|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
País ainda está
bem longe da
primeira bomba
WILLIAM BROAD
DO "NEW YORK TIMES"
Quando o Irã rompeu em janeiro os lacres de sua usina de
enriquecimento de urânio, a
comunidade internacional se
perguntou em quanto tempo o
país teria a bomba atômica que
modificaria o equilíbrio das
forças no Oriente Médio.
Mas por detrás do alarmismo
há um retrato bem mais complexo. Especialistas afirmam
que há ainda sérias dificuldades técnicas em cada uma das
etapas para chegar à bomba,
sobretudo na conversão do minério de urânio em gás e na
transformação desse gás em
combustível atômico.
Para tanto, seriam necessários dez anos com a produção
de uma centena de centrífugas
por semana para viabilizar as
instalações de Natanz.
O governo iraniano se disse
disposto a instalar 3.000 centrífugas, o que seria teoricamente
suficiente para produzir combustível para dez ogivas nucleares por ano.
Esse objetivo, no entanto, dificilmente seria alcançado, dizem especialistas americanos.
Para tanto, os iranianos precisariam de ajuda, de sorte e até
mesmo de orações.
As estimativas sobre o prazo
necessário para que o Irã obtenha sua primeira bomba variam de alguns meses, para os
mais alarmistas, até 15 anos. Os
serviços de inteligência americanos acreditam que de cinco a
dez anos o Irã produziria o
combustível necessário.
Outra incerteza diz respeito
ao momento a partir do qual o
Irã se tornará uma ameaça irreversível. Para alguns, esse momento está na produção de
combustível nuclear, mas outros, e é o caso dos israelenses,
acreditam que isso ocorre numa etapa anterior, com a acumulação de conhecimentos suficientes no setor atômico.
Uma das charadas é a seguinte: com tantos cientistas na área
e tanto dinheiro obtido com a
exportação de petróleo, por
que Teerã não obteve a bomba
já há alguns anos atrás?
Os Estados Unidos demoraram três anos. O Paquistão e a
Coréia do Norte, bem mais pobres, demoraram dez. O Irã já
está empenhado em seu programa há pelo menos 20.
Nem sempre a bomba foi
uma prioridade das lideranças
religiosas. Elas perseguiram
cientistas que se exilaram depois da Revolução de 1979. Os
EUA também fizeram sua parte, ao pressionar a Rússia e a
China a não darem ao Irã as
primeiras ferramentas de sua
capacitação nesse campo.
"Há certas técnicas e segredos que não acreditamos que
os iranianos já possuam", disse
em fevereiro Sean McCormack, porta-voz do Departamento de Estado.
Alguns especialistas prestam
apenas atenção ao urânio. Mas
poucos se assustariam com o
plutônio, por acreditarem se
tratar de algo ainda mais difícil
de obter. Há nisso um equívoco, dizem cientistas da área.
"Os EUA estão subestimando
a força da pesquisa no Irã e a
ingenuidade que os cientistas
de lá demonstram ao tentarem
trabalhar com desenhos rudimentares que caem em suas
mãos", diz Mohammad Sahimi, cientista iraniano que deixou seu país em 1978.
O raciocínio, como um todo,
envolve as centrífugas, aparelhos para o enriquecimento de
urânio com rotação a alta velocidade em torno de um eixo.
Depois de duas décadas, o Irã
ainda está na fase inicial.
O urânio enriquecido em 4%
pode mover usinas termonucleares; se ele o for a 90%, poderá ser usado para a bomba. Em
1987 o Irã passou a comprar
desenhos de Abdul Qadeer
Kahn, o traficante paquistanês
do mercado clandestino de
componentes nucleares. O negócio incluía componentes de
500 centrífugas já usadas.
Mas esse equipamento não
funcionou. O Irã então pediu
em 1995 para que os russos lhes
fornecessem dezenas de milhares de centrífugas. O governo
Clinton convenceu Moscou a
não fechar o negócio.
A partir dos desenhos de
Kahn, os iranianos então planejaram colocar até 50 mil centrífugas em instalações subterrâneas. Mas, de uma cascata
experimental de 164 centrífugas, 50 quebraram ou se desintegraram. O Irã estaria agora
no estágio de consertar as centrífugas ou produzir outras para substituir as inutilizadas.
Texto Anterior: Irã ameaça acelerar a produção de urânio Próximo Texto: Oriente Médio: Olmert promete segunda retirada Índice
|