São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

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Restrição de gasolina leva a greve na divisa

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A SAN ANTONIO DEL TÁCHIRA (VENEZUELA)

Mesmo sem a presença de tropas, o principal ponto da fronteira entre Colômbia e Venezuela voltou a ter um dia tenso ontem por causa das retaliações econômicas adotadas pelo governo Hugo Chávez depois do ataque colombiano em território do Equador, seu aliado.
Pela manhã, um grupo de motoqueiros bloqueou por alguns minutos a ponte Simón Bolívar, que une os dois países, em protesto contra a restrição na venda de gasolina em San Antonio del Táchira -uma medida adotada pelo governo para coibir o contrabando do produto para a Colômbia. A gasolina vendida na Venezuela é uma das baratas do mundo -custa o equivalente a R$ 7 o litro. Na Colômbia, o preço é de cerca de R$ 1,8.

Contrabando
Pelo mesmo motivo, todo o transporte público, feito com ônibus e vans, cruzou os braços por tempo indeterminado. "O presidente não disse para atropelar o povo, mas aqui acatam as ordens ao revés", diz Juan Suarez, dono de um táxi que "opera por posto", isto é, carrega até quatro pessoas de um só vez em linhas fixas. "As regras aqui dependem do gênio do funcionário."
Os condutores alegam que o governo restringiu ontem a venda para apenas 20 litros de combustível por ônibus -normalmente, podem comprar 72 litros. Além disso, a Guarda Nacional só permitia que os veículos de transporte público atravessassem para a Colômbia com no máximo quatro litros no tanque -o restante era retirado e apreendido.
Suspeitos de fazer contrabando de gasolina, os cerca de 2.000 veículos de transporte urbano da fronteira são submetidos a regras rígidas: só podem abastecer uma vez por dia num posto determinado pelo governo. Muitos motoristas costumam dormir na fila, que dura de três a quatro horas.
"Nós não somos "gasolineiros" [contrabandistas], mas tampouco criticamos os que fazem porque aqui não têm trabalho", disse o presidente do sindicato dos condutores, Celestino Moreno. Segundo ele, é uma "greve obrigatória, já que não tem gasolina".

Sem tanques
Além da restrição à gasolina -os colombianos estão proibidos de comprá-la em San Antonio-, o governo Chávez também vetou a entrada de caminhões do país vizinho, com a exceção dos que transportam alimentos perecíveis. Durante alguns momentos, a fronteira só ficou aberta a pedestres.
O reforço de tropas e tanques, no entanto, ainda não chegou à região de San Antonio, apesar de o ministro da Defesa, Gustavo Rangel Briceño, ter dito ontem que cerca de 85% das tropas previstas já estarem mobilizadas.


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