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EUA abrem julgamento do 11 de Setembro
Acusado de planejar atentados diz que é alvo de "inquisição americana" e pede que seja condenado à morte para se tornar "mártir"
Tribunal militar na base de Guantánamo vai julgar cinco prisioneiros acusados por 2.973 assassinatos, conspiração e terrorismo
DA REDAÇÃO
Cinco homens acusados de
terem planejado os atentados
terroristas do 11 de Setembro
compareceram ontem à primeira audiência do tribunal
militar de Guantánamo -base
militar dos EUA em território
cubano onde são mantido os
prisioneiros da "guerra ao terror". Eles respondem por 2.973
acusações de assassinato -pelos mortos nos atentados-,
conspiração e terrorismo.
Diante do tribunal, o paquistanês nascido no Kuait Khalid
Sheikh Mohammed, que desde
sua captura é o mais graduado
membro da Al Qaeda sob custódia dos EUA, cantou um hino a
Deus e disse que a pena de morte seria bem-vinda, pois faria
dele um mártir.
Mohammed se recusou a
aceitar um advogado sem treinamento na sharia (lei islâmica) e afirmou que prefere atuar
em sua própria defesa.
Segundo transcrições oficiais, Mohammed disse a um
painel de militares -que revisou o caso em 2007- ter procurado o líder da Al Qaeda, Osama
bin Laden, com a proposta de
seqüestrar aviões para atingir
prédios icônicos dos EUA.
Ontem, porém, Mohammed
levantou dúvidas sobre o material. "Cometeram muitos erros
de tradução e colocaram palavras em minha boca", afirmou
em inglês o acusado, que estudou engenharia nos EUA.
Na declaração à junta militar,
ele diz ter acompanhado o planejamento do 11 de Setembro
em detalhes e ter participado
de umas 30 conspirações -algumas das quais nunca saíram
do papel ou foram frustradas. O
canal do Panamá e o aeroporto
britânico de Heathrow estavam entre os alvos, segundo o
documento. O ex-número três
da Al Qaeda confessou também
ter participado do assassinato
do jornalista americano Daniel
Pearl, no Paquistão, em 2002.
Torturas
Calmo na maior parte da sessão, Mohammed elevou a voz
quando o juiz ordenou que os
advogados de defesa fizessem
silêncio. "Isto é uma inquisição.
Não é um julgamento. Depois
de nos torturarem, eles nos
transferiram para a terra da inquisição em Guantánamo."
Antes de serem transferidos
para a base militar, em setembro de 2006, os réus foram
mantidos em prisões secretas.
A CIA admite que Mohammed
foi submetido a simulações de
afogamento -método de tortura condenado por organizações
de direitos humanos, mas autorizado por Bush no pacote de
medidas de exceção aprovado
após os atentados de 2001.
Ali Abdul Aziz Ali, Ramzi Binalshibh, Mustafa Ahmed al
Hawsawi e Walid bin Attash, os
outros réus do processo, são
acusados de ajudar a aliciar,
treinar e financiar os 19 seqüestradores envolvidos nos ataques. É a primeira aparição pública dos detidos desde as prisões, em 2002 e 2003. Jornalistas levados pelo Pentágono a
Guantánamo contam que eles
aparentavam boa saúde.
A Promotoria quer que o julgamento comece em 15 de setembro. Os advogados dos réus
afirmam que a data foi escolhida para influenciar a eleição
presidencial, em novembro.
A organização humanitária
Human Rights Watch diz que
alguns dos advogados de defesa
não haviam encontrado seus
clientes até as vésperas da audiência. Apesar disso, o juiz responsável pelo tribunal militar
se negou a adiá-la.
Com agências internacionais
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