São Paulo, sexta-feira, 06 de maio de 2011

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O FIM DA CAÇADA

EUA querem mais bases no Afeganistão

Inteligência paquistanesa identifica plano para criação de 3 novos quartéis americanos, para elevar influência

A ideia é manter grande presença perto das fronteiras de China e Índia, além de fincar o pé em área rica em gás


IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


A morte de Osama bin Laden parece ser apenas a parte mais pirotécnica de uma estratégia maior de Barack Obama para livrar-se do atoleiro Afeganistão-Paquistão.
Mas essa saída pode ser só pública. Obama deu 2014 como limite para retirar a maioria de seus 100 mil soldados do Afeganistão.
Ao mesmo tempo, segundo a Folha apurou, os serviços secretos paquistaneses já identificaram planos para a criação de três novas bases americanas em Mazar-e-Sharif, Cunduz e Candahar. Mais a expansão de Bagram.
No mapa, isso mostra um anel de projeção de poder no país e presença significativa perto das fronteiras da rival emergente China e antiga vilã Rússia. Mais à esquerda, estão as enormes reservas de gás do mar Cáspio, cujas torneiras hoje são controladas por Moscou e são sonho de consumo do Ocidente.
Restaria tirar as tropas do combate e deixar os nativos se entenderem sob a mira das armas. Há sinais disso.
A secretária de Estado, Hillary Clinton, disse que o Taleban afegão estava convidado a "abandonar a Al Qaeda" e integrar o processo político. Isso é inédito, com os EUA "aceitando" a diplomacia num momento de força.
Com uma pegadinha: o Taleban nunca foi a Al Qaeda, apesar da associação imediata no imaginário ocidental por conta de os primeiros terem hospedado os segundos de 1996 a 2001.
Mas o objetivo de Bin Laden, de guerra aos EUA e Israel, era internacionalista. O Taleban implantou um regime medieval, mas é um grupo subnacional representando uma maioria étnica (os pashtuns). Sua guerra é por poder local.

PURIFICAÇÃO
Há a rede terrorista Haqqani, considerada parte da Al Qaeda. Embora tenham contatos com a rede, na verdade eles querem se livrar tanto dos americanos quanto dos radicais estrangeiros.
Tentando "purificar" o Taleban e decapitando simbolicamente a Al Qaeda, o caminho para dizer ao público americano que a "missão está cumprida" está mais claro.
O nó se chama Paquistão. É inocência acreditar que alguém na vasta rede de informação do país não soubesse da presença de Bin Laden. É certo ter havido troca de informações sobre Abbottabad antes da operação.
Islamabad está sob forte pressão, e a aliada americana e arquirrival Índia já aproveitou para criticar sua relação com extremistas. Como se sabe, o Paquistão alimentou radicais para desgastar os indianos, e ajudou a criar o Taleban afegão para ganhar influência regional.
Sua aliança com os EUA gera mortes diárias no país, que tem forte sentimento antiamericano, o que explica as duras cobranças sobre a operação militar.


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