São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

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Uribe baixa tom e mira economia

Colombiano, que agradeceu apoio de Bush, anuncia plano econômico para atenuar efeito de crise

Desavença com Venezuela pode diminuir crescimento do país; criticado, governo indica que desistirá de acusar Chávez de genocídio

IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

Após quatro dias de crise diplomática com os vizinhos Equador e Venezuela, o governo da Colômbia anunciou ontem um plano econômico de emergência para ajudar empresas e cidades de fronteira, ao mesmo tempo em que baixou o tom da retórica política.
Ontem, Uribe falou apenas para agradecer o presidente dos EUA, o aliado George W. Bush, pelo "apoio à Colômbia" e ao "chamado patriótico" que fez ao Congresso americano para a aprovação do Tratado de Livre Comércio entre os dois países. "Agradeço às palavras que pronunciou ontem [anteontem] George W. Bush, de apoio a Colômbia."
Anteontem, o presidente colombiano ameaçou denunciar Chávez ao Tribunal Penal Internacional por financiamento de genocídio, com base no suposto fornecimento de US$ 300 milhões às Farc. O jornal colombiano "El Tiempo" criticou a intenção em seu editorial: "Não tem que cair na tentação da "diplomacia do microfone" nem na beligerância retórica do chavismo". Após cinco horas de reunião com a Comissão Assessora de Relações Exteriores, formada por ex-presidentes e políticos, a questão foi repassada a um grupo de juristas, para análise, e quase posto de lado.

Resposta econômica
Nos últimos anos, a Colômbia vem crescendo mais de 5% ao ano, mas a crise, principalmente com a Venezuela, poderia fazer a Colômbia crescer 1,3 ponto percentual a menos já neste ano e causar a perda de 100 mil postos de trabalho, segundo cálculos do governo.
Para evitar a retração, o ministro da Fazenda da Colômbia, Oscar Iván Zuluaga, anunciou ontem a criação de linhas de crédito com taxas de juros e prazo especiais para empresas exportadoras. Ainda não há montante definido, mas será crédito em dólares e em pesos, para as pequenas empresas.
A Venezuela é destino de 17,4% do total de exportações da Colômbia, chegando a 50% no caso de produtos manufaturados. Para o Equador vão 3,2%. O plano da indústria e do governo é deslocar essas vendas para países do Caribe e da América do Sul, além do mercado interno. No caso das importações, o governo vai buscar novos fornecedores, o que cria oportunidades para o Brasil.
Já a falta de combustíveis será mais sentida em cidades da fronteira, segundo o governo colombiano. Para estas localidades, além do fornecimento de gasolina, haverá projetos de qualificação de mão-de-obra.
A crise entre Bogotá e Caracas tem causado dificuldades não só econômicas aos cidadãos dos dois países.
O colombiano Jaime Gutierrez, 38, tem casamento marcado em Caracas no dia 29 de março. Não conseguia, conforme disse à Folha, informações do consulado venezuelano, onde seu passaporte está desde o mês passado.
Já Helda Reyes, 33, tem uma cirurgia marcada em Caracas na próxima semana. Fez o pedido de visto há oito dias, pagou US$ 30 e não sabe o que fazer. "Disseram que não tinham papel para imprimir o visto."


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