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Vida de ursinho é "Big Brother" alemão
Rejeitado pela mãe e criado por humanos, Knut vira símbolo político e fonte de negócios na Alemanha
RAUL JUSTE LORES
EM BERLIM
Rejeitado pela mãe ao nascer,
alimentado com mamadeira no
zoológico, cercado apenas por
humanos, o filhote de urso polar Knut, cinco meses, renderia
um choroso melodrama da Disney ou em Hollywood. Quase
como um Mogli às avessas.
Mas, na Alemanha, onde vive
no Zoológico de Berlim, a saga
de Knut virou uma autêntica
novela, que encanta os alemães,
que não se cansam de acompanhar o passo a passo desengonçado do ursinho. Nas bancas de
jornais, Knut está em todas as
capas, das revistas científicas e
de ecologia às de fofocas e infantis. Bonecos de pelúcia do
Knut são vendidos em vários
pontos de Berlim a preços de
5 a 9 (R$ 14 a R$ 26).
Há cartões de crédito, músicas, programa de tevê, um cafonérrimo boneco de porcelana,
além de bonés, camisetas e cartazes, tudo com sua imagem.
Knut é o primeiro filhote de
urso polar nascido no zoológico de Berlim nos últimos 30
anos. A saga do urso começou
em dezembro, poucos dias
após o nascimento, quando
Knut e seu irmãozinho foram
rejeitados pela mãe, que se negou a amamentá-los.
O irmão morreu pouco depois. Seria o mesmo o destino
de Knut, que começou a ser alimentado com mamadeiras por
funcionários do Zôo de Berlim.
A tevê e os jornais se encarregaram de criar um Baby Big
Brother em cima do filhote.
No final de março, quando
foi apresentado pela primeira
vez ao público, diante de 300
jornalistas e cobertura ao vivo
da CNN, Knut virou uma estrela internacional.
Negócios e ciúmes
O Zoológico de Berlim registrou a marca Knut e colocou o
ursinho na primeira página de
seu site na internet. Knut tem
blog, escrito pelos tratadores.
De 5.000 visitantes diários, o
Zoológico passou a 15 mil. Nas
duas primeiras semanas de exposição pública de Knut, foram
30 mil visitantes - 40 mil nos
feriados da Semana Santa.
O ingresso para adultos do
Zôo é de 11, a tarifa reduzida
para estudantes, idosos e desempregados é de 8 e crianças de 5 a 15 anos pagam 5,50.
A reportagem da Folha esteve
no zoológico no mês passado.
Apesar de estar em uma altura
privilegiada, pouco se vê do ursinho, no meio da multidão.
Mas as pessoas aplaudem qualquer pirueta do animalzinho.
Os telejornais acompanham
seu passo a passo desengonçado. Já foram motivos de manchete em horário nobre sua
primeira febre e as dores quando nasceram os primeiros dentes caninos. Estressado, o horário de exposição pública de
Knut foi reduzido a duas horas
diárias nas últimas semanas.
Ambientalistas sugeriram
que o ursinho fosse sacrificado,
pois não seria natural que crescesse como um bebê. Algo que
causou discussão internacional. A favor de Knut, claro.
Acusado de morte
Mas, localmente, jornais berlinenses acusaram Knut de responsável pela morte da ursa
panda Yan Yan, 22.
Ela morreu pouco depois do
início da visitação pública de
Knut. Reportagens diziam que
o excesso de visitantes no zoológico teria alterado a rotina de
Yan Yan. Ciúmes? Depressão?
Não faltaram especulações.
O Ministério do Meio Ambiente da Alemanha anunciou
que Knut será o "garoto-propaganda" da conferência da ONU
sobre a diversidade biológica
que acontecerá em Bonn, em
maio de 2008.
Prova do apelo internacional
do bebê-urso é a capa da atual
edição da revista americana
"Vanity Fair", a bíblia do glamour. Lá ele posa, fotografado
por Anne Leibovitz, ao lado do
ator Leonardo Di Caprio.
Para Jörn Ehlers, diretor do
escritório alemão da organização não-governamental WWF
(iniciais em inglês de Fundo
Mundial para a Natureza), o sucesso de Knut é "bem vindo".
"Ele chama atenção para várias
espécies selvagens que estão
em extinção, por culpa das mudanças climáticas."
Com apenas cinco meses de
idade, a vida amorosa de Knut
já é debatida na Alemanha. O
zoológico da cidade de Gelsenkirchen, no vale do Ruhr, pediu
que Knut seja "emprestado"
para se acasalar com Lara, uma
ursa polar de dois anos. Knut
ainda não se pronunciou.
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