São Paulo, quarta-feira, 06 de maio de 2009

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Israel tenta fazer que Irã seja centro de conversas com EUA

Presidente Peres faz primeira visita a Obama e diz que Teerã é "ameaça a todo o mundo"

Em Paris, chanceler Liberman diz que, se conversas com país sobre programa nuclear não evoluírem em 3 meses, "ação terá de ser tomada"

DE NOVA YORK

Os presidentes dos EUA, Barack Obama, e de Israel, Shimon Peres, tiveram ontem em Washington seu primeiro encontro, ocorrido sob a sombra de discordâncias de seus governos sobre as prioridades para a paz no Oriente Médio.
O novo governo israelense pressiona pelo foco na ameaça de um Irã nuclear. A Casa Branca insiste na solução de dois Estados para a questão palestina.
A questão do Irã recebeu ontem atenção de várias frentes, em preparação à reunião que Obama fará com o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, no próximo dia 18.
Peres, cuja função é mais cerimonial, afirmou que Israel deve apoiar as tentativas americanas de engajar Teerã diplomaticamente. Mas comparou os iranianos aos nazistas.
"O Irã não é uma ameaça só a Israel, mas a todo o mundo. Se a Europa tivesse lidado seriamente com Hitler [antes da Segunda Guerra], o Holocausto e a perda de milhões de vidas poderiam ter sido evitadas", disse.
Em reunião com a secretária de Estado, Hillary Clinton, Peres declarou que Israel não dará "ultimatos" aos EUA no tema. "Se querem diplomacia, espero que tenham sucesso", disse ao jornal "Haaretz".
Já o chanceler israelense, o ultranacionalista Avigdor Liberman, foi menos sutil ontem. Ele disse na França que o Ocidente deve dar três meses para tentativas diplomáticas sobre o programa nuclear. Se Teerã não responder no prazo, "uma ação terá de ser tomada", disse.
Do lado americano, uma primeira resposta ficou a cargo do secretário da Defesa, Robert Gates. Ele disse, no Egito, que não há nenhuma "barganha secreta" em curso com Teerã.
Ele externou ceticismo sobre a reação do país persa aos acenos feitos por Washington e ponderou que os EUA continuam interessados em "parar o programa de armas nucleares do Irã" e em "impedir os esforços desestabilizadores do país pela região". O Irã diz que seu programa nuclear é pacífico.

Palestinos
Sobre a questão palestina, Peres disse na saída do encontro com o Obama que "[Israel] está pronto para negociar com palestinos e com sírios". "Creio que esta é uma oportunidade que não pode ser adiada."
Ele não citou especificamente um Estado palestino. O governo de Netanyahu, no poder há pouco mais de um mês, rejeita a solução de dois Estados, norte das discussões de paz desde os Acordos de Oslo (1993). Mas Peres indicou ter afirmado a Obama que Netanyahu respeitará pactos prévios.
Obama não se pronunciou a respeito, mas seu vice, Joe Biden, disse ontem ao Comitê Americano de Assuntos Públicos de Israel que o governo está comprometido com a criação do Estado palestino.

Oposição
Peres respondeu ainda a uma entrevista concedida pelo líder do grupo radical palestino Hamas, Khaled Meshaal, ao "New York Times". Ele prometeu ao "governo americano e à comunidade internacional que seremos parte da solução" do conflito na região. O Hamas hoje controla a faixa de Gaza.
"Disse à secretária de Estado que o problema do Hamas agora pertence ao Egito, a Abu Mazen [o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas], aos palestinos, basicamente ao mundo sunita."
Outra resposta à entrevista partiu da ex-chanceler israelense Tzipi Livni, que falou ontem em Nova York em evento do think-tank Council on Foreign Affairs. "Meshaal disse que quer um Estado palestino nas áreas anexadas por Israel em 1967. Mas dará em troca o reconhecimento do direito de Israel de existir? Não, dará dez anos de trégua. Não basta."
Hoje líder da oposição em Israel, ela se recusou ontem a "criticar o governo israelense fora de Israel". Preferiu o discurso vigente, que prioriza a atenção ao Irã e afirmou crer que o encontro de Netanyahu com Obama no dia 18 não trará soluções, mas só o "início de um diálogo".0 (ANDREA MURTA)


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