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Desertor diz que Farc são livres na Venezuela
Guerrilheiro, que se entregou há algumas semanas ao Exército, agora vive em albergue com a mulher e ex-combatentes
Autoridades colombianas dizem que 8.000 desertores da guerrilha marxista já aderiram ao programa oficial de desmobilização
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ
Natural do departamento de
Arauca, o ex-guerrilheiro das
Farc Ronald, 26, passou metade de sua vida alçado em armas
contra o governo, que aprendeu a odiar na infância devido
aos abusos do Exército. Há alguma semanas, repetindo uma
decisão já tomada por mais de
8.000 guerrilheiros (estima-se
que haja outros 8.000 combatendo), ele se entregou a esse
mesmo Exército por meio do
programa de desmobilização
criado pelo governo Uribe.
Havia pouco, Ronald integrava a frente 10 das Farc. Com
cerca de 1.200 homens, atua na
tumultuada e estratégica fronteira com a Venezuela, uma
imensa e pouco povoada planície. É do país vizinho, diz, que
chega parte das armas e do
apoio logístico da guerrilha. E é
ali também que ocorrem os seqüestros mais lucrativos.
O presidente Hugo Chávez
nega que a guerrilha colombiana seqüestre na Venezuela,
mas Ronald diz que, em 2000, o
governo venezuelano pagou à
frente 10 para deixar de capturar do outro lado da fronteira. O
acordo foi desfeito porque a
prática não parou: ele diz que,
nessa mesma época, fazia a segurança de um cativeiro na Colômbia de seis seqüestrados
vindos da Venezuela.
Ronald revela uma atuação
quase livre das Farc no país vizinho. Até o comandante da
frente 10, Germán Briceño Suárez, o "Granobles", estaria morando na Venezuela, de onde
comanda seus homens.
O desertor tampouco guarda
boas memórias do Exército colombiano. Segundo ele, muitos
de seus companheiros foram
mortos depois de capturados -
cita o próprio irmão. E diz que
tanto militares colombianos
quanto venezuelanos vendem
armas para a guerrilha.
Atualmente, Ronald vive
num albergue na zona sul de
Bogotá junto com cerca de outros 30 ex-guerrilheiros das
Farc e do ELN (Exército de Libertação Nacional) e seus familiares. Há uma semana, sua
companheira deu à luz gêmeas,
que nasceram prematuramente e estão hospitalizadas.
A ampla casa, num bairro de
classe média, é limpa e bem
conservada. O casal vive num
quarto com banheiro privado e
divide as outras dependências
com demais desmobilizados.
Ali, comem, têm atendimento
médico e psicológico e, principalmente, planejam o futuro.
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