São Paulo, domingo, 06 de maio de 2007

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Vida de ursinho é "Big Brother" alemão

Rejeitado pela mãe e criado por humanos, Knut vira símbolo político e fonte de negócios na Alemanha

RAUL JUSTE LORES
EM BERLIM

Rejeitado pela mãe ao nascer, alimentado com mamadeira no zoológico, cercado apenas por humanos, o filhote de urso polar Knut, cinco meses, renderia um choroso melodrama da Disney ou em Hollywood. Quase como um Mogli às avessas.
Mas, na Alemanha, onde vive no Zoológico de Berlim, a saga de Knut virou uma autêntica novela, que encanta os alemães, que não se cansam de acompanhar o passo a passo desengonçado do ursinho. Nas bancas de jornais, Knut está em todas as capas, das revistas científicas e de ecologia às de fofocas e infantis. Bonecos de pelúcia do Knut são vendidos em vários pontos de Berlim a preços de 5 a 9 (R$ 14 a R$ 26).
Há cartões de crédito, músicas, programa de tevê, um cafonérrimo boneco de porcelana, além de bonés, camisetas e cartazes, tudo com sua imagem.
Knut é o primeiro filhote de urso polar nascido no zoológico de Berlim nos últimos 30 anos. A saga do urso começou em dezembro, poucos dias após o nascimento, quando Knut e seu irmãozinho foram rejeitados pela mãe, que se negou a amamentá-los.
O irmão morreu pouco depois. Seria o mesmo o destino de Knut, que começou a ser alimentado com mamadeiras por funcionários do Zôo de Berlim. A tevê e os jornais se encarregaram de criar um Baby Big Brother em cima do filhote.
No final de março, quando foi apresentado pela primeira vez ao público, diante de 300 jornalistas e cobertura ao vivo da CNN, Knut virou uma estrela internacional.

Negócios e ciúmes
O Zoológico de Berlim registrou a marca Knut e colocou o ursinho na primeira página de seu site na internet. Knut tem blog, escrito pelos tratadores.
De 5.000 visitantes diários, o Zoológico passou a 15 mil. Nas duas primeiras semanas de exposição pública de Knut, foram 30 mil visitantes - 40 mil nos feriados da Semana Santa.
O ingresso para adultos do Zôo é de 11, a tarifa reduzida para estudantes, idosos e desempregados é de 8 e crianças de 5 a 15 anos pagam 5,50. A reportagem da Folha esteve no zoológico no mês passado. Apesar de estar em uma altura privilegiada, pouco se vê do ursinho, no meio da multidão. Mas as pessoas aplaudem qualquer pirueta do animalzinho.
Os telejornais acompanham seu passo a passo desengonçado. Já foram motivos de manchete em horário nobre sua primeira febre e as dores quando nasceram os primeiros dentes caninos. Estressado, o horário de exposição pública de Knut foi reduzido a duas horas diárias nas últimas semanas.
Ambientalistas sugeriram que o ursinho fosse sacrificado, pois não seria natural que crescesse como um bebê. Algo que causou discussão internacional. A favor de Knut, claro.

Acusado de morte
Mas, localmente, jornais berlinenses acusaram Knut de responsável pela morte da ursa panda Yan Yan, 22.
Ela morreu pouco depois do início da visitação pública de Knut. Reportagens diziam que o excesso de visitantes no zoológico teria alterado a rotina de Yan Yan. Ciúmes? Depressão? Não faltaram especulações.
O Ministério do Meio Ambiente da Alemanha anunciou que Knut será o "garoto-propaganda" da conferência da ONU sobre a diversidade biológica que acontecerá em Bonn, em maio de 2008.
Prova do apelo internacional do bebê-urso é a capa da atual edição da revista americana "Vanity Fair", a bíblia do glamour. Lá ele posa, fotografado por Anne Leibovitz, ao lado do ator Leonardo Di Caprio.
Para Jörn Ehlers, diretor do escritório alemão da organização não-governamental WWF (iniciais em inglês de Fundo Mundial para a Natureza), o sucesso de Knut é "bem vindo". "Ele chama atenção para várias espécies selvagens que estão em extinção, por culpa das mudanças climáticas."
Com apenas cinco meses de idade, a vida amorosa de Knut já é debatida na Alemanha. O zoológico da cidade de Gelsenkirchen, no vale do Ruhr, pediu que Knut seja "emprestado" para se acasalar com Lara, uma ursa polar de dois anos. Knut ainda não se pronunciou.


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