São Paulo, sábado, 06 de março de 2010

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Al Qaeda decreta toque de recolher no Iraque

Mensagem publicada na internet diz que aqueles que transgredirem ordem e forem votar amanhã estarão expostos à "fúria de Alá"

Para a rede terrorista sunita, eleição parlamentar vai beneficiar setores que são dominados por seus rivais xiitas e, por isso, é ilegítima


Hadi Mizban/Associated Press
Motorista passa por revista policial em rua da capital Bagdá; iraquianos irão às urnas amanhã

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

Em mais uma iniciativa para tentar impedir que ocorra a eleição parlamentar de amanhã, o braço da rede terrorista Al Qaeda no Iraque decretou ontem um toque de recolher em todo o país, alertando a população a não votar sob pena de sofrer ataques devastadores.
Postado em sites islâmicos extremistas pelo autodenominado Estado Islâmico do Iraque, o aviso veio no último dia de campanha para uma eleição vista como teste para as autoridades de segurança iraquianas, confrontadas há meses pela ameaça de "banho de sangue".
"O Estado Islâmico declara o toque de recolher no dia das eleições, das 6h às 18h, em todo o Iraque e, especialmente, nas áreas sunitas", anunciou o grupo, numa referência às regiões onde tem mais força, como Ramadi, a oeste de Bagdá.
A sunita Al Qaeda considera que a eleição é ilegítima porque acabará, segundo o grupo terrorista, beneficiando invariavelmente setores governistas, dominados pela facção rival xiita. Cerca de 60% da população iraquiana segue o xiismo, uma dissidência do islã surgida de divergências acerca da sucessão do profeta Maomé.
Na mensagem de ontem, a Al Qaeda deixou claro que pretende cumprir a sua promessa de minar o pleito. "Qualquer um que tomar parte desse dia, infelizmente, acabará se expondo à fúria de Alá e a todo tipo de armas usadas pelos mujahedin [guerreiros religiosos]."
"Em nome da segurança do nosso povo, qualquer um que tomar conhecimento desse aviso repasse a quem não soube e se abasteça com as provisões necessárias para o toque de recolher", completa.
Numa aparente tentativa de reavivar tensões sectárias cada vez mais rejeitadas pelos iraquianos, o texto diz que "só a linguagem da força, do combate, do massacre e toneladas de explosivos podem derrubar essas cabeças apodrecidas a fim de purificar a Terra, que está repleta de seu politeísmo e infidelidade". Na Província de Diyala, o apelo foi reforçado com panfletos advertindo à população que quem votar correrá risco de ser morto.
Vários ataques foram lançados nos últimos dias em Baquba e Bagdá, deixando cerca de 50 mortos. Embora a autoria não tenha sido reivindicada, os atentados são atribuídos à Al Qaeda no Iraque.
Não estão claras as relações entre a Al Qaeda no Iraque e os fundadores da rede comandada pelo saudita Osama bin Laden.
As recentes manobras evidenciam um descompasso entre os sunitas ultrarradicais, como a Al Qaeda, e os que buscam participar do processo político. Ao contrário da eleição de 2005, líderes sunitas mantiveram suas candidaturas e pediram à população que compareça em massa à urnas.
Não se sabe se as ameaças à Al Qaeda conseguirão inibir a participação eleitoral.
Em pronunciamento na TV ontem, o premiê Nuri al Maliki, um xiita nacionalista que se considera responsável pela queda da violência desde 2007, responsabilizou agentes estrangeiros pelos ataques. Sem citá-los nominalmente, ele se referiu aos vizinhos Síria e Irã, que não teriam interesse em ver o surgimento de um Iraque unido e próspero.
As medidas de segurança para o pleito incluem a proibição de carros e caminhões no centro das grandes cidades e a mobilização de todos os efetivos de polícia e Exército. O número do contingente é mantido em sigilo, mas é estimado em centenas de milhares de homens.
Ainda ontem, líderes iraquianos pediram à população, durante as orações de sexta-feira, dia sagrado para os muçulmanos, que votem nas eleições para consolidar a frágil democracia do país.
A campanha foi acompanhada com atenção pela maioria dos iraquianos, que parece não perder uma oportunidade de debater em público sobre a política do país.


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