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Justiça turca impede o véu e pode vetar maior partido
Alunas muçulmanas são de novo proibidas de cobrir a cabeça em universidades
Corte Constitucional abre precedente para proibir partido islâmico moderado do premiê Erdogan, acusado de ferir a laicidade do Estado
Umit Bektas/Reuters
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Turcas com os véus muçulmanos, proibidos em universidades, andam no centro da capital Ancara
DA REDAÇÃO
A Turquia começou ontem a
mergulhar em grave crise com
a decisão da Corte Constitucional de proibir que universitárias assistam aulas com a cabeça coberta pelo véu islâmico.
Os mesmos 11 juízes daquele
tribunal devem em breve julgar
se colocam na ilegalidade o AK
(Partido da Justiça e Desenvolvimento), pró-europeu e de linha muçulmana moderada, a
que pertencem o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan e
o presidente Abdullah Gül.
Nos dois casos, a Procuradoria evocou a violação aos princípios laicos que devem reger o
Estado. O Judiciário e as Forças Armadas formam o núcleo
duro de defesa da laicidade, imposta na primeira metade do
século 20 pelo ditador Mustafá
Kemal Ataturk (1923-1938),
que procurou construir um novo país mais ocidentalizado sobre as ruínas políticas do Império Otomano.
Fundamentalismo laico
Os "kemalistas" dos tribunais e quartéis têm como principal aliado o Partido Popular
Republicano, que é no entanto
minoritário. Nas eleições do
ano passado o AK recebeu 47%
dos votos. Ele foi criado há seis
anos e há cinco está no poder.
O Judiciário turco já havia
considerado ilegal o uso do véu
islâmico. A norma havia sido
reiterada em 1980 pelo regime
nascido de golpe militar. Em fevereiro último, para contornar
a proibição, o AK aprovou
emenda constitucional que facultava o uso do véu, mas só em
instituições de ensino superior,
já que nas escolas secundárias e
repartições públicas ele continuaria proibido.
Em sua decisão de ontem, a
Corte Constitucional considerou, por 9 votos a 2, que a mudança na Constituição feria o
princípio de estrita separação
entre mesquitas e Estado.
Foi sob o argumento de que
era preciso preservar esse princípio que o procurador Abdurrahman Yalcinkaya pediu, em
março, que o partido majoritário fosse colocado na ilegalidade, com a paralela cassação dos
direitos políticos de 74 dirigentes, inclusive o premiê e o presidente. Especialistas ouvidos
pela Reuters não acreditam na
cassação da cúpula do Estado.
Eles acham que Erdogan criará
um novo partido e manterá a
hegemonia política na Turquia,
onde 99% são muçulmanos.
Em favor de uma solução
"moderada" -cassar o partido,
mas não seus dirigentes- há o
fato de a Turquia ser candidata
à União Européia. Ainda ontem, Olli Rehn, alto funcionário
da UE que monitora as negociações, disse que elas seriam
suspensas "em caso de violações graves e persistentes das
liberdades e da democracia".
Com agências internacionais
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