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Israel tenta fazer que Irã seja centro de conversas com EUA
Presidente Peres faz primeira visita a Obama e diz que Teerã é "ameaça a todo o mundo"
Em Paris, chanceler Liberman diz que, se conversas com país sobre programa nuclear não evoluírem em 3 meses, "ação terá de ser tomada"
DE NOVA YORK
Os presidentes dos EUA, Barack Obama, e de Israel, Shimon Peres, tiveram ontem em
Washington seu primeiro encontro, ocorrido sob a sombra
de discordâncias de seus governos sobre as prioridades para a
paz no Oriente Médio.
O novo governo israelense
pressiona pelo foco na ameaça
de um Irã nuclear. A Casa Branca insiste na solução de dois Estados para a questão palestina.
A questão do Irã recebeu ontem atenção de várias frentes,
em preparação à reunião que
Obama fará com o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, no próximo dia 18.
Peres, cuja função é mais cerimonial, afirmou que Israel
deve apoiar as tentativas americanas de engajar Teerã diplomaticamente. Mas comparou
os iranianos aos nazistas.
"O Irã não é uma ameaça só a
Israel, mas a todo o mundo. Se a
Europa tivesse lidado seriamente com Hitler [antes da Segunda Guerra], o Holocausto e
a perda de milhões de vidas poderiam ter sido evitadas", disse.
Em reunião com a secretária
de Estado, Hillary Clinton, Peres declarou que Israel não dará "ultimatos" aos EUA no tema. "Se querem diplomacia, espero que tenham sucesso", disse ao jornal "Haaretz".
Já o chanceler israelense, o
ultranacionalista Avigdor Liberman, foi menos sutil ontem.
Ele disse na França que o Ocidente deve dar três meses para
tentativas diplomáticas sobre o
programa nuclear. Se Teerã
não responder no prazo, "uma
ação terá de ser tomada", disse.
Do lado americano, uma primeira resposta ficou a cargo do
secretário da Defesa, Robert
Gates. Ele disse, no Egito, que
não há nenhuma "barganha secreta" em curso com Teerã.
Ele externou ceticismo sobre
a reação do país persa aos acenos feitos por Washington e
ponderou que os EUA continuam interessados em "parar o
programa de armas nucleares
do Irã" e em "impedir os esforços desestabilizadores do país
pela região". O Irã diz que seu
programa nuclear é pacífico.
Palestinos
Sobre a questão palestina,
Peres disse na saída do encontro com o Obama que "[Israel]
está pronto para negociar com
palestinos e com sírios". "Creio
que esta é uma oportunidade
que não pode ser adiada."
Ele não citou especificamente um Estado palestino. O governo de Netanyahu, no poder
há pouco mais de um mês, rejeita a solução de dois Estados,
norte das discussões de paz
desde os Acordos de Oslo
(1993). Mas Peres indicou ter
afirmado a Obama que Netanyahu respeitará pactos prévios.
Obama não se pronunciou a
respeito, mas seu vice, Joe Biden, disse ontem ao Comitê
Americano de Assuntos Públicos de Israel que o governo está
comprometido com a criação
do Estado palestino.
Oposição
Peres respondeu ainda a uma
entrevista concedida pelo líder
do grupo radical palestino Hamas, Khaled Meshaal, ao "New
York Times". Ele prometeu ao
"governo americano e à comunidade internacional que seremos parte da solução" do conflito na região. O Hamas hoje
controla a faixa de Gaza.
"Disse à secretária de Estado
que o problema do Hamas agora pertence ao Egito, a Abu Mazen [o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas], aos palestinos,
basicamente ao mundo sunita."
Outra resposta à entrevista
partiu da ex-chanceler israelense Tzipi Livni, que falou ontem em Nova York em evento
do think-tank Council on Foreign Affairs. "Meshaal disse
que quer um Estado palestino
nas áreas anexadas por Israel
em 1967. Mas dará em troca o
reconhecimento do direito de
Israel de existir? Não, dará dez
anos de trégua. Não basta."
Hoje líder da oposição em Israel, ela se recusou ontem a
"criticar o governo israelense
fora de Israel". Preferiu o discurso vigente, que prioriza a
atenção ao Irã e afirmou crer
que o encontro de Netanyahu
com Obama no dia 18 não trará
soluções, mas só o "início de
um diálogo".0
(ANDREA MURTA)
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