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CISMA DO OCIDENTE
"Foi o caos", diz o aviador Pierre Clostermann, 83; para ele, a Guerra do Iraque é a "estupidez do século"
Brasileiro relata sua participação no Dia D
BERTA MARCHIORI
DA REDAÇÃO
"Havia muito pó, tiros por toda
a parte, gente correndo de um lado para o outro, um barulho indescritível. Era uma grande desordem, o caos." Essa é a maior
recordação que o aviador Pierre
Clostermann, 83, tem do Dia D,
quando as tropas aliadas desembarcaram nas praias da Normandia, em 6 de junho de 1944.
Clostermann, que serviu na
Real Força Aérea britânica (RAF)
durante a Segunda Guerra Mundial, estava na esquadrilha que fez
a patrulha aérea das praias invadidas pelas forças inglesas.
"Eu não vi nada, eu era um peixinho num imenso mar. E tínhamos tanta coisa para fazer que
nem tínhamos tempo para nos
emocionar", disse à Folha, por telefone, de sua casa em Montesquieu, no sudoeste da França.
Apesar do nome, Clostermann
é brasileiro -nasceu em Curitiba
(PR), em 1921. Seu pai, um importante diplomata francês, era na
época cônsul-geral em São Paulo.
Clostermann foi para a França
ainda pequeno, mas, durante
uma temporada de um ano em
terras brasileiras, aos 16 anos,
aprendeu a pilotar no Aeroclube
do Brasil, em Manguinhos, no Rio
de Janeiro. Depois, formou-se em
engenharia aeronáutica e tirou
seu brevê de piloto comercial nos
EUA.
Desde então, tornou-se um dos
pilotos mais condecorados do
mundo. Na semana passada, recebeu uma equipe do 1º Grupo de
Aviação de Caça, da Força Aérea
Brasileira, que o homenageou.
O aviador foi o único veterano
brasileiro encontrado pela Folha
a ter combatido na Normandia. A
participação das tropas brasileiras
na Segunda Guerra deu-se na
frente italiana -mais de 25 mil
combatentes da Força Expedicionária Brasileira, chamados de
pracinhas, foram enviados ao país
para lutar contra o Eixo.
Questionado, Clostermann disse que não participaria das celebrações do 60º aniversário do Dia
D, que ocorrem hoje. "Eu não saio
muito de minha casa. E essas comemorações têm muita gente,
polícia por toda a parte. Eu não
gosto. Ainda mais para ver a cara
do Bush. Eu não vou."
Clostermann faz parte dos 85%
da população francesa que é crítica do governo Bush e da intervenção americana no Iraque. "Que
Deus nos livre de certos políticos
deste mundo. Mas o que podemos fazer? Eles são ricos, fortes e,
quando querem fazer uma grande
bobagem, eles fazem. E quando
não há uma, inventam."
E acrescentou: "[A Guerra do]
Iraque foi a estupidez do século e
também o conto-do-vigário do
século". "É muito pouca sorte para um grande país como a América ter um presidente que pode
contar histórias, mentir sobre
questões tão importantes."
As preocupações do aviador,
porém, não se resumem à política
internacional: "Agora são 17h55
na França, preciso ir comprar peixe antes que o porto feche".
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