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Governo turco vira herói para população de Gaza
Discurso anti-Israel de Ancara e ajuda de ONG causam onda de admiração
Líder do Hamas aparece em sermão ladeado por bandeira da Turquia, que toma para si papel que já foi de árabes
DO ENVIADO ESPECIAL A GAZA
Quase um século após o
fim do Império Otomano, as
bandeiras da Turquia voltaram a dominar a paisagem da
faixa de Gaza.
Ao levantar a voz contra o
bloqueio israelense ao território, o governo turco passou
a ser visto como o principal
patrono da causa palestina,
assumindo um papel que por
décadas foi desempenhado
pelos países árabes.
Em seu sermão semanal,
anteontem, o chefe do governo do Hamas em Gaza, Ismail
Haniyeh, era ladeado por
uma bandeira palestina e outra da Turquia, numa clara
demonstração da aliança forjada pelos últimos eventos.
"Sua mensagem chegou
de forma clara", disse Haniyeh, dirigindo-se aos integrantes da frota Gaza Livre,
patrocinada pela organização de caridade turca IHH.
"Vocês romperam uma fronteira política e deram início
ao fim do bloqueio a Gaza."
A Turquia tem despertado
admiração nos palestinos pelas críticas ferozes do premiê
Recep Tayyip Erdogan a Israel e pelas ameaças veladas
de romper relações diplomáticas com o país.
Em Gaza, ninguém incorpora com mais intensidade
essa admiração do que o chefe do escritório local da IHH,
Mehmet Kaya, que passou a
receber tratamento de herói
nacional aonde quer que vá.
Em entrevista à Folha, Kaya disse que sua organização
tem planos ambiciosos de
ajuda aos palestinos. Em
2009, a verba da IHH para
projetos humanitários em
Gaza chegou a R$ 45 milhões, e o montante deste
ano deve dobrar. Os recursos, garante Kaya, vêm inteiramente de doações.
"Queremos melhorar a vida da população de Gaza,
mas nosso principal objetivo
é romper o bloqueio", diz.
TERRORISMO
Fundada em 1992 com o
propósito de prestar assistência a populações atingidas por crises humanitárias,
a IHH é acusada por Israel de
laços com o terrorismo.
A alegação foi corroborada
por Jean-Louis Bruguière, ex-chefe da unidade de contraterrorismo do Judiciário francês. Segundo ele, que investigou o grupo nos anos 90, a
IHH manteve "clara ligação"
com grupos terroristas, incluindo a Al Qaeda.
Hoje a IHH tem relações
calorosas com os líderes do
Hamas, que no passado esteve por trás de dezenas de
atentados contra civis em Israel. Mesmo com os indícios
apontados por Bruguière e
outras fontes europeias,
Mehmet Kaya diz que as acusações fazem parte da propaganda israelense.
"Estamos presentes em 112
países, mas só um país nos
acusa de terrorismo", diz ele.
"O maior grupo terrorista do
mundo é Israel, que roubou
as terras dos palestinos e os
mantém presos em Gaza."
O grupo ganhou projeção
atuando no vácuo de recursos em Gaza. No início do
ano, quando entraram com
um comboio humanitário pelo Egito, ativistas da IHH distribuíram dinheiro vivo. De
uma tacada, alguns receberam mil euros, o equivalente
a quatro meses de salário de
um funcionário público palestino.
(MARCELO NINIO)
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