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Hamas admite que túneis são utilizados para tráfico de armas
DO ENVIADO ESPECIAL A GAZA
Ao fazer a curva para entrar numa das estradas poeirentas de Rafah, quase na
fronteira com o Egito, o motorista alerta a reportagem da
Folha: "Estamos entrando
na área mais perigosa da faixa de Gaza".
O perigo vem de cima, e o
alvo é subterrâneo. Em Rafah
funciona a vasta indústria de
túneis de Gaza, que com frequência é bombardeada pela
aviação israelense para impedir o tráfico de armas para
o Hamas.
Nos três anos em que Israel apertou o bloqueio ao
território palestino, os túneis
se transformaram num canal
econômico vital, que abastece Gaza com todo tipo de
mercadoria.
Inclusive armas, admitiu à
Folha o porta-voz do governo Taher Alnonno, sem hesitar em confirmar a justificativa israelense para bombardear os túneis.
"Estamos em guerra com
Israel, precisamos de armas", diz Alnonno, que sorri
ao minimizar o tráfico. "O
que entra são armas leves,
como [fuzis] Kalachnikovs,
foguetes pequenos e RPG [arma antitanque]. Não são armas nucleares, tanques, ou
qualquer coisa que se compare ao poderio de Israel."
É difícil determinar com
precisão o número de túneis
em operação, mas a estimativa mais conservadora fala
em ao menos 700.
Na região de Rafah, fortemente vigiada por guardas
do Hamas, a paisagem é dominada por dezenas de montes de areia e toldos de plástico branco.
Cada uma das tendas tem
um túnel, de propriedade
particular, mas que funciona
sob inspeção do Hamas. Operadores de túneis contam
que a prefeitura de Rafah, ligada ao Hamas, cobra uma
taxa pela operação.
"Não somos responsáveis
pelos túneis, mas fazemos
um controle de qualidade",
explica Alnonno, "já que
muitos alimentos chegam
com o prazo de validade vencido e podem representar um
risco à saúde".
Nos últimos anos, a industria de túneis se sofisticou cada vez mais. Antes eles serviam para contrabandear
veículos desmembrados, que
eram montados em Gaza.
Hoje em dia, algumas passagens subterrâneas são tão
amplas que os carros chegam
inteiros. É comum ver modelos japoneses e coreanos circulando ainda com os assentos cobertos de plástico.
Nem a aviação israelense
nem a barreira subterrânea
de aço que o Egito começou a
construir no início do ano na
fronteira foram capazes de
parar a indústria dos túneis,
principal setor econômico de
Gaza.
"Os bombardeios têm hora
certa e os israelenses sabem
por onde passam as armas",
minimiza Mohammad Weda,
que importou um zoológico
inteiro pelos túneis.
(MN)
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