|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Desistência do Irã irrita Itamaraty
Discurso oficial nega mal-estar por cancelamento da visita de Ahmadinejad, mas governo Lula fica contrariado
Mantidos, encontros de empresários ocorreram em clima de desânimo; em vez da América Latina, iraniano esteve ontem na Síria
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar do discurso conciliador, o Itamaraty está irritado
com o cancelamento abrupto
anteontem da visita que Mahmoud Ahmadinejad faria a Brasília hoje e encara a desistência
do presidente iraniano como
um marco negativo na relação
bilateral centenária.
Diplomatas dizem reservadamente que a suspensão da
viagem foi uma desfeita diante
do risco político que o governo
brasileiro assumiu ao convidar
o controverso presidente, que
questiona o Holocausto e defende varrer Israel do mapa.
Embora o convite tenha sido
feito em 2007, o Brasil só se dispôs a receber de fato Ahmadinejad depois dos recentes acenos dos EUA ao Irã.
Pelos cálculos do governo
brasileiro, o desgaste causado
pelos previsíveis protestos da
comunidade judaica e dos grupos homossexuais e a contrariedade de Israel teriam amplas
compensações comerciais e
geopolíticas. Um diplomata
brasileiro disse que Brasília
"arcou com todo o passivo sem
receber nenhum ativo".
Fontes iranianas alegaram
impossibilidade de fazer uma
viagem tão longa devido a "desdobramentos internos inesperados" que antecedem o pleito
presidencial de 12 de junho, no
qual o conservador Ahmadinejad buscará a reeleição.
Iranianos negam que a desistência esteja ligada aos protestos e dizem que Ahmadinejad
está acostumado a enfrentar
rejeição em certos países.
Em vez da América do Sul, o
presidente fez ontem uma rápida passagem pela Síria, onde se
reuniu com líderes palestinos
radicais exilados e chamou Israel de "micróbio destruidor".
O Brasil engavetou planos bilaterais, embora oficialmente
diga que a viagem foi "adiada" e
negue o desconforto.
"Para nós não tem desgaste
nenhum", disse ontem o chanceler Celso Amorim. O ministro admitiu que uma eventual
nova data para a visita só será
estudada após o pleito iraniano, mesmo tom de uma nota divulgada ontem pelo Itamaraty.
Contrariados, os empresários iranianos que estão no Brasil seguiram a agenda de encontros econômicos. Em São Paulo, houve desanimadas reuniões de negócios em um hotel.
No Equador e na Venezuela,
onde Ahmadinejad pretendia ir
após Brasília, a desistência da
viagem foi ignorada pela mídia.
Quito e Caracas, que já receberam Ahmadinejad antes, nem
sequer a comentaram.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Chanceler norte-coreano visitará Brasil Índice
|