São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2010

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Karzai fala em se unir ao Taleban e irrita Casa Branca

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Em ações que vêm preocupando a Casa Branca, o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, fez ao menos dois discursos críticos às pressões externas sobre Cabul nos últimos dias, chegando a afirmar que prefere "se unir ao Taleban a se dobrar à interferência internacional". O percebido afastamento chega cerca de uma semana após a primeira visita de Barack Obama como presidente dos EUA ao país.
"As palavras de Karzai foram genuinamente problemáticas", disse ontem o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. As declarações sobre o Taleban foram feitas em reunião fechada com congressistas afegãos no último sábado. Segundo participantes, o presidente afirmou que, se a interferência internacional em seu governo continuar, ele se unirá aos radicais, e o Taleban se tornará uma resistência legítima.
De acordo com os relatos, Karzai parecia nervoso e exigiu saber por que os congressistas rejeitaram reformas legais que fortaleceriam a autoridade do presidente sobre as instituições eleitorais do país. Também afirmou que já havia conversado com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, por telefone na última sexta, e não temia consequências de suas ameaças.
Membros do governo americano viram nas palavras um ato ensaiado para se afastar dos EUA aos olhos dos afegãos.
Apesar da pouca credibilidade da sugestão de que se uniria ao Taleban, os comentários de Karzai reforçaram a impressão de que o presidente, que depende dos EUA e da Otan (aliança militar ocidental) para lutar contra a insurgência e sustentar seu governo, está cada vez mais errático e incapaz de exercer autoridade.
Karzai dera início à contenda na última quinta, quando acusou o Ocidente de estar por trás das fraudes que resultaram em sua reeleição no ano passado, com o objetivo de desacreditar sua Presidência.
No domingo, Karzai fez mais declarações polêmicas ao tentar angariar apoio público para uma ofensiva planejada pelos EUA e pela Otan na Província de Candahar, a mais importante do sul do Afeganistão e lugar de origem do Taleban. Ao lado do general Stanley McChrystal, comandante das forças americanas no país, Karzai disse a líderes tribais que eles serão consultados antes que operações militares da coalizão ocidental na região sigam adiante. "Não haverá operação até que vocês estejam satisfeitos."
Ontem, porém, o porta-voz do Departamento de Estado, Phillip Crowley, afirmou que os líderes tribais "não terão poder de veto" sobre as ações.


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