São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

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IRAQUE SOB TUTELA

Ex-ditador alega que xiitas sentenciados haviam tentado matá-lo e aponta crimes do atual governo

Saddam admite ter aprovado execuções

David Furst/Associated Press
Saddam Hussein acompanha mais uma sessão do julgamento, a primeira em que foi interrogado


DA REDAÇÃO

Interrogado pela primeira vez em seu julgamento, o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein admitiu ontem ter assinado as sentenças de morte de 148 homens e meninos xiitas na cidade de Dujail, em 1982, argumentando que havia provas de que os acusados estavam por trás de um plano para assassiná-lo.
Vestindo terno preto, colete da mesma cor e camisa branca sem gravata e aparentando calma, Saddam voltou a adotar o tom desafiador de outras sessões do julgamento, que já dura seis meses. Chamou o tribunal de "ilegítimo" e devolveu as acusações, afirmando que o atual Ministério do Interior é responsável por matar e torturar milhares de iraquianos.
Avisado pelo juiz Raouf Abdel-Rahman de que não deveria fazer considerações políticas, rebateu: "Não tenha medo do ministro do Interior, ele não assusta o meu cachorro", disse Saddam, em referência ao ministro Bayan Jabr, que é suspeito de comandar esquadrões da morte.
Ao ser questionado pelo promotor Jaafar al Mousawi sobre as sentenças de morte que assinou, o ex-ditador disse que apenas exerceu um direito presidencial. "Essa é uma das tarefas do presidente. Eu poderia ter questionado o julgamento. Mas estava convencido de que a prova apresentada era suficiente para mostrar a culpa na tentativa de assassinato."
Mousawi insistiu, perguntando a Saddam como ele pôde ter avaliado 148 processos em apenas dois dias antes de assinar as ordens de execução. "É um direito do chefe de Estado", limitou-se a responder o ex-ditador.
Em seguida, quando o promotor mostrou carteiras de identidade de 28 executados com menos de 18 anos, Saddam alegou que eram falsificações. "Você pode comprar identidades como essa na feira", disse. "É responsabilidade do chefe de Estado verificar as identidades dos réus e ver quantos anos eles têm?"
No julgamento em curso, iniciado em outubro de 2005, Saddam Hussein e outros sete ex-membros de seu regime são acusados da ação empreendida contra os xiitas de Dujail após uma suposta tentativa de assassiná-lo, em 8 de julho de 1982. Na retaliação, além dos 148 xiitas condenados à morte, centenas de outros foram presos e torturados, segundo a promotoria.
Na terça-feira, o tribunal que julga Saddam Hussein anunciou seu indiciamento por genocídio, pelos massacres cometidos contra a etnia curda nos anos 80 que deixaram quase 100 mil civis mortos. Um segundo julgamento será iniciado, provavelmente dentro de 45 dias, embora alguns funcionários do Judiciário questionem a capacidade do tribunal de conduzir dois julgamentos simultâneos.
Dois advogados de Saddam apontaram motivação política dos EUA no indiciamento do ex-ditador por genocídio. Em um comunicado divulgado ontem, os americanos Ramsey Clark, ex-secretário da Justiça dos EUA, e Curtis Doebbler, advogado de direitos humanos, que prestam consultoria legal à defesa, afirmam que a acusação reflete o "desejo do ocupante" de prosseguir com "julgamentos injustos para alcançar seus fins políticos".
Um grupo ligado à organização terrorista Al Qaeda divulgou ontem imagens de terroristas arrastando um corpo de uma aeronave que afirmam ser o helicóptero americano derrubado no sábado. O Exército dos EUA não confirmou a autenticidade das imagens, mas um porta-voz classificou sua divulgação de "desprezível".

Com agências internacionais

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