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Cuba consuma expurgo de dirigentes
Antes cotados para suceder os Castro, Carlos Lage e Felipe Pérez Roque assinam cartas em que admitem erros não especificados
Ex-chanceler e ex-"premiê", atacados por Fidel há três dias, renunciam a postos no PC e no governo; chanceler
do PC também é substituído
Adalberto Roque/France Presse
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Cubanos fazem fila em Havana para comprar o jornal oficial do PC, "Granma", com as cartas de Carlos Lage e Felipe Pérez Roque
DA REDAÇÃO
O governo cubano completou ontem o expurgo de dois altos dirigentes afastados de cargos executivos na reforma ministerial de segunda-feira.
O jornal oficial do Partido
Comunista, "Granma", publicou cartas do ex-secretário do
Conselho de Ministros Carlos
Lage e do ex-chanceler Felipe
Pérez Roque em que eles reconhecem "erros" não especificados e renunciam aos demais
postos que ocupavam no PC e
no governo. Até a semana passada, ambos eram apontados
como possíveis sucessores dos
irmãos Castro.
As cartas surpreenderam os
cubanos nas ruas e semearam
mais confusão entre os que tentam interpretar as motivações
da reforma ministerial promovida por Raúl Castro, 77, que
ocupa a Presidência da ilha desde fevereiro de 2008.
Os textos têm data do dia 3,
quando o ex-ditador Fidel Castro, 82, publicou na internet
"reflexão" acusando Lage e Pérez Roque de serem "indignos"
e alimentarem esperanças no
"inimigo externo". No anúncio
oficial da reforma ministerial,
em que Raúl trocou oito ministros, o tom havia sido outro: os
"companheiros" Lage e Pérez
Roque foram "liberados".
O médico Lage, 57, e o engenheiro Pérez Roque, 42, têm
longa história de atuação prestigiada na liderança cubana.
O primeiro era o premiê de
fato há quase duas décadas e
conduziu pequenas reformas
que permitiram ao regime sobreviver ao fim da URSS, em
1991. Era tido como "pragmático", o que em tese o alinharia a
Raúl, que defende reformas liberalizantes na economia.
O segundo, ex-dirigente da
Juventude Comunista, foi secretário pessoal de Fidel Castro
e chanceler desde 1999. Era
considerado um "dogmático",
mais perto do pensamento do
Castro mais velho.
Ambos eram próximos do
presidente venezuelano, Hugo
Chávez, que não comentou as
mudanças na ilha. Especialistas
especulam que isso incomodaria Raúl, disposto a tomar as rédeas da relação com o país, hoje
o principal sócio de Cuba.
Na reforma, Lage foi substituído pelo general Amado
Guerra, que era secretário do
Ministério das Forças Armadas, base do general Raúl. Pérez
Roque foi substituído pelo vice-chanceler Bruno Rodríguez, 51,
ex-embaixador na ONU.
"O que fizeram pode ter sido
grave, mas não foi contra Raúl.
Parece ter sido contra Fidel",
diz uma fonte brasileira próxima de Havana. Entre as especulações, ela não descarta a de
que Lage tenha feito algum movimento independente em direção à nova Casa Branca.
Outros analistas apostam em
outra direção: as substituições
são parte dos planos de Raúl
para criar um entorno de extrema confiança diante dos desafios de uma nova relação com
Washington e a crise econômica. Fidel teria aparecido para
validar a reforma e enviar mensagem ao exterior de que os irmãos seguem unidos.
O certo é que, à diferença de
Pérez Roque, que chegou a
acertar viagem para o Japão no
dia 20, Lage já dava mostras de
enfraquecimento. Sumira de
eventos e da imprensa oficial.
Seu filho, Carlos Lage Cordorniú, 27, foi destituído da
FEU (Federação de Estudantes
Universitários) no fim de 2007
após criticar o governo num seminário da revista acadêmica
cubana "Temas". Rumoreia-se
que ele teria deixado a ilha.
Críticas na internet
O governo também removeu
do cargo o secretário de Relações Internacionais do PC, Fernando Remírez de Estenoz. A
imprensa oficial citou outro
nome no cargo ontem, Jorge
Martí Martínez.
Estenoz, como Lage e Pérez
Roque, era "novo" em relação à
cúpula. Serviu na Seção de Interesses de Cuba nos EUA.
O sumiço da "ala jovem" cubana provocou críticas de cubanos na internet. A frase de Fidel
de que ambos chegaram ao poder "sem sacrifício" foi lida como um reforço dos "históricos", os com mais de 70 que lutaram na guerrilha. Até o governista "Blog da Yohandry" se
perguntava: "Confiava nas figuras a que se faz referência, e eu
gostaria de saber mais elementos a respeito".
"Custo a entender porque tinha Lage e Felipe em um pedestal; acumularam méritos e
pareciam entregues à revolução", disse María López, de 72
anos, nas ruas de Havana.
Com agências internacionais
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