São Paulo, terça-feira, 06 de fevereiro de 2007

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Cristina Kirchner viaja à França em campanha

Visita oficial consolida candidatura à Presidência da primeira-dama e gera críticas

Ministro diz que ela será "próxima presidente"; Eduardo Duhalde, principal cacique peronista, é contra; eleição será em outubro

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

Em missão oficial, como fez há 30 anos a então primeira-dama Evita Perón (1919-1952), a senadora argentina Cristina Fernández de Kirchner, 53, virtual candidata nas eleições de outubro para a Casa Rosada, iniciou ontem visita à França para representar seu país, substituindo o marido, o presidente Néstor Kirchner.
Mesmo sem o devido aval do Congresso para aceitar a missão, a primeira-dama, que viaja acompanhada de representantes de mães e avós da Praça de Maio e do chanceler argentino, Jorge Taiana, assina hoje uma convenção internacional contra o desaparecimento forçado de pessoas -tema de direitos humanos ligado à principal bandeira política de Kirchner.
A viagem esquentou o clima de campanha na Argentina. Enquanto os governistas dão como certa a desistência do presidente de concorrer à reeleição, indicando a mulher como candidata, os opositores subiram o tom das críticas contra ela.
No fim de semana, o ex-presidente Eduardo Duhalde, desafeto de Kirchner e principal cacique do peronismo na atualidade, pela primeira vez manifestou-se abertamente contra a eventual candidatura de Cristina, afirmando que lhe falta "experiência de gestão".
Duhalde vinha agindo silenciosamente dentro do PJ (Partido Justicialista ou peronista) para minar a continuidade do kirchnerismo. O ex-presidente, que disputa com seu sucessor o mérito pela recuperação econômica, lembrou ainda que 5 dos 8 ministros de Kirchner fizeram parte de seu governo.
O presidenciável Mauricio Macri, líder da coalizão de centro-direita PRO e presidente do clube de futebol Boca Juniors, engrossou o coro e disse que a candidatura da primeira-dama é "uma falta de respeito". "Não vivo em uma monarquia em que se indica o cônjuge para que continue", declarou.
A resposta ao ataque veio da boca do ministro do Interior, Aníbal Fernández, que também integrou o governo Duhalde. Ele afirmou ontem que Cristina será "a próxima presidente" e que ela é "a figura política mais importante dos últimos 50 anos" no país. Ex-deputada e eleita três vezes senadora, a primeira-dama tem carreira política independente da do marido.

Efeméride
O clima político parece conspirar para a subida de Cristina na sacada "de La Rosada", exatamente 55 anos após a morte de Evita. A efeméride, que se cumpre em 26 de julho deste ano, pode ser um empurrãozinho a mais para a campanha da senadora.
A verdadeira força governista, porém, vem da incapacidade de união das forças opositoras e sobretudo do fracasso da aproximação entre Macri e o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna, candidato com mais chances de ameaçar o "casal K".
Ontem, Cristina aproveitou para se reunir com a candidata socialista à Presidência da França, Ségolène Royal, que, como a argentina, tem 53 anos.
O encontro -que aconteceu em um período ruim para Royal, com a divulgação de pesquisas que dão a vitória ao candidato de direita, Nicolas Sarkozy- faz parte da política de Cristina de ligar sua imagem à de mulheres de destaque. Antes, a primeira-dama já esteve com a senadora e pré-candidata à Presidência dos EUA Hillary Clinton, com a presidente do Chile, Michelle Bachelet, e até com Shakira, embora a cantora colombiana seja nora do ex-presidente radical Fernando de la Rúa, que renunciou em 2001.


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