São Paulo, domingo, 06 de janeiro de 2008

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Cúpula de sul-americanos e árabes muda

Marrocos desiste de organizar segundo encontro e tarefa é assumida pelo Qatar; 1ª reunião foi em Brasília, em 2005

Decisão marroquina foi provocada por divergências com diplomacia brasileira; reunião deve acontecer no 2º trimestre deste ano

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Após desistência do Marrocos, o Qatar vai organizar e sediar a 2ª CASPA (Cúpula América do Sul-Países Árabes) no último trimestre deste ano, segundo a Folha apurou. Uma das grandes apostas diplomáticas do primeiro mandato do presidente Lula, a 1ª CASPA reuniu em Brasília representantes de 34 países, em maio de 2005. O evento ficou marcado pela assinatura de uma declaração final com críticas a Estados Unidos e Israel.
Na cúpula de Brasília, o Marrocos havia anunciado oficialmente a intenção de receber a segunda edição do encontro. Mas o então chanceler marroquino, Mohamed Benaissa, informou à delegação brasileira na última Assembléia Geral da ONU que seu país havia abandonado o projeto. O ministro alegou problemas de infra-estrutura e imprevistos ligados à mudança de governo, após as legislativas de setembro.
Diplomatas brasileiros desconfiam que o governo marroquino "roeu a corda" por não ter conseguido do Brasil o apoio esperado contra os rebeldes da Frente Polisário, financiados e armados pela Argélia, que reivindicam a independência do Saara Ocidental, antigo território espanhol.
Também acredita-se que as autoridades de Rabat ficaram ofendidas com a decisão do Itamaraty de apoiar a candidatura da cidade sul-coreana de Yeosu para abrigar a Exposição Universal de 2012, em detrimento de Tanger. As relações Brasil-Marrocos já estavam abaladas pela decisão do rei Mohamed 6º de cancelar uma visita que o presidente Lula faria a Rabat, em julho do ano passado.
A desistência marroquina levou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a enviar carta ao secretário-geral da Liga Árabe, Amre Moussa, pedindo que fosse encontrada uma nova sede. Pelo princípio da rotatividade, a 2ª CASPA deve ocorrer num país árabe.
Moussa afirmou que se "esforçaria pessoalmente" para que a decisão fosse tomada o mais rápido possível. Fontes diplomáticas árabes e brasileiras dão como certa a escolha do Qatar. Egito e Jordânia também se candidataram.
A agenda da 2ª CASPA será definida em 20 e 21 de fevereiro, durante encontro de chanceleres em Buenos Aires. "Continuaremos buscando denominadores comuns nas áreas política e econômica", disse à Folha o representante da Liga Árabe no Brasil, Bachar Yaghi.
A declaração final do encontro de 2005 criticava os EUA pela ingerência no Iraque, pela política externa unilateral e pelas sanções econômicas impostas à Síria. O documento também cobrava de Israel o cumprimento das resoluções internacionais que determinam a retirada dos territórios ocupados em 1967.
Segundo Yaghi, é provável que a 2ª CASPA também tenha uma importante dimensão política. "A América do Sul é um continente amigo, no qual vivem muitos árabes. Os países da região podem desempenhar um papel positivo nas grandes questões mundiais."


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