.
Mas o então chanceler marroquino, Mohamed Benaissa, informou à delegação brasileira
na última Assembléia Geral da
ONU que seu país havia abandonado o projeto. O ministro
alegou problemas de infra-estrutura e imprevistos ligados à
mudança de governo, após as
legislativas de setembro.
Diplomatas brasileiros desconfiam que o governo marroquino "roeu a corda" por não
ter conseguido do Brasil o
apoio esperado contra os rebeldes da Frente Polisário, financiados e armados pela Argélia,
que reivindicam a independência do Saara Ocidental, antigo
território espanhol.
Também acredita-se que as
autoridades de Rabat ficaram
ofendidas com a decisão do Itamaraty de apoiar a candidatura
da cidade sul-coreana de Yeosu
para abrigar a Exposição Universal de 2012, em detrimento
de Tanger. As relações Brasil-Marrocos já estavam abaladas
pela decisão do rei Mohamed
6º de cancelar uma visita que o
presidente Lula faria a Rabat,
em julho do ano passado.
A desistência marroquina levou o ministro das Relações
Exteriores, Celso Amorim, a
enviar carta ao secretário-geral
da Liga Árabe, Amre Moussa,
pedindo que fosse encontrada
uma nova sede. Pelo princípio
da rotatividade, a 2ª CASPA deve ocorrer num país árabe.
Moussa afirmou que se "esforçaria pessoalmente" para
que a decisão fosse tomada o
mais rápido possível. Fontes
diplomáticas árabes e brasileiras dão como certa a escolha do
Qatar. Egito e Jordânia também se candidataram.
A agenda da 2ª CASPA será
definida em 20 e 21 de fevereiro, durante encontro de chanceleres em Buenos Aires. "Continuaremos buscando denominadores comuns nas áreas política e econômica", disse à Folha o representante da Liga
Árabe no Brasil, Bachar Yaghi.
A declaração final do encontro de 2005 criticava os EUA
pela ingerência no Iraque, pela
política externa unilateral e pelas sanções econômicas impostas à Síria. O documento também cobrava de Israel o cumprimento das resoluções internacionais que determinam a
retirada dos territórios ocupados em 1967.
Segundo Yaghi, é provável
que a 2ª CASPA também tenha
uma importante dimensão política. "A América do Sul é um
continente amigo, no qual vivem muitos árabes. Os países
da região podem desempenhar
um papel positivo nas grandes
questões mundiais."
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