São Paulo, quarta-feira, 06 de maio de 2009

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Geórgia debela motim e acusa a Rússia

Presidente Mikhail Saakashvili diz que "objetivo foi levante em grande escala" e pede a vizinho que "cesse provocações"

Moscou nega acusação, que diz visar desviar atenção de problemas internos; tensão remete a conflito de 2008 sobre regiões autonomistas

Irakli Gedenidze/Associated Press
Saakashvili chega a base amotinada protegido por seguranças


DA REDAÇÃO

A Geórgia disse ter debelado ontem motim em uma base militar próxima à capital Tbilisi e acusou a Rússia de estar por trás de um plano para depor o presidente do país, Mikhail Saakashvili, que vem enfrentando crescentes protestos oposicionistas. Moscou negou com veemência as alegações.
O episódio ocorre na véspera do início na ex-república soviética de manobras da Otan (aliança militar ocidental), que deverão se estender até o início de junho. O anúncio dos exercícios gerou reação da Rússia, que vê na movimentação uma "demonstração de força".
Rússia e Geórgia travaram uma guerra de seis dias em agosto do ano passado depois que Tbilisi invadiu a região autonomista da Ossétia do Sul para reprimir separatistas, gerando reação russa considerada desproporcional no Ocidente. A Rússia obteve ampla vitória e ocupou militarmente a Ossétia do Sul e outra região autonomista georgiana, a Abkházia.
Por volta do meio-dia local de ontem, o ministro da Defesa, David Sikharulidze, disse ter sido impedido de entrar na base de Mukhrovani (30 km de Tbilisi), que abriga 500 militares.
Três horas depois, o Ministério do Interior anunciou a deposição das armas pelos amotinados. Forças de segurança e 30 tanques chegaram a ser deslocados para o local, e o próprio Saakashvili negociou a rendição. Não houve feridos.
Foram detidos pelo governo o comandante da base e sete soldados, além de outros 13 civis que se somaram ao motim.
"A situação está sob controle", disse Saakashvili mais tarde em pronunciamento televisivo. "O objetivo foi criar um cenário de levante armado em grande escala e atentar contra a soberania da Geórgia e a integração atlântica e europeia", afirmou.
Desde que assumiu, em 2004, após liderar a Revolução Rosa, Saakashvili promove aproximação com o Ocidente a fim de integrar o país à Otan.
No pronunciamento de ontem, o presidente georgiano pediu para que "o vizinho do norte cesse as provocações". Não foram apresentadas provas do suposto envolvimento russo.
Desde o mês passado, Saakashvili enfrenta crescentes protestos da oposição, que o acusa de ter começado o conflito com a Rússia, cujo desfecho foi amplamente desfavorável aos georgianos, e de governar de maneira antidemocrática.
O porta-voz do Ministério do Interior, Shota Utiashvili, disse haver "informações de que os rebeldes estavam em contato direto com os russos, de quem recebiam ordens e dinheiro".
A Chancelaria russa disse que o país "não se intromete por princípio nos assuntos internos da Geórgia" e tachou de "absurdas" as acusações. Para Moscou, o episódio visa desviar a atenção da delicada condição política interna de Saakashvili.
Os EUA, que sob George W. Bush não titubearam em manifestar apoio a Tbilisi no conflito com Moscou, disseram ontem, por meio do Departamento da Defesa, acreditar que o fato se trate de "incidente isolado". O presidente Barack Obama tenta distensão com a Rússia.

Otan
O chanceler russo, Serguei Lavrov, cancelou ontem participação em encontro da Otan no fim do mês em protesto aos exercícios na Geórgia e à recente expulsão de dois diplomatas russos da sede da aliança por suposta espionagem.
O encontro seria o ponto alto da reaproximação ensaiada por Moscou e a Otan após o congelamento das relações por parte da aliança no ano passado, em protesto ao que considerou uso exagerado de força da Rússia no conflito com a Geórgia.


Com agências internacionais


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