São Paulo, sábado, 06 de fevereiro de 2010

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Amorim não descarta receber urânio do Irã

Chanceler diz nunca ter tratado tema com Lula, mas que não tem preconceito contra ideia caso haja pedido da comunidade internacional

Ministro confirma, porém, que a possibilidade de que seja a Turquia a receber o combustível iraniano agrada mais ao governo brasileiro

Juan Mabromata/ France Presse
Amorim ao lado da ministra argentina da Indústria, Debora Giorgi

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

O chanceler Celso Amorim afirmou ontem, em Buenos Aires, não ter "preconceito" contra a hipótese de o Brasil ser depositário de urânio enriquecido iraniano desde que esse fosse um pedido feito pela "comunidade internacional".
A possibilidade de que o Brasil participasse de alguma forma do acerto entre o Irã e as potências do P5+1 (China, Rússia, EUA, Reino Unido, França e Alemanha) para que o país persa enviasse seu urânio pouco enriquecido ao exterior e em troca recebesse o combustível com enriquecimento adequado para fins medicinais foi levantada pelo chanceler iraniano e pelo presidente da agência atômica do país, depois que o presidente Mahmoud Ahmadinejad reacendeu nesta semana a esperança de que haja um acordo sobre o assunto.
Amorim disse "nunca sequer ter comentado" essa hipótese com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que, havendo o pedido, seria necessário estudar se há "condições técnicas" para implementá-la.
"Não vejo nisso nenhum problema, mas também não vejo nenhum atrativo. Não teria preconceito contra ela [a ideia], se houver um pedido da comunidade internacional. Até hoje, não veio", afirmou.
Amorim descartou completamente, porém, a possibilidade de o Brasil vir a enriquecer o urânio para o Irã. "Pelo que tenho lido, o Brasil, não tecnologicamente, mas industrialmente, não teria condições de produzir essa quantidade que seria necessária. Se você não tem condições de fazer industrialmente, não adianta discutir hipótese", afirmou.
O chanceler afirmou ver disponibilidade do Irã em negociar a questão, contrariamente à avaliação do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon. "O que tenho sentido das autoridades iranianas com quem falei, o próprio presidente Ahmadinejad e o ministro [das Relações Exteriores, Manouchehr] Mottaki é disposição de trabalhar e trabalhar com base na proposta de acordo que foi feita pela agência [AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica)]."
Amorim evitou usar a palavra "cooperação" para definir a atitude do Brasil em relação à questão nuclear iraniana.
"Eu não diria que é uma colaboração com o Irã. Temos um diálogo com o Irã, como temos com os EUA, com a França, com a Turquia, na busca de uma solução pacífica e diplomática pra essa questão."
O chanceler confirmou a informação divulgada ontem pela Folha de que o Brasil vê a Turquia como um bom destino para o urânio do Irã. "As soluções aventadas, que envolveriam depósito do urânio enquanto não se efetiva a troca, esse país poderia ser a Turquia. Não posso falar em nome deles, mas é uma hipótese correta, viável. A gente tem trocado ideias sobre as formas de chegar a esse acordo, porque há uma proximidade entre aquilo que o Irã está desejoso de fazer e o que foi proposto. É uma questão de afinar um pouco a sintonia."

Venezuela
Amorim comentou também o cenário venezuelano. Disse que não cabe ao Brasil julgar a democracia da Venezuela e que não há "democracia perfeita". Afirmou acreditar que, "em política, você pode ser mais eficaz por meio do exemplo". Disse que é isso que o Brasil "tem feito, de maneira fraternal, sem imposições e interferências".
Para ele, "os povos, quando estão realmente insatisfeitos, encontram sua maneira. Não me parece que seja o caso lá. Não me parece que a maioria do povo esteja insatisfeita".


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