São Paulo, domingo, 06 de março de 2011

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Eleições argentinas ocorrem à sombra de ex-presidentes

De olho em outubro, Cristina Kirchner e Ricardo Alfonsín já exploram os dividendos da memória de seus "criadores'

Peronismo continua exercendo influência no país e é usado como bandeira por políticos de esquerda e de direita

LUCAS FERRAZ
DE BUENOS AIRES

A Argentina terá nas eleições deste ano, além da sombra do peronismo, o protagonismo post mortem de outros dois ex-presidentes.
Néstor Kirchner e Raúl Alfonsín morreram recentemente, mas seus herdeiros políticos, a atual mandatária Cristina Kirchner e o pré-candidato à presidência Ricardo Alfonsín, já começaram a ganhar dividendos políticos da exploração da memória de seus "criadores".
Eles devem ser rivais nas eleições de outubro.
Maior expoente do kirchnerismo, Cristina já avisou que tem o "dever histórico" de fazer a defesa do modelo implementado pelo marido, em 2003. Ela ainda não anunciou oficialmente se será candidata à reeleição, como esperado.
Após a morte de Néstor, em outubro passado, a avaliação de Cristina praticamente dobrou. E ela ainda continua em luto: trocou as roupas e vestidos brancos e em tons fortes pelo preto, que usa diariamente.
A presidente argentina também não passa um discurso sem fazer referência a "ele", Néstor, e já inaugurou uma dezena de casas, escolas, parques e ruas com o nome do ex-presidente.
A morte de Raúl Alfonsín, em março de 2009, teve o mesmo efeito na carreira do filho Ricardo. Antes um inexpressivo deputado federal, logo tornou-se nacionalmente conhecido. Contribuiu ainda a semelhança física entre eles, principalmente no idêntico bigode.
Ricardo, agora, viaja pelo país defendendo o diálogo e o fortalecimento das instituições como forma de evitar a divisão do país e reforçar a democracia, o principal legado de seu pai -presidente da redemocratização após a última ditadura, em 1983.
"Raúl foi a expressão de uma política de tolerância, diálogo e respeito pela democracia. E são essas coisas que faltam à Argentina", diz Augustín Campero, um dos coordenadores da pré-campanha de Ricardo.
O político lidera a disputa interna da opositora UCR (União Cívica Radical), que vai definir o candidato à Presidência do partido.
Os Kirchner e os Alfonsín sempre mantiveram boas relações. De perfil centro-esquerdista, Ricardo foi criticado recentemente por colegas da UCR que alegam sua incapacidade de criticar a atuação de Cristina.

PERONISMO
Morto há 36 anos, Juan Perón continua sendo o protagonista da política argentina.
Desde os anos 40, quando chegou ao poder pela primeira vez, surgiram várias denominações para seu movimento político: peronismo original, peronismo dissidente, peronismo social-democrata, peronismo neoliberal, peronismo fascista e peronismo marxista.
"O legado de Perón pode ser usado por qualquer um, à direita ou à esquerda", diz Roberto Bacman, cientista político do Centro de Estudo de Opinião Pública.
Segundo ele, a influência do kirchnerismo é mais forte que a de Alfonsín, que já estava afastado do poder havia 20 anos quando morreu. "Néstor Kirchner morreu no pleno exercício do poder, sendo que ele implementou um novo contrato social que ainda está vigente", diz.


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