São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2011

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Crise coloca em xeque futuro da economia do Egito

País árabe viveu forte crescimento nos últimos anos, mas renda per capita permaneceu em patamar baixo

Há dois anos, país foi incluído por consultoria britânica em grupo de emergentes e tidos como promissores

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

A economia do Egito cresceu quase três vezes acima da média mundial nos últimos cinco anos. Com essa credencial, o país entrou na listas de países emergentes considerados promissores.
Mas a atual crise política, que explodiu em protestos há 12 dias, colocou as apostas positivas em relação à nação árabe em xeque.
"A crise certamente terá alguns efeitos de curto prazo adversos", disse David Butter, diretor editorial de Oriente Médio e norte da África da consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU).
A EIU estava entre os que viam boas perspectivas para o Egito. Em 2009, a consultoria britânica inventou o acrônimo "Civets" para se referir a Colômbia, Indonésia, Vietnã, Egito, Turquia e África do Sul como países emergentes com forte potencial de crescimento econômico.
A expressão posteriormente foi adotada pelo HSBC e começou a ficar conhecida.

INVESTIMENTOS ALTOS
População jovem e crescente e forte desempenho econômico mesmo durante a crise de 2008 estão entre as causas de otimismo em relação aos "Civets", ou civeta na tradução para português (mamífero veloz de família próxima à dos felinos e encontrado em alguns dos países da sigla).
No caso do Egito, o bom desempenho dos últimos anos foi movido a elevados investimentos do setor privado que vieram a reboque de reformas implantadas pelo governo a partir de 2004.
Para atrair investidores, impostos e tarifas de importação foram reduzidos e no caso do setor de turismo -que responde por mais de 11% da economia do país- abolidos de vez.
As medidas tiveram resultado. O país recebeu volume recorde de investimentos estrangeiros diretos em 2007, acima de US$ 10 bilhões. O número caiu em 2008 com a crise mundial, mas permaneceu em patamar alto.
A economia do país também se beneficiou do boom vivido pelos países do vizinho Oriente Médio com a bonança do petróleo caro. Isso se traduziu principalmente em remessas de dinheiro mandadas por egípcios radicados na região.
O progresso teve impacto em indicadores sociais, mas, como a crise atual confirma, o ritmo de melhorias não foi suficiente para contentar uma população crescentemente frustrada com a combinação de exclusão política e violência policial.
A renda per capita do país saltou 56% entre 2000 e 2009, de US$ 1.566 para US$ 2.450. Mas, com esse patamar, o Egito permaneceu no grupo de países de renda baixa, muito inferior aos cerca de US$ 5.400 (renda também longe de ser considerada elevada) recebidos em média pelos habitantes do Oriente Médio e norte da África.
Além disso, segundo Butter, "o largo hiato de renda entre ricos e pobres" provavelmente aumentou nos últimos anos.
A maior desigualdade somada à inflação de alimentos que disparou nos últimos anos com a alta nos preços de commodities foram, segundo o analista, causas coadjuvantes da crise atual.
Danos econômicos imediatos da crise foram sentidos pelo setor de turismo. Além disso, várias empresas estrangeiras interromperam a produção no país e retiraram seus funcionários.
Outra importante fonte de receita para o governo, o movimento de carga pelo canal de Suez, parece não ter sido atingido por enquanto.
Os prejuízos contabilizados até agora vão afetar a economia, que vinha crescendo a ritmo muito forte, mas podem ser revertidos.
Mas isso, dizem analistas, dependerá de quanto vai demorar para que a crise seja contida e de como a provável transição para um novo governo será conduzida.


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