São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Seguidores de Al Sadr continuam rebelião; clérigo se refugia em mesquita ao sul de Bagdá e desafia EUA

EUA ameaçam prender líder xiita rebelde

DA REDAÇÃO

Autoridades dos EUA ameaçaram ontem prender o líder xiita radical Moqtada al Sadr, que está por trás de um levante contra a ocupação americana iniciado no fim de semana. Refugiado em uma mesquita em Kufa, ao sul de Bagdá, protegido por sua milícia, ele manteve o tom desafiador.
Dan Senor, porta-voz da administração americana em Bagdá, disse que um juiz iraquiano havia emitido uma ordem de prisão contra Al Sadr há vários meses em conexão com o assassinato de um outro líder religioso xiita em 2003.
Senor não explicou por que a suposta ordem de prisão só foi revelada agora. O objetivo parece ser pressionar Al Sadr.
Protestos de xiitas em sete cidades iraquianas anteontem resultaram na morte de ao menos 48 iraquianos, oito soldados americanos e um soldado salvadorenho.
"Não há chance de ele se entregar. Se tentarem prendê-lo, haverá uma explosão", disse um seguidor em Sadr City, região pobre de Bagdá, de maioria xiita, antes chamado de Saddam City, e que recebeu o novo nome em homenagem ao pai de Al Sadr, um importante aiatolá assassinado por Saddam Hussein. É um dos focos do levante e bastião de Al Sadr.
Desde a queda de Saddam Hussein, em abril de 2003, os EUA têm enfrentado forte resistência por parte de insurgentes sunitas, que são minoria no Iraque, mas controlavam o poder no regime do sunita Saddam. Já os xiitas -que são maioria e eram reprimidos por Saddam- têm realizado protestos contra a ocupação, mas geralmente sem violência.
Diante da perspectiva de rebeliões sunitas e xiitas, os EUA já estudam enviar mais soldados para o Iraque. Atualmente, há 130 mil.
O crescimento da violência ocorre no momento em que o enviado da ONU, o argelino Lakhdar Brahimi, chega a Bagdá para discutir com os EUA e com o Conselho de Governo Iraquiano (submetido à administração americana) a transferência de poder e futuras eleições.
Ontem, o clima seguia tenso em Sadr City. Anteontem, seguidores de Al Sadr tentaram tomar postos policiais na região. Blindados americanos cercaram o bairro. Helicópteros bombardearam alvos em Shula, outro distrito de maioria xiita da capital, em resposta, segundo fontes americanas, a ataques às forças de ocupação. Não havia informações sobre mortos ou feridos.
Em Basra, a segunda cidade mais importante do país (maioria xiita), seguidores de Al Sadr tentaram tomar prédios do governo. Tropas britânicas reagiram.
Também houve conflitos em Najaf, cidade sagrada xiita, e em Amarah, ambas no sul do país.
A ordem de prisão contra Al Sadr está relacionada ao assassinato do aiatolá Abdul Majid al Khoei numa mesquita de Najaf há um ano. Ele nega envolvimento.
Ontem, o administrador americano em Bagdá, Paul Bremer, qualificou Al Sadr como "fora-da-lei" por tentar usurpar a autoridade legítima dos EUA e do Conselho de Governo Iraquiano.
Em nota, Al Sadr respondeu: "Sou acusado por um dos líderes do mal, Bremer, de ser um fora-da-lei. Se isso significa violar a lei da tirania americana e sua nojenta Constituição [iraquiana], tenho orgulho disso".
"Todos precisam fazer o máximo para acalmar a situação", disse Mohammed Bahr al Uloom, um dos representantes da maioria xiita no Conselho Iraquiano.
Segundo Al Uloom, o aiatolá Ali al Sistani, o principal líder xiita do Iraque, também teria pedido calma, mas não houve uma declaração pública nesse sentido.
Al Sadr teria se recusado a receber uma delegação de líderes religiosos e políticos xiitas na mesquita de Kufa. Os principais líderes religiosos xiitas se opõem à ocupação, mas a toleram por enquanto como única forma de reduzir os riscos de mais violência.


Com agências internacionais

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