São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

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AMÉRICA DO SUL

Flores e García tentam ir ao segundo turno com Humala

Disputa em eleições no Peru é pelo segundo lugar

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

A dinâmica campanha presidencial peruana chega à reta final marcada por uma acirrada disputa entre a direitista Lourdes Flores e o ex-presidente Alan García em torno de quem vai enfrentar o candidato nacionalista Ollanta Humala no segundo turno, de acordo com a análise das últimas pesquisas de opinião.
"A luta até domingo está centrada em Flores e García. Esse é o tema fundamental. Humala vai passar sem surpresas. O que é preciso ver é se ele supera -e por quanto-o que as pesquisas têm lhe dado, se há voto escondido ou não", disse à Folha Giovanna Peñaflor, diretora do respeitado instituto de opinião Imasen, que faz apenas levantamentos privados para partidos e empresas.
Seu colega Manuel Saavedra, do instituto CPI, concorda: "A pergunta agora é se García poderá alcançar Flores. Ela sofreu quedas pequenas nos últimos meses, enquanto ele se recuperou aos poucos, de tal maneira que as últimas pesquisas davam uma diferença de 3 e 3,5 pontos percentuais entre os dois", disse à Folha.
Para Saavedra, não há dúvida de que haverá um segundo turno em 9 de maio e de que Humala estará na cédula: "A único incógnita é quem o acompanha. Acho que Flores ainda tem muito mais chance do que García, mas não sabemos o que pode ocorrer na reta final". Pela lei eleitoral, a realização e a divulgação de pesquisas de opinião são proibidas na última semana de campanha.
No último levantamento do CPI, Humala teve 31,5% das intenções de voto, seguido por Flores (26,8%) e García (23,1%). Tanto Saavedra quanto Peñaflor rechaçam um cenário igual ao boliviano, em que Evo Morales ganhou no primeiro turno, contrariando todas as pesquisas.
Alfredo Torres, do Instituto Apoyo, disse, em artigo publicado no domingo, que a diferença entre García e Flores "é tão pequena que a definição de que passará ao segundo turno será "fotográfica'".
Depois de liderar em janeiro, Humala voltou a ficar atrás de Flores, mas se recuperou nas últimas semanas e consolidou uma vantagem pequena. Ex-tenente-coronel e admirador do venezuelano Hugo Chávez, ele resistiu a uma forte campanha da grande imprensa, alimentada por denúncias sobre seu passado militar e por declarações estapafúrdias de membros de sua família -o pai, por exemplo, defende que apenas os indígenas deveriam ser considerados cidadãos no Peru.
Já a queda de Flores tem sido atribuída, em parte, à ação de García, que não escondeu de interlocutores que o seu cenário ideal seria a disputa do segundo turno com Humala. Essa estratégia se traduziu em ataques diários contra Flores, acusando-a de "candidata dos ricos e dos poderosos". Ontem, disse que um segundo turno entre ela e Humala seria escolher entre "a ditadura militar e a ditadura do dinheiro".
Flores se defende lembrando o governo de García (1985-90), que teve alta inflação, aumento de ataques terroristas do Sendero Luminoso e crise econômica.
"García começou a atacar Flores a ponto de tirar-lhe alguns pontos. Mas esses pontos fortaleceram Humala", disse Saavedra.
Em 2001, García e Flores travaram uma batalha semelhante pelo segundo turno contra Alejandro Toledo. O ex-presidente venceu por mero 1,48 ponto percentual.


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