São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

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Para analistas, imprensa em crise já corrige rumos

DE NOVA YORK

Para Bill Kovach, um dos principais teóricos do jornalismo nos EUA, a imprensa americana passa por mudanças profundas. Rosental Calmon Alves, professor de jornalismo da Universidade do Texas, fala em crise.
Ambos dizem, no entanto, que o ajuste de contas que pode ser lidos nas páginas dos jornais americanos -particularmente do "New York Times"- desde o ano passado, dando conta de plágios, invenções e erros, faz parte de um processo de "correção de rumo" e redefinição do papel da imprensa -positivo, portanto, ou, como diz Alves, "o copo está meio cheio".
"Todos esses escândalos já aconteciam. Não há nada de novo em plagiar um texto", declara Kovach, presidente do Comitê de Jornalistas Preocupados, organização dedicada a estudar e aperfeiçoar os padrões da profissão, e ex-diretor da sucursal de Washington do "New York Times".
A novidade, diz, está na necessidade atual da imprensa "de desenvolver um novo tipo de relação com seus leitores, mais aberta, mais transparente, trazendo o público para dentro de seu processo de tomadas de decisão".
O movimento de maior transparência responde a uma crise de identidade da imprensa, dizem, que tem tido de lidar nos últimos anos com uma revolução tecnológica na área de comunicação -internet, canais de jornalismo 24 horas- que tem efeitos sobre o modo como a notícia é feita, tanto quanto no seu acompanhamento, na sua crítica e na competição entre os veículos.
Na prestação de contas mais recente, há dez dias, o "Times" reconheceu que avaliou mal reportagens que indicavam que Saddam Hussein era capaz de produzir armas de destruição em massa e que possivelmente já as tivesse.
As armas nunca foram encontradas. A maioria das reportagens foi feita por Judith Miller, que teria entre suas principais fontes integrantes do governo americano e Ahmed Chalabi, líder iraquiano de oposição a Saddam.
No ano passado, o "Times" já viera a público no caso de invenções e plágios de Jayson Blair e no de Rick Bragg, que assinou texto apurado por outro jornalista.
Alves, que é diretor do Centro Knight para Jornalismo, organização dedicada ao aperfeiçoamento de jornalistas, diz que a crise que vê agora nos EUA é cíclica, geralmente associada a grandes mudanças tecnológicas e "excesso de comercialização" na imprensa.
Kovach afirma que o caso de Judith Miller foi motivado pela mesma razão de fundo do caso Blair: "O desejo exacerbado de bater os concorrentes", mais importante "do que se certificar de que a informação era confiável".
O caso de Larry Rohter é completamente diferente e não faz parte da crise, disse Alves. O correspondente do "Times" no Brasil escreveu há um mês reportagem sobre o consumo de álcool pelo presidente Lula. "Não é uma boa matéria e é exagerada na conclusão de que haveria uma preocupação nacional. Mas ele não inventou nada, não fabricou nada", disse Alves.



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