São Paulo, domingo, 06 de junho de 2010

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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

Guerras modernas irracionais


Com o fim da Guerra Fria, deixou de haver razão para uma aliança incondicional de Estados Unidos e Israel


QUANDO COMPARADOS com os impérios da Antiguidade, os Estados-nação representam um grande avanço para a humanidade, mas não devemos nos esquecer que nasceram do capitalismo e da guerra.
Os monarcas absolutos dos dois primeiros Estados-nação modernos -o Reino Unido e a França- se aliaram à burguesia nascente e foram financiados por ela com o pagamento de impostos e a oferta de empréstimos para ampliar as fronteiras do país e assim assegurar um mercado interno para a indústria.
Os Estados Unidos fizeram o mesmo no século 19.
Entretanto, depois que a democracia se impôs no mundo rico e depois da irracionalidade das duas grandes guerras (que foram um jogo de soma menor do que zero para os países europeus envolvidos), esses países compreenderam que as guerras haviam se tornado irracionais e construíram a União Europeia.
Entretanto, talvez porque os Estados Unidos se beneficiaram com essas duas guerras, eles continuam a acreditar nelas como forma não mais de expansão de suas fronteiras, mas de sua "influência" e como garantia antecipada de sua ""segurança nacional".
Nesse sentido, no quadro da Guerra Fria, aliaram-se com diversos países. Entre suas alianças, a mais duradoura e a mais perigosa foi a aliança com Israel -um país que continua empenhado em ampliar pela força seu território.
Uma ampliação pequena, mesquinha, mas que estimula o terrorismo e mantém a região em estado de guerra.
Nesta semana, Israel praticou mais uma violência, desta vez contra um comboio de barcos fretados por ativistas em favor da Palestina.
O mundo inteiro condenou o ato, o primeiro-ministro da Turquia -um tradicional aliado de Israel- identificou-o como a ação de um "Estado terrorista".
O Conselho de Segurança da ONU vai novamente ser chamado, mas afinal nada acontecerá, porque os Estados Unidos vetarão qualquer medida contra Israel.
Os Estados Unidos criaram para si próprios uma armadilha no Oriente Médio ao não perceberem que, com o fim da Guerra Fria, deixou de haver razão para uma aliança incondicional com Israel.
É compreensível que defendam Israel contra grupos islâmicos radicais, mas ao verem nessa aliança uma ponta de lança para alcançarem o domínio sobre a região, os Estados Unidos continuam a acreditar que o poder militar e a ameaça de retaliações ainda são a melhor forma de garantir seus interesses em região rica em petróleo.
O Brasil, em conjunto com a Turquia, deu um passo importante no sentido da paz ao promover um acordo que reduziu a probabilidade de se adotarem sanções ao Irã e dificultou a ameaça muitas vezes anunciada de bombardeio das instalações nucleares iranianas, mas, em relação ao problema Israel, não tem meios de intervir.
Como, então, evitar a escalada no Oriente Médio?
A única solução é que os Estados Unidos enfim compreendam que, no mundo moderno, o tempo das guerras iniciadas por grandes países já passou.
E que a democracia lograda livremente por cada país e medidas policiais adotadas em conjunto com eles são a melhor maneira de evitar o terrorismo e alcançar segurança nacional.


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