São Paulo, terça-feira, 06 de janeiro de 2009

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Conflito urbano piora crise humanitária no território

Israel anuncia morte de mais 3 soldados; gerador de hospital só dura mais três dias

Israel autoriza ingresso de comboio de mantimentos pelo sul e nega que venha usando munição proibida na investida contra o Hamas

DA REDAÇÃO

O décimo dia da ofensiva israelense ao Hamas e terceiro consecutivo de ataques terrestres contra a faixa de Gaza registrou ontem, pela primeira vez, confrontos dentro da malha urbana da região, uma das mais densamente povoadas localidades do mundo, com 1,5 milhão de habitantes concentrados em cerca de 360 km2.
À noite, o Exército israelense reportou a morte de três soldados -o quarto desde sábado- por "fogo amigo" de um de seus tanques. O Hamas teria perdido "dezenas" de milicianos, mas não há número fechado.
O avanço segue paralelo à piora das condições humanitárias e, até agora, não impediu o emprego de foguetes contra Israel -ontem, disse a polícia, foram lançados ao menos 24. Não houve registro de feridos.
No lado palestino, o saldo de mortos desde o início da ofensiva passava de 540, quando Hassan Khalaf, diretor do hospital Shifa, o maior da região, alertou que os geradores da entidade dispõem de combustível para operar por só mais três dias. A cidade não tem energia desde sexta-feira.
O caos no hospital é ilustrado pela falta de espaço no necrotério. Cada gaveta mortuária tem sido usada para dois cadáveres -e ainda há corpos que ficam no chão, como os de três crianças da família Samouni, que teve 13 membros mortos ontem por um tanque israelense.
O jornal britânico "The Guardian" citou dados da Gisha, ONG humanitária israelense, que registrou corte de energia em 75% da faixa de Gaza e informou que 48 dos 130 poços da região não operam por falta de energia -deixando mais de 500 mil pessoas sem água.
Já o israelense "Haaretz" narrou a dificuldade que uma família enfrentou em busca de socorro após sua casa ter sido atingida em Zeitoun. "Vinte horas mais tarde, os feridos [duas octogenárias e três jovens entre 10 e 14 anos] continuavam sangrando numa edícula no quintal. Não havia eletricidade, aquecimento nem água. Os parentes estavam com eles, mas sempre que tentavam deixar o quintal para buscar água, o Exército atirava neles."

Embates
Segundo moradores de Gaza (únicas fontes disponíveis além do Exército, que impede a entrada de jornalistas), os confrontos mais acirrados foram no leste da Cidade de Gaza, onde tropas tinham cobertura.
Testemunhas relataram que, antes da aproximação terrestre, aviões israelenses lançaram panfletos em árabe, orientando moradores das periferias a se deslocarem para o centro das cidades, por segurança.
Em Jerusalém, Ehud Barak, o ministro da Defesa israelense, declarou que a Cidade de Gaza estava quase totalmente cercada por forças invasoras. Quatro campos de refugiados no norte da região foram novamente bombardeados ontem (inclusive a partir do mar).
No sul da faixa de Gaza também houve bombardeios -a seção foi separada do resto da região por uma coluna de tanques israelenses, responsável ainda pelo cerco ao sul da Cidade de Gaza. Ali, Israel alegou ter destruído túneis usados pelo Hamas, na fronteira com o Egito.
Os militares destacaram o fato de terem permitido o ingresso de um comboio de ajuda humanitária e, em reação a questionamentos sobre o uso de fósforo branco, insistiram que têm "operado de acordo com a lei internacional, incluindo no uso de armas e munição".
A dúvida surgiu a partir de imagens de colunas de fumaça branca em Gaza, o que especialistas em armamento apontaram como fósforo branco, composto químico que Israel admitiu ter usado na ação que conduziu contra o Hizbollah no sul do Líbano em 2006. A nota de ontem não detalhou o produto usado na atual ofensiva.
O fósforo branco foi usado por EUA e Reino Unido no Iraque e produz fumaça usada como camuflagem para deslocamentos terrestres, mas causa queimaduras graves se lançado como munição. O tratado de Genebra, de 1980, veda sua utilização em áreas civis.

Com agências internacionais e "Financial Times"



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