São Paulo, terça-feira, 06 de janeiro de 2009

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entrevista

Israel criará nova realidade, diz ex-chanceler

SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Israel não quer destruir o Hamas politicamente, mas militarmente, disse à Folha por telefone Shlomo Ben Ami, analista israelense e ex-chanceler (2000-01) no governo do então premiê Ehud Barak.

 

FOLHA - Qual a saída à crise?
SHLOMO BEN AMI
- Israel não pretende destruir o Hamas politicamente, mas militarmente. A meta é criar uma nova realidade para impedir que o grupo tenha tantas armas como antes. Qualquer solução deve incluir, além de um cessar-fogo: 1) monitoramento para um controle rigoroso da fronteira Gaza-Egito; 2) fim do uso de Gaza como base de lançamento de mísseis contra o território israelense; 3) troca de prisioneiros. Eu acho que o presidente Mahmoud Abbas deveria produzir este cessar-fogo, para que recupere a legitimidade aos olhos do povo palestino. Só assim ele poderá dar seguimento às negociações de paz.

FOLHA - Israel deveria negociar com o Hamas?
BEN AMI
- Eu acho que sim, mas o governo pensa diferente. Cedo ou tarde precisaremos iniciar algum tipo de processo político. O Hamas não é uma organização jihadista global, mas uma entidade nacionalista que não exporta terror fora da Palestina. Seu negócio é a libertação palestina. A partir do momento em que escolheu o caminho das urnas, tornou-se parte das negociações. Foi um erro dos EUA, dos europeus e de Israel não apoiar os acordos de Meca [fevereiro de 2007], pelos quais a Organização pela Libertação da Palestina e o Hamas uniam suas forças num governo de unidade nacional. Israel pode e deve destruir a capacidade bélica do Hamas, que cometeu um erro ao lançar-se no ramo militar. Sua verdadeira força vem de seu "soft-power". Estamos falando de uma rede social que ampara e cuida das pessoas. A destruição contraria tudo o que o grupo fez por 1,5 milhão de pessoas. A força do Hamas vem de sua vertente social. Militarmente, Israel sempre será mais forte.

FOLHA - Qual é o impacto do ataque na política israelense?
BEN AMI
- O principal efeito foi a total suspensão da campanha para as eleições [legislativas, marcadas para 10 de fevereiro]. Ela foi substituída por declarações de pessoas que aproveitam para aparecer junto ao eleitorado.
É provável que o ministro da Defesa [e candidato trabalhista, Ehud Barak] se fortaleça nas pesquisas de opinião e, em função do andar da ofensiva, isso pode ter um impacto sobre as posições do líder da oposição [o ex-premiê linha dura Binyamin Netanyahu].
De qualquer maneira, há um pleno consenso na política israelense de que a ofensiva era absolutamente necessária.
Todos sabem que não há solução militar para o problema do Hamas, mas sim a criação de uma nova equação que permita à região viver em paz.
Não há solução final sem a retomada das negociações de paz. E para que isso aconteça, é preciso reconciliar Hamas e a OLP.
Precisamos de uma solução política que transcenda o simples cessar-fogo. E isso só pode ser alcançado se dermos ao presidente Abbas um papel importante.


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