São Paulo, sexta-feira, 06 de junho de 2008

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EUA abrem julgamento do 11 de Setembro

Acusado de planejar atentados diz que é alvo de "inquisição americana" e pede que seja condenado à morte para se tornar "mártir"
Tribunal militar na base de Guantánamo vai julgar cinco prisioneiros acusados por 2.973 assassinatos, conspiração e terrorismo

DA REDAÇÃO

Cinco homens acusados de terem planejado os atentados terroristas do 11 de Setembro compareceram ontem à primeira audiência do tribunal militar de Guantánamo -base militar dos EUA em território cubano onde são mantido os prisioneiros da "guerra ao terror". Eles respondem por 2.973 acusações de assassinato -pelos mortos nos atentados-, conspiração e terrorismo.
Diante do tribunal, o paquistanês nascido no Kuait Khalid Sheikh Mohammed, que desde sua captura é o mais graduado membro da Al Qaeda sob custódia dos EUA, cantou um hino a Deus e disse que a pena de morte seria bem-vinda, pois faria dele um mártir.
Mohammed se recusou a aceitar um advogado sem treinamento na sharia (lei islâmica) e afirmou que prefere atuar em sua própria defesa.
Segundo transcrições oficiais, Mohammed disse a um painel de militares -que revisou o caso em 2007- ter procurado o líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, com a proposta de seqüestrar aviões para atingir prédios icônicos dos EUA.
Ontem, porém, Mohammed levantou dúvidas sobre o material. "Cometeram muitos erros de tradução e colocaram palavras em minha boca", afirmou em inglês o acusado, que estudou engenharia nos EUA.
Na declaração à junta militar, ele diz ter acompanhado o planejamento do 11 de Setembro em detalhes e ter participado de umas 30 conspirações -algumas das quais nunca saíram do papel ou foram frustradas. O canal do Panamá e o aeroporto britânico de Heathrow estavam entre os alvos, segundo o documento. O ex-número três da Al Qaeda confessou também ter participado do assassinato do jornalista americano Daniel Pearl, no Paquistão, em 2002.

Torturas
Calmo na maior parte da sessão, Mohammed elevou a voz quando o juiz ordenou que os advogados de defesa fizessem silêncio. "Isto é uma inquisição. Não é um julgamento. Depois de nos torturarem, eles nos transferiram para a terra da inquisição em Guantánamo."
Antes de serem transferidos para a base militar, em setembro de 2006, os réus foram mantidos em prisões secretas. A CIA admite que Mohammed foi submetido a simulações de afogamento -método de tortura condenado por organizações de direitos humanos, mas autorizado por Bush no pacote de medidas de exceção aprovado após os atentados de 2001.
Ali Abdul Aziz Ali, Ramzi Binalshibh, Mustafa Ahmed al Hawsawi e Walid bin Attash, os outros réus do processo, são acusados de ajudar a aliciar, treinar e financiar os 19 seqüestradores envolvidos nos ataques. É a primeira aparição pública dos detidos desde as prisões, em 2002 e 2003. Jornalistas levados pelo Pentágono a Guantánamo contam que eles aparentavam boa saúde.
A Promotoria quer que o julgamento comece em 15 de setembro. Os advogados dos réus afirmam que a data foi escolhida para influenciar a eleição presidencial, em novembro.
A organização humanitária Human Rights Watch diz que alguns dos advogados de defesa não haviam encontrado seus clientes até as vésperas da audiência. Apesar disso, o juiz responsável pelo tribunal militar se negou a adiá-la.


Com agências internacionais


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