São Paulo, domingo, 06 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Hamas admite que túneis são utilizados para tráfico de armas

DO ENVIADO ESPECIAL A GAZA

Ao fazer a curva para entrar numa das estradas poeirentas de Rafah, quase na fronteira com o Egito, o motorista alerta a reportagem da Folha: "Estamos entrando na área mais perigosa da faixa de Gaza".
O perigo vem de cima, e o alvo é subterrâneo. Em Rafah funciona a vasta indústria de túneis de Gaza, que com frequência é bombardeada pela aviação israelense para impedir o tráfico de armas para o Hamas.
Nos três anos em que Israel apertou o bloqueio ao território palestino, os túneis se transformaram num canal econômico vital, que abastece Gaza com todo tipo de mercadoria.
Inclusive armas, admitiu à Folha o porta-voz do governo Taher Alnonno, sem hesitar em confirmar a justificativa israelense para bombardear os túneis.
"Estamos em guerra com Israel, precisamos de armas", diz Alnonno, que sorri ao minimizar o tráfico. "O que entra são armas leves, como [fuzis] Kalachnikovs, foguetes pequenos e RPG [arma antitanque]. Não são armas nucleares, tanques, ou qualquer coisa que se compare ao poderio de Israel."
É difícil determinar com precisão o número de túneis em operação, mas a estimativa mais conservadora fala em ao menos 700.
Na região de Rafah, fortemente vigiada por guardas do Hamas, a paisagem é dominada por dezenas de montes de areia e toldos de plástico branco.
Cada uma das tendas tem um túnel, de propriedade particular, mas que funciona sob inspeção do Hamas. Operadores de túneis contam que a prefeitura de Rafah, ligada ao Hamas, cobra uma taxa pela operação.
"Não somos responsáveis pelos túneis, mas fazemos um controle de qualidade", explica Alnonno, "já que muitos alimentos chegam com o prazo de validade vencido e podem representar um risco à saúde".
Nos últimos anos, a industria de túneis se sofisticou cada vez mais. Antes eles serviam para contrabandear veículos desmembrados, que eram montados em Gaza.
Hoje em dia, algumas passagens subterrâneas são tão amplas que os carros chegam inteiros. É comum ver modelos japoneses e coreanos circulando ainda com os assentos cobertos de plástico.
Nem a aviação israelense nem a barreira subterrânea de aço que o Egito começou a construir no início do ano na fronteira foram capazes de parar a indústria dos túneis, principal setor econômico de Gaza.
"Os bombardeios têm hora certa e os israelenses sabem por onde passam as armas", minimiza Mohammad Weda, que importou um zoológico inteiro pelos túneis. (MN)


Texto Anterior: Governo turco vira herói para população de Gaza
Próximo Texto: Foco: Zoo inteiro chegou por túneis cavados sob fronteira egípcia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.