São Paulo, segunda-feira, 06 de março de 2006

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NUCLEAR

Intenções do regime islâmico são discutidas por agência da ONU, que pode levar o caso ao Conselho de Segurança

Irã ameaça acelerar a produção de urânio

DA REDAÇÃO

O Irã ameaçou ontem desencadear um programa de enriquecimento de urânio "em escala industrial", caso o Conselho de Governadores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) decida, em reunião a ser aberta hoje em Viena, encaminhar seu programa nuclear ao Conselho de Segurança da ONU.
"A pesquisa e o desenvolvimento na área nuclear fazem parte de nosso interesse nacional, e o Irã não mudará de posição", afirmou em Teerã o principal negociador iraniano, Ali Larijani. Também afirmou que a produção de combustível nuclear em larga escala seria a resposta de seu país, caso a ONU ameace com sanções.
Pouco antes, o porta-voz da diplomacia iraniana, Hamid Reza Assefi, reafirmara que seu país prosseguiria com suas pesquisas na área nuclear, já que "a propaganda e a intimidação jamais nos atemorizarão".
A AIEA, agência da ONU que supervisiona o uso pacífico da energia nuclear, havia aprovado em 4 de fevereiro uma resolução que exortava o Irã a interromper o enriquecimento de urânio.
Caso comprove que o pedido foi rejeitado, restará à agência a alternativa de encaminhar o caso ao CS, onde a regime islâmico islâmica poderia sofrer punições.
A agência acredita que o governo iraniano possui um programa nuclear paralelo para a produção da bomba atômica. Teerã argumenta, no entanto, que procura apenas obter tecnologia e combustível para centrais termonucleares que gerariam eletricidade.
A questão possui controvérsias técnicas. Teoricamente, o Irã pode enriquecer urânio. Essa atividade não é proibida pelo Tratado de Não-Proliferação, da qual é signatário. O problema está na falta de credibilidade do país, que omitiu informações importantes dos inspetores da AIEA.
Larijani disse ontem que a transferência do caso ao Conselho de Segurança "não levará nosso país a recuar". Ele também deu a entender que o Irã poderá reagir às atuais pressões com a arma do petróleo. A ameaça ganha peso em razão de sua posição de quarto maior produtor mundial.
A AIEA discutirá a partir de hoje o relatório de seu diretor, o Nobel da Paz Mohammed ElBaradei. O texto, já entregue à mídia, afirma que o Irã está utilizando 20 centrífugas para o enriquecimento de urânio e que tem rejeitado inspeções a que está obrigado pelo Tratado de Não-Proliferação.
O processo de enriquecimento foi reiniciado em janeiro, depois de interrupção de dois anos, solicitada pelo Reino Unido, França e Alemanha, que negociam em nome da União Européia. Representantes dos três países voltaram a dialogar com o Irã há dias, mas de maneira inconclusiva.
A UE esperava que Teerã chegasse a um acordo em suas negociações com a Rússia, para a criação de uma empresa binacional, que produziria combustível nuclear em território russo. Essa alternativa seria aceitável para a comunidade internacional.
Os Estados Unidos acreditam que o Irã utilize as negociações com Moscou para ganhar tempo.
No Conselho de Segurança é bastante improvável que sejam imediatamente votadas sanções econômicas. China e Rússia, membros permanentes com direito a veto, opõem-se a essa solução radical. Aceitariam de início apenas uma advertência. Pequim e Moscou participam de programas internos de desenvolvimento do Irã e hesitam em interromper os lucros que esses programas lhes proporcionam.


Com agências internacionais


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