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34 morrem em protesto indígena no Peru
Confronto motivado por repúdio a decretos que facilitam exploração da selva vitimam 25 manifestantes e 9 policiais
Presidente García diz que
autoridade cumpriu dever; indígenas fazem 38 policiais reféns e ameaçam queimar trecho de oleoduto no norte
DA REDAÇÃO
Ao menos 34 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas
ontem, num confronto entre a
polícia do Peru e manifestantes
indígenas que bloqueavam
uma estrada no norte do país. A
interrupção é parte de uma série de protestos contra decretos do governo Alan García que
facilitam a exploração de petróleo e minério na selva peruana.
No episódio mais sangrento
do governo conservador García, nove policiais, segundo o
Ministério do Interior, e ao menos 25 indígenas morreram, segundo o Colégio de Médicos da
região (Estado) do Amazonas.
O embate se deu em uma área
conhecida como "Curva do
Diabo", próximo da cidade de
Bagua ( a 710 km de Lima).
Em resposta, um grupo de
manifestantes fez 38 policiais
reféns e, até fechamento desta
edição, ameaçava matá-los se o
governo não atender suas reivindicações. Eles prometem
pôr fogo em uma estação de um
oleoduto da estatal Perupetro.
"O governo tentou até não
mais poder o diálogo. Até não
mais poder", justificou-se o primeiro-ministro Yehude Simon,
que havia montado, na semana
passada, mesa de negociação
com as lideranças indígenas para tentar conter os protestos
em 5 de 25 regiões do país.
O longo conflito entre associações indígenas e o governo
García recrudesceu em abril,
quando o movimento indígena
convocou mobilização nacional, que vem bloqueando intermitentemente estradas, aeroportos e ameaçando cortar dutos de gás e petróleo.
O objetivo dos manifestantes
é conseguir a revogação de um
conjunto de decretos de maio
de 2008, estabelecidos com o
objetivo de facilitar investimentos e exploração de recursos naturais na selva. Em agosto passado, protestos indígenas
pressionaram o Congresso, que
invalidou um deles.
García baixou as normas
apoiado em poderes especiais
dados pelo Congresso para que
ajustasse leis do país ao TLC
(Tratado de Livre Comércio)
com os Estados Unidos.
Para ativistas indígenas e
analistas, porém, os decretos
violam pactos internacionais
sobre direitos dos povos indígenas adotados pelo Peru -uma
vez que a população local não
foi consultada sobre eles.
Helicóptero e Sendero
"Quero responsabilizar o governo Alan García por ordenar
o genocídio. Eles estão atirando
balas em nós como animais",
disse Alberto Pizango, presidente da Adesp (Associação Interétnica de Desenvolvimento
da Selva Peruana), que congrega grande parte das 65 etnias da
região de selva do Peru.
Segundo Pizango, os policiais
que tentavam desbloquear a estrada Fernando Belaunde
Terry -a principal das artérias
que ligam a selva peruana ao
Pacífico- atiraram contra os
manifestantes a bordo de helicópteros. O governo nega.
A ministra do Interior, Mercedes Cabanillas, disse que os
indígenas atiraram primeiro.
Afirmou que havia integrantes
do grupo guerrilheiro Sendero
Luminoso infiltrados no protesto. Após o confronto, prédios públicos e comerciais foram saqueados em Bagua.
O presidente García acusou
Pizango de "delinquência" e
disse que os policiais cumpriram seu dever. Em meados do
mês passado, Pizango conclamou os povos indígenas à "insurgência" -um movimento
criticado inclusive por ativistas- e está sendo processado
pelo Ministério Público.
"Isso só interessa às potências estrangeiras petroleiras
que querem manter o país como comprador de petróleo.
Não quer que desenvolvamos
nossas riquezas", disse García,
cujo discurso tem inflado a divisão peruana entre a população da costa, mais rica, e a da
selva e dos Andes, onde se concentram os 36% da população
abaixo da linha de pobreza.
O presidente tem apenas
30% de aprovação nacionalmente, puxada pela litorânea
Lima e pelos mais ricos. O índice chega a menos de 5% nas
montanhas e na selva.
García decretou, no mês passado, estado de emergência em
cinco regiões, o que permite o
emprego das Forças Armadas
para conter as manifestações.
Os protestos obrigaram a estatal Perupetro a suspender
temporariamente o único oleoduto que leva combustível da
selva norte até a costa. A argentina Pluspetrol parou sua produção no norte por falta de capacidade de armazenamento.
Com agências internacionais
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