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entrevista
Israel criará nova realidade, diz ex-chanceler
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Israel não quer destruir
o Hamas politicamente,
mas militarmente, disse à
Folha por telefone Shlomo Ben Ami, analista israelense e ex-chanceler
(2000-01) no governo do
então premiê Ehud Barak.
FOLHA - Qual a saída à crise?
SHLOMO BEN AMI - Israel
não pretende destruir o
Hamas politicamente,
mas militarmente. A meta
é criar uma nova realidade
para impedir que o grupo
tenha tantas armas como
antes. Qualquer solução
deve incluir, além de um
cessar-fogo: 1) monitoramento para um controle
rigoroso da fronteira Gaza-Egito; 2) fim do uso de
Gaza como base de lançamento de mísseis contra o
território israelense; 3)
troca de prisioneiros.
Eu acho que o presidente Mahmoud Abbas deveria produzir este cessar-fogo, para que recupere a
legitimidade aos olhos do
povo palestino. Só assim
ele poderá dar seguimento
às negociações de paz.
FOLHA - Israel deveria negociar com o Hamas?
BEN AMI - Eu acho que sim,
mas o governo pensa diferente. Cedo ou tarde precisaremos iniciar algum tipo
de processo político. O Hamas não é uma organização jihadista global, mas
uma entidade nacionalista
que não exporta terror fora da Palestina. Seu negócio é a libertação palestina.
A partir do momento em
que escolheu o caminho
das urnas, tornou-se parte
das negociações.
Foi um erro dos EUA,
dos europeus e de Israel
não apoiar os acordos de
Meca [fevereiro de 2007],
pelos quais a Organização
pela Libertação da Palestina e o Hamas uniam suas
forças num governo de
unidade nacional. Israel
pode e deve destruir a capacidade bélica do Hamas,
que cometeu um erro ao
lançar-se no ramo militar.
Sua verdadeira força vem
de seu "soft-power".
Estamos falando de uma
rede social que ampara e
cuida das pessoas. A destruição contraria tudo o
que o grupo fez por 1,5 milhão de pessoas. A força do
Hamas vem de sua vertente social.
Militarmente, Israel
sempre será mais forte.
FOLHA - Qual é o impacto do
ataque na política israelense?
BEN AMI - O principal efeito foi a total suspensão da
campanha para as eleições
[legislativas, marcadas para 10 de fevereiro]. Ela foi
substituída por declarações de pessoas que aproveitam para aparecer junto ao eleitorado.
É provável que o ministro da Defesa [e candidato
trabalhista, Ehud Barak]
se fortaleça nas pesquisas
de opinião e, em função do
andar da ofensiva, isso pode ter um impacto sobre as
posições do líder da oposição [o ex-premiê linha dura Binyamin Netanyahu].
De qualquer maneira,
há um pleno consenso na
política israelense de que a
ofensiva era absolutamente necessária.
Todos sabem que não há
solução militar para o problema do Hamas, mas sim
a criação de uma nova
equação que permita à região viver em paz.
Não há solução final
sem a retomada das negociações de paz. E para que
isso aconteça, é preciso reconciliar Hamas e a OLP.
Precisamos de uma solução política que transcenda o simples cessar-fogo. E isso só pode ser alcançado se dermos ao presidente Abbas um papel
importante.
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