São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2011

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Choques ameaçam 120 mil obras de arte

Especialistas temem que confrontos entre manifestantes na praça Tahrir atinjam o acervo do Museu Egípcio

Além do risco de saques, peças de 5.000 anos são sensíveis a fumaça e a eventuais mudanças de umidade e temperatura

ANA FREITAS
DE SÃO PAULO

A poucos metros da praça Tahrir -onde manifestantes pró e contra o governo trocam tiros, pedradas e bombas incendiárias- obras de arte de mais de 5.000 anos, sensíveis a fumaça e a mudanças de temperatura, correm risco de degradação.
Elas estão no Museu Egípcio, que foi construído em 1902 e reúne o maior acervo de obras do Egito antigo -cerca de 120 mil.
O local já foi alvo de saqueadores no início dos conflitos e teve seu jardim atingido em atos de vandalismo.
A rede de TV Al Jazeera entrou no museu e mostrou vitrines e estatuetas em pedaços e múmias destruídas.
Segundo o ministro egípcio para Antiguidades, Zahi Hawass, cerca de 70 peças sofreram avarias e terão de ser restauradas. Entre elas estão duas esculturas do faraó Tutancâmon, que reinou por volta de 1330 a.C.
Ele rejeita, porém, comparações com a destruição do patrimônio histórico no Iraque e no Afeganistão.
Para Denis Molino, professor de história da arte e assistente da curadoria do MASP (Museu de Arte de São Paulo), o prejuízo causado por uma eventual invasão do museu seria inestimável.
"Apesar de grande parte da coleção de arte egípcia ter sido roubada por europeus nos séculos 18 e 19, o museu reúne tesouros de Tutancâmon e artefatos datados de 3.000 a.C.", disse.
No acervo estão a múmia e a máscara mortuária de Tutancâmon, além de dez múmias de faraós, como a de Ramsés 2º.
Segundo Molina, outra peça importante é a Paleta de Narmer, hieróglifo datado de 3.200 a.C. "São inscrições pré-dinásticas sobre a união das terras [do norte e do sul] que deu ao Egito uma unidade política e econômica".
Segundo ele, as obras mais frágeis são aquelas elaboradas em madeira e com pigmentos. Em hipótese de invasão, mesmo que não fossem destruídas ou roubadas, elas se degradariam, pois o museu deixaria de ter temperatura e umidade controladas.
O acervo também é sensível à fumaça trazida de incêndios na praça.
A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) fez um apelo para que o país proteja suas obras.
"O valor de 120 mil peças no Museu Egípcio do Cairo é inestimável, não só em termos científicos ou financeiros, mas porque eles representam a identidade cultural do povo egípcio", afirmou Irina Bokova, diretora-geral da Unesco.

Com agências de notícias


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