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Amorim não descarta receber urânio do Irã
Chanceler diz nunca ter tratado tema com Lula, mas que não tem preconceito contra ideia caso haja pedido da comunidade internacional
Ministro confirma, porém, que a possibilidade de que seja a Turquia a receber o combustível iraniano agrada mais ao governo brasileiro
Juan Mabromata/ France Presse
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Amorim ao lado da ministra argentina da Indústria, Debora Giorgi
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
O chanceler Celso Amorim
afirmou ontem, em Buenos Aires, não ter "preconceito" contra a hipótese de o Brasil ser depositário de urânio enriquecido iraniano desde que esse fosse um pedido feito pela "comunidade internacional".
A possibilidade de que o Brasil participasse de alguma forma do acerto entre o Irã e as potências do P5+1 (China, Rússia,
EUA, Reino Unido, França e
Alemanha) para que o país persa enviasse seu urânio pouco
enriquecido ao exterior e em
troca recebesse o combustível
com enriquecimento adequado
para fins medicinais foi levantada pelo chanceler iraniano e
pelo presidente da agência atômica do país, depois que o presidente Mahmoud Ahmadinejad reacendeu nesta semana a
esperança de que haja um acordo sobre o assunto.
Amorim disse "nunca sequer
ter comentado" essa hipótese
com o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e disse que, havendo o pedido, seria necessário
estudar se há "condições técnicas" para implementá-la.
"Não vejo nisso nenhum problema, mas também não vejo
nenhum atrativo. Não teria
preconceito contra ela [a ideia],
se houver um pedido da comunidade internacional. Até hoje,
não veio", afirmou.
Amorim descartou completamente, porém, a possibilidade de o Brasil vir a enriquecer o
urânio para o Irã. "Pelo que tenho lido, o Brasil, não tecnologicamente, mas industrialmente, não teria condições de produzir essa quantidade que seria
necessária. Se você não tem
condições de fazer industrialmente, não adianta discutir hipótese", afirmou.
O chanceler afirmou ver disponibilidade do Irã em negociar a questão, contrariamente
à avaliação do embaixador dos
Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon. "O que tenho
sentido das autoridades iranianas com quem falei, o próprio
presidente Ahmadinejad e o
ministro [das Relações Exteriores, Manouchehr] Mottaki é
disposição de trabalhar e trabalhar com base na proposta de
acordo que foi feita pela agência [AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica)]."
Amorim evitou usar a palavra "cooperação" para definir a
atitude do Brasil em relação à
questão nuclear iraniana.
"Eu não diria que é uma colaboração com o Irã. Temos um
diálogo com o Irã, como temos
com os EUA, com a França,
com a Turquia, na busca de
uma solução pacífica e diplomática pra essa questão."
O chanceler confirmou a informação divulgada ontem pela
Folha de que o Brasil vê a Turquia como um bom destino para o urânio do Irã. "As soluções
aventadas, que envolveriam
depósito do urânio enquanto
não se efetiva a troca, esse país
poderia ser a Turquia. Não posso falar em nome deles, mas é
uma hipótese correta, viável. A
gente tem trocado ideias sobre
as formas de chegar a esse
acordo, porque há uma proximidade entre aquilo que o Irã
está desejoso de fazer e o que
foi proposto. É uma questão de
afinar um pouco a sintonia."
Venezuela
Amorim comentou também
o cenário venezuelano. Disse
que não cabe ao Brasil julgar a
democracia da Venezuela e que
não há "democracia perfeita".
Afirmou acreditar que, "em política, você pode ser mais eficaz
por meio do exemplo". Disse
que é isso que o Brasil "tem feito, de maneira fraternal, sem
imposições e interferências".
Para ele, "os povos, quando
estão realmente insatisfeitos,
encontram sua maneira. Não
me parece que seja o caso lá.
Não me parece que a maioria
do povo esteja insatisfeita".
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